A CABRA
Talvez um lírio. Máquina de alvura
sonora ao sopro neutro dos olvidos.
Perco-te. Cabra que és já me tortura
guardar-te, olhos pascendo-me vencidos.
Máquina e jarro. Luar contraditório
sobre lajedo o casco azul polindo,
dominas suave clima em promontório;
cabra: o capim ao sonho preferindo.
Sulca-me perdurando nos ouvidos,
laborado em marfim — luz e presença
de reinos pastoris antes servidos —,
teu peito residência da ternura
onde fulguras na manhã suspensa:
flor animal, sonora arquitetura.
FLORISVALDO MATTOS
FLORISVALDO MATTOS
Um comentário:
Soberbo soneto de um mestre do ofício. O artesanato verbal se harmoniza integralmente com a pujança do que é dito. Irretocável. Essa cabra voa em nossa alma.
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