terça-feira, 15 de abril de 2008

FLORISVALDO MATTOS - A CABRA

Ilustração: Calasans Neto


A CABRA


Talvez um lírio. Máquina de alvura
sonora ao sopro neutro dos olvidos.
Perco-te. Cabra que és já me tortura
guardar-te, olhos pascendo-me vencidos.

Máquina e jarro. Luar contraditório
sobre lajedo o casco azul polindo,
dominas suave clima em promontório;
cabra: o capim ao sonho preferindo.

Sulca-me perdurando nos ouvidos,
laborado em marfim — luz e presença
de reinos pastoris antes servidos —,

teu peito residência da ternura
onde fulguras na manhã suspensa:
flor animal, sonora arquitetura.


FLORISVALDO MATTOS

Um comentário:

wwww.viriatogaspar.com.br disse...

Soberbo soneto de um mestre do ofício. O artesanato verbal se harmoniza integralmente com a pujança do que é dito. Irretocável. Essa cabra voa em nossa alma.