sábado, 25 de julho de 2009

JIVM - RASTROS


RASTROS

O poeta traz os segredos da poeira.
Em sua mão pulsa o nó do espanto:
um sorriso bêbado de eternidade:
um poema.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

Hoje, 25 de julho, é o dia nacional do escritor. Apesar de não termos muito o que comemorar, fica aqui este poema que diz da minha compreensão do ato de escrever, sobretudo, poesia.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

VERÔNICA DE VATE - RENATA BELMONTE

Foto: Lucas

RENATA BELMONTE nasceu em Salvador em 13 de março de 1982 e é advogada e escritora. Autora dos livros de contos Femininamente (Casa de Palavras, Prêmio Braskem Arte e Cultura 2003), O que não pode ser (EPP, Prêmio Cultura e Arte Banco Capital 2006) e Vestígios da Senhorita B (PP5, Coleção Cartas Bahianas, 2009). Participou das antologias Outras moradas (EPP, 2007), Antologia Sadomasoquista da Literatura Brasileira (Dix, 2008) e Antologia de contistas baianas (no prelo). Já colaborou com diversas revistas literárias como Iararana, Bestiário, Rascunho, Verbo 21, Cronópios e Vaia. Em 2008, foi uma das escritoras estudadas no livro Quem conta um conto: estudos sobre contistas brasileiras estreantes nos anos 90 e 2000, organizado por Helena Parente Cunha e escrito por doutorandos da UFRJ. Atualmente, reside em São Paulo onde é aluna do Mestrado em Direito e Desenvolvimento da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Mantém o blog: http://www.vestigiosdasenhoritab.blogspot.com/

*
Renata Belmonte vai apresentar-se, no próximo sábado, dia 25 de julho, no projeto Travessia das Palavras, na cidade de Jequié, Bahia, coordenado por Leonam Oliveira e José Inácio Vieira de Melo. O evento vai contar com a participação especial do Trio Arguidá, grupo de jazz liderado por Bené Batera, baterista e secretário de cultura de Jequié.


PEQUENOS CONTOS SOBRE A FUGA DA SENHORITA B.


Com a mala cheia de insultos, ela guardou as dores no corpo e vestiu um poema barato, herança daquilo que nunca foi. Já de costas para o mundo, sem conto, romance ou novela, percebeu: restava-lhe abrir janelas. Era certo que, em algum lugar, uma nova vida sua amanheceria.

Escândalos dentro de quartos.Sonhos antes dourados. Era melhor existir assim: apenas linhas retas, traços em retratos. E se argumentassem que fugir não era necessário, responderia: tudo que desejo é ser passado. Apreciava estar perdida entre letras e mofos. Estrangeiro é aquele que dorme por toda a vida na cama dos outros.

Sem figurino não há personagem. Ajoelhada, volta os olhos para o céu e pergunta: por que afinal me abandonaste?A partir daquele dia ganharia um corpo para que fossem colocadas dores como vestígios. E, na semana seguinte, fugiria. Usando seu melhor vestido.

Foi dura a sua viagem: bilhetes perdidos, medo de nunca fazer parte. Um corpo dolorido: a pior das bagagens. Mas sabia que haveria o momento em que se tornaria protagonista de uma história em que o tempo não fosse inimigo. Circularia livre e feliz.Pelas páginas de um livro.

Com os anos, as rezas e buscas cessaram. Passaram a falar dela como se fosse ficção, não apenas um número na estatística de desaparecidos. Mas ninguém jamais esqueceu o que no pedaço de papel ficou para sempre escrito. Não, não há sonho que morra sem deixar vestígio.


RENATA BELMONTE

CANTINHO DO CONTO: A MESMA DE TEMPOS ATRÁS

Renata Belmonte


Se você me perguntasse, responderia assim: cresci observando minha mãe colecionar vestidos para o grande dia, a data do retorno que nunca aconteceu. Às vezes, me escondia em seu quarto, apenas para tentar ser parte de seus delírios, cada roupa uma nova dramatização para o fim da longa espera. Vestir-se significava experimentar um pouco da felicidade projetada em seus sonhos. Quando morreu, tive dúvidas sobre qual deles ela deveria usar. Optei pelo que comprou por último, um longo rosa seco com leves bordados em prata. Imaginei que em seu enterro, ela talvez conseguisse o que tanto almejava. Ledo engano. Em cada palavra sentida, a ausência do único que importava. De preto, despi-me para sempre da esperança de qualquer aviso. E fiz a escolha pela nudez, transformando-a em profissão.
Apenas se você me perguntasse, eu responderia. Convivo bem com silêncios, com a falta de explicações. Fui menina criada em cantos, tranças feitas pelas empregadas, órfã de pai, intervalo incômodo da vida da mãe. Por isso, diariamente, sou abandonada e não me importo.
Eles chegam sorrindo, camisas impecavelmente passadas, são suas mulheres que os vestem para nossos encontros. Fazem da mesma forma com as crianças, quando as arrumam para as festinhas de aniversário dos colegas. É uma longa tradição. Crescem acostumados a mandar, exigir, dispensar. Presto atenção em seus rostos redondos, escorregadios. Não, não há qualquer vestígio de remorso ou culpa. No final, quando já estão satisfeitos, colocam o dinheiro em cima da cômoda e vão embora agradecendo, repetindo as mesmas palavras que diriam para qualquer vendedor de cigarros. Alguns, enquanto caminham, ainda olham para trás, têm esperança de compreender o que lhes falta. Outros preferem ignorar a existência de razões. Em nenhum caso, sinto-me magoada ou comovida. Não me cabe essa parte. Compreendo muito bem o papel que represento na vida das pessoas.
A amante. Nada mais ou menos que isso.
Confesso que sabia que voltaria a me procurar. Esta porta sempre esteve aberta. Muitos são os que passam ou passaram por ela. Seria estranho que logo você fosse a exceção, o vácuo da minha história. Guardo ainda, num álbum de aspecto infantil, aquela nossa fotografia. Aquela em que estamos abraçados e felizes. Quando não me sinto vigiada, gosto de revê-la. Um dia feliz, eternizado em um pedaço de papel. Às vezes, chego até a recriar as sensações daquele momento. No entanto, não pense que faço o mesmo que minha mãe. Já lhe disse, muitos são os que deitam e deitaram na minha cama.
Sim, durante esses anos, estive lhe aguardando. Porque a sua vinda, o nosso encontro era uma coisa natural, previsível.
Apenas isso. A amante.
Olhe para mim. Não sou a mesma de tempos atrás.
Convido-o para entrar.
Novamente, nós.
Você, sapato preto de cromo alemão, passos fortes, mesmo perfume daqueles tempos. Reconheço-o, de pronto, através dos sentidos menos festejados. Chegou a hora. Sou golpeada, estremeço por dentro, fico gelada, sinto medo. No entanto, não demonstro qualquer surpresa ou ansiedade. Não me permito esse tipo de atitude insensata. Minha mãe dizia que chegaria a época em que eu a compreenderia, saberia o que era amar e sofrer. Sim, tenho esse homem na minha frente, só que não lhe concedo tamanha liberdade, possuo um enorme respeito por mim. Estou numa camisola clara, sento-me à beira da cama. Duas taças de vinho nos esperam, na pequena mesa de sempre. Peço que me informe sobre suas fantasias e desejos mais secretos. Ignoro-o quando me pergunta sobre as minhas preferências. Levanto-me, acendo um cigarro e fumo de forma sensual, como faziam as mulheres elegantes de antigamente, as mesmas que sempre ameaçavam minha mãe, em seus devaneios mais angustiantes.
Ela sempre soube que eu seria assim. Desde criança, quando me escondia em vestidinhos cor-de-rosa e repreendia a minha maneira de falar, já tinha certeza de que eu pertenceria a outra categoria.
Brindamos. Nossos cálices se chocam, interagem. Três goles para jamais esquecer. Uma nova chance. Nossos corpos, finalmente, se aproximam. E não há mais nada, além da pequena distância existente entre nós.
Faz silêncio, no universo. Em pouco tempo, começará mais um espetáculo de amor, vida e destruição. De longe, sei que alguns rezam para que nada de mal ocorra. Julgam o que sentimos, condenam meu comportamento. Outros, sim, aqueles que já viveram isso, aguardam ansiosos o momento do encontro, desejam reviver seus sentimentos pretensamente acabados. Tenho consciência de que com minha mãe é diferente, ela está em posição única, híbrida, confusa, dramática. Receia que eu consiga realizar o que ela sempre quis. Meu amante está diante de mim, meus anos de espera não foram em vão. Consigo vê-la, ao nosso lado, parada, observando dividida, cada ato, cada segundo. Sei que não chora, seu desespero é mudo, como o das santas arrependidas que povoavam o altar de nossa velha casa. Imagino que tenha uma vela nas mãos, apesar de não haver clareza sobre no pedido. Encontra-se em posição única, híbrida, confusa, dramática. Não sabe ao certo o que é mais forte, o amor, a inveja, a dor, o desejo ou o medo. Prevê que não haverá final feliz, em nenhuma das hipóteses. Seu vestido é longo, rosa seco com leves bordados em prata. Está pronta. Gostaria que tudo tivesse sido diferente em sua vida. No entanto, não há mais espera, chegou a hora. A menina cresceu, ganhou seios do mesmo tamanho dos seus, tem seus olhos, são seus olhos que estão fixos nos de seu amante. Apenas lhe resta aguardar. E, de alguma forma, torcer. Porque, afinal de contas, ainda são uma família.
Ponho meus lábios à disposição dos seus. Abro minha boca lentamente. Nossas línguas se acham. Nos beijamos.
Passamos a reconhecer nossos corpos. Sim, não sou a mesma de tempos atrás.
As roupas como tapetes, as peles nuas, juntas, desejando ser apenas uma. Toda a minha vida eu esperei por esse dia. O retrato, eles sorrindo, abraçados e felizes. Sinto-me muito mais bela quando estou perto de você. Ele sobre ela, o toque, as carícias. Os beijos, as línguas em choque, o hálito a denunciar seu passado, leve sabor do vinho, a bebida dos amantes. Como num filme. O cheiro, o cheiro dele, de seu perfume, de sua pele, o perfume da pele, o cheiro da pele dela e dele, não há mais como distinguir, individualizar. Vamos, faça o que quiser, meu corpo lhe pertence. Jamais se deve dizer isso a um homem, ela sabe, mas, desta vez, não se importa. As partes, os olhos fechados, os sussurros, gemidos, a intensidade, força, a força dos longos anos de espera, o prazer. O que Deus uniu, ninguém separa.
Desde que nasci, já estava escrito. Minha mãe sempre previu que, um dia, isso iria acontecer.
Ouço os latidos dos cães, logo compreendo: transmitem a notícia pela noite. Estamos em silêncio, todas as palavras foram mortas. Você permanece inerte, parado, não pronuncia qualquer gesto de carinho. É esse deserto que me faz, subitamente, perceber o motivo de sua demora: nos encontramos em lados distintos da cama. Como em todas as nossas vidas, nas quais pertencemos a lados opostos do mundo.
Sofro, sofro, sofro. Nem o relógio se compadece. Insiste em me dizer, repetir que, em alguns minutos, você irá embora. Do mesmo jeito, da mesma maneira que fazem todos os outros.
Procure saber qualquer coisa sobre mim, como foram os meus anos, se sou feliz, se tive um cachorro, se me formei, como entrei para essa vida, qualquer coisa, o mínimo, qualquer coisa.
São os cães, em seus uivos noturnos, que me avisam, relembram: a amante. Nada mais ou menos que isso.
E apenas se você me perguntasse, eu responderia.
Enquanto se veste, passo a me lembrar de minha mãe experimentando seus vestidos, glória e decadência, em questão de minutos. Estamos no final do grande dia, da data do retorno. Não há mais dramatização para o fim da longa espera. Ela se encontra rente à cama, linda em seu vestido rosa seco com leves bordados em prata. Finalmente chegou a boa hora.
Sim, pai, agora, você vai nos pagar.
Você coloca a quantia acertada sobre a cômoda. Acompanho-o até a porta. Vejo ir, sem olhar para trás, meu primeiro amante, aquele que me privou de tanta coisa, aquele que fez com que minha mãe, eternamente, me culpasse pelo seu abandono.
Trouxe-o, de volta, mãe. Pare de me atormentar. Fique em paz. Descanse em paz.
Como não estou sendo mais vigiada, revejo a fotografia mais bonita que já vi. Um dia de sol, no parque. Nós, abraçados e felizes. Não tenho certeza. Caso seja realmente você, os anos lhe foram bastante violentos. Aliás, para todos nós.


Renata Belmonte é advogada e escritora. Publicou os livros de contos Femininamente (Casa de Palavras, Prêmio Braskem Arte e Cultura 2003), O que não pode ser (EPP, Prêmio Cultura e Arte Banco Capital 2006) e Vestígios da Senhorita B (PP5, Cartas 2009) e participou das antologias Outras moradas (EPP, 2007) e Antologia Sadomasoquista da Literatura Brasileira (Dix, 2008).

terça-feira, 14 de julho de 2009

JIVM - LUIZ



L U I Z


Aquela sanfona branca
Aquele chapéu de couro
É quem meu povo proclama
Luiz Gonzaga de ouro
Que é da nossa nação
Um precioso tesouro.

O sertanejo Gonzaga
Foi antes de tudo um forte
Sanfoneiro da alegria
Até pra nascer teve sorte
Pois nasceu em Pernambuco
Famoso Leão do Norte.

Foi lá nas terras de Exu
Na Fazenda Caiçara
Em mil novecentos e doze
Viu o mundo sua cara
Veio do ventre de Santana
Bem na era de Aquário.

No dia de Santa Luzia
Foi que chegou o Luiz
No mês que Cristo nasceu
Por isso foi tão feliz
Levou energia ao povo
Cantando do povo a raiz.

Luiz Gonzaga foi uma luz
Para o povo do Sertão
Foi cantando a alegria
Que virou o Rei do Baião
A sua simplicidade
Motivo de admiração.

O mestre Lua é assim
Uma grande animação
Sua música é o espírito
Das festas de São João
Uma fogueira que acende
O amor no meu coração.

Encerro minha toada
Que falou do que é capaz
O sentimento profundo
De um velho-menino-rapaz
O cantador Luiz Gonzaga
Um mensageiro da paz.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO


OBS: Fiz esta toada para a peça Luiz, dirigida pelo ator Jackson Costa. Os quatro primeiros versos da primeira estrofe foram retirados da música Sanfona branca de Benito di Paula. Nas 2ª, 3ª e 4ª estrofes há versos de umas trovas da autoria de Luiz Gonzaga, feitas em redondilha menor (versos de cinco sílabas), que adaptei, passando-os para versos de sete sílabas (redondilha maior).

LUIZ - A PEÇA

Direção: Jackson Costa
Fotos: Gabriel Gomes

A peça Luiz foi encenada no dia 12 de julho de 2009, no núcleo Serenita, da UDV, em Lauro de Freitas, Bahia. Na peça, interpretei um vaqueiro cantando a toada Luiz e aboiando, logo depois da abertura com a cantora Margareth Menezes.













domingo, 5 de julho de 2009

VERÔNICA DE VATE - CARLOS BARBOSA

foto Ricardo Prado
CARLOS BARBOSA nasceu em 17 de maio de 1958, na fazenda dos avós maternos, no Brundué falado, município de Oliveira dos Brejinhos, vale do rio Paramirim, que deságua no de São Francisco. Criado em Ibotirama, margem direita do Velho Chico, cursou o ensino médio no Colégio Central, em Salvador. Estudou Odontologia na UFBA, curso que abandonou no último semestre para estudar Jornalismo, na mesma universidade. Até então cometia seus versos, escrevia letras de música, participava de festivais e teve seu primeiro texto em prosa premiado no Concurso Permanente de Contos do Jornal da Bahia (1977). Trabalhou na assessoria de comunicação da Caixa Econômica Federal na Bahia e na Matriz, em Brasília, onde ocupou cargos de assessor, gerente, chefe de divisão e gerente executivo da área de publicidade. Estudou Direito na UniCeub, em Brasília. Publicou seu primeiro livro de poemas, Água de Cacimba, em 1998. O segundo livro de poemas, Matalotagem e outros poemas da viagem, veio em 2006 pelo Selo Letras da Bahia. Em 2002, a Bom Texto Editora publicou seu romance A dama do Velho Chico, selecionado pelo MEC para o PNBE 2009. Em 2002, ainda, foi premiado pelo Ministério da Cultura por adaptação do romance A dama do Velho Chico para longa-metragem, no Concurso de Desenvolvimento de Roteiros realizado naquele ano. Em 2004, participou da antologia Poesia de Brasilia, organizada por Joanyr de Oliveira, e da Antologia do Conto Brasiliense, organizada por Ronaldo Cagiano. Mantém um blogue na Internet “contosempre.zip.net”. Mora em Salvador.
*
Carlos Barbosa vai se apresentar, no próximo dia 11 de julho, no projeto Uma Prosa Sobre Versos, na cidade de Maracás, Bahia, coordenado por Edmar Vieira. O evento contará com a participação especial do Grupo Concriz, que fará um recital com poemas de Barbosa. O Grupo Concriz é composto por 22 jovens da comunidade maracaense e coordenado pelos irmãos Marcelo Nascimento e Vitor Nascimento Sá.


A PORTA NO CHÃO

há duas portas em meus olhos
do tipo corta-fogo

há uma dura mão-de-pilão
em meu coração

e minhas mãos colhem
toda manhã
o orvalho que cobre meu peito

há sempre uma porta no chão,
meu eterno tropeço

CARLOS BARBOSA

CARLOS BARBOSA - LEMBRANÇAS DE VIAGEM


LEMBRANÇAS DE VIAGEM

Ele não se lembra bem como aconteceu. Perdeu o controle do carro e saiu da estrada. Assim como quem sobe a calçada para cumprimentar pessoas, ele e o carro tocaram árvores, uma depois da outra, e quedaram-se, cada qual em seu cantinho de mato.
Não tardou muito e os outros surgiram no local do acidente. Primeiro, curiosos; depois, sorrateiros.
Ele os viu, um a um, revirarem o carro e levarem seus pertences; depois, assistiu depenarem seu próprio corpo - não podia mexer-se, não podia falar.
Os outros o deixaram lá, gaveta revirada, e foram cuidar de suas vidas. Disso ele se lembra bem.

CARLOS BARBOSA

AOS NAVEGANTES

Por José Inácio Vieira de Melo

Para seguir viagem com Carlos Barbosa é preciso de pouca coisa. Matalotagem e outros poemas da viagem tem de quase tudo. Que rumo iremos tomar? Qual o destino? Não importa! A bússola do nosso timoneiro tem como norte magnético a poesia.
Então, começaremos por fazer um passeio pelo leito do “Poema em nove gotas para um rio franciscano”. Conosco estarão todos aqueles que um dia deslizaram pelas águas brasílicas do Velho Chico - desde as nações indígenas até o navegante italiano Américo Vespúcio, que o nomeou. Dentro do poema franciscano, as nove gotas clamam pela renovação das águas cálidas, que banham a integridade do país: “mirem:/ o rio está só!// sintam:/ o rio míngua!// ouçam:/ o rio geme!”. Carlos Barbosa rege cada movimento desta suíte de olhos bem abertos. Das pupilas de seus versos, podemos sentir toda emoção que dedica às águas do rio que perpassa a sua infância e a sua cidade de origem, Ibotirama. Mas sabe também que “o pôr-do-sol nas águas/ vale mais que a cidade// vale mais que a veleidade/ de qualquer humana obra”.
Ao sairmos das águas do Rio São Francisco, avistaremos um poemário de temáticas diversificadas, dividido em duas partes: “Matalotagem” e uma seleta da “Poesia anterior”, publicada em seu livro de estréia, Água de cacimba (1998). E é aí que se confirma a coerência lírica do poeta, pois, apesar da profusão de assuntos, sua caligrafia não treme e a linha de seus versos livres continua seguindo os mesmos caminhos tortos condicionados pelo homem que é.
Caçador manco de seguir formigas”, anuncia a sua verdade: “nenhuma plenitude me atrai”.
E assim, fazendo “Exposição de motivos”, duvidando da própria sombra, Carlos Barbosa nos brinda com a água profunda de suas estrofes. Seja nos poemas inéditos ou na seleta dos já publicados, homenageia Brasília, cidade onde viveu (“busco-me entre poeiras planaltinas/ meu nariz perde o faro na esplanada”); dialoga com os poetas Manoel de Barros (“o livro sobre nada é tudo/ que resta daquela noite”) e Zé Limeira (“meu jejum é recheado/ de orvalho e de poesia”), que são algumas de suas principais referências; faz uma “Georação baiana” – espécie de itinerário místico por várias cidades da Bahia; e compreende que “o pior pecado é esquecer o caminho”. E nos alerta: “fugir, jamais/ escapar, sempre”.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

SAPIRANGA CONVIDA

Sapiranga ConVida
Temporada no Goethe Café (Pátio do ICBA)
Corredor da Vitória - Salvador - Bahia
Dias 07, 14, 21 e 28 de julho de 2009
Horário: 20 horas - Couvert: R$ 8,00

É o palco, a sala da casa do artista. Os elementos vívidos prevalecem em seu canto, gestos, expressões e sentidos que num facho de luz, cor e sombra dão forma, com seus versos, a outra vida que se recria a partir do seu universo.
Sapiranga

Sapiranga ConVida - Um espetáculo que revela as faces do Artista brasileiro, inventivo, vetor, antena do mundo, inteiro...

Sapiranga nesse espetáculo apresenta canções da Zona da Mata e também de Músicas Ebulição, ou seja, que demonstram vigor e contemporaneidade e que apontam outros rumos para a música brasileira. Serão apresentadas canções que falam de Amor e política (pensamento Social), reunindo vários estilos do Cancioneiro Nordestino.
O foco principal é a junção entre a Música e a Poesia. Os convidados especiais para cada noite, além de músicos de grande representação no cenário baiano e nacional, são também poetas do mesmo quilate. Para isso, sempre teremos a presença de Músicos e de um Poeta, a cada noite.
As canções que serão apresentadas em Sapiranga ConVida correspondem as várias facetas musicais que coabitam o pensamento do compositor, que utiliza os diversos ritmos brasileiros para compor o seu repertório. Um desses ritmos, o Caboclinho, é original do litoral baiano e é tido como a principal expressão da fusão da música Indígena com a música Negra. Sapiranga apresentará o Caboclinho de forma tradicional e moderna, em sua maneira peculiar de reinventar os ritmos e mexer em sua estrutura sem alterar a essência.
Nessa temporada, que contará com quatro espetáculos durante o mês de julho, Sapiranga receberá como convidados o cantor e compositor Alexandre Leão, o violonista e compositor Amadeu Alves e o poeta José Inácio Vieira de Melo; o cantador Tom Tom Flores, a cantora, violinista e rabequeira pernambucana Laila Rosa e a poetisa Lita Passos; o violonista Robson Barreto, a cantora e compositora Laura Dantas e o poeta Cardan Dantas; o cantor e compositor Roberto Mendes e o poeta Damário Dacruz. Todos esses artistas, em um enlace harmonioso, demonstrarão a diversidade e comunhão da nossa Bahia miscigenada.
Acompanhando Sapiranga, em toda a temporada, estarão os Multi-Instrumentistas, Antenor Cardoso e o Príncipe Uesdra.

Sapiranga ConVida - Programação

07/07 - Alexandre Leão, Amadeu Alves e José Inácio Vieira de Melo

14/07 - Tom Tom Flores, Laila Rosa e Lita Passos

21/07 - Robson Barreto, Laura Dantas e Cardan Dantas

28/07 - Roberto Mendes e Damário Dacruz