domingo, 5 de julho de 2009

AOS NAVEGANTES

Por José Inácio Vieira de Melo

Para seguir viagem com Carlos Barbosa é preciso de pouca coisa. Matalotagem e outros poemas da viagem tem de quase tudo. Que rumo iremos tomar? Qual o destino? Não importa! A bússola do nosso timoneiro tem como norte magnético a poesia.
Então, começaremos por fazer um passeio pelo leito do “Poema em nove gotas para um rio franciscano”. Conosco estarão todos aqueles que um dia deslizaram pelas águas brasílicas do Velho Chico - desde as nações indígenas até o navegante italiano Américo Vespúcio, que o nomeou. Dentro do poema franciscano, as nove gotas clamam pela renovação das águas cálidas, que banham a integridade do país: “mirem:/ o rio está só!// sintam:/ o rio míngua!// ouçam:/ o rio geme!”. Carlos Barbosa rege cada movimento desta suíte de olhos bem abertos. Das pupilas de seus versos, podemos sentir toda emoção que dedica às águas do rio que perpassa a sua infância e a sua cidade de origem, Ibotirama. Mas sabe também que “o pôr-do-sol nas águas/ vale mais que a cidade// vale mais que a veleidade/ de qualquer humana obra”.
Ao sairmos das águas do Rio São Francisco, avistaremos um poemário de temáticas diversificadas, dividido em duas partes: “Matalotagem” e uma seleta da “Poesia anterior”, publicada em seu livro de estréia, Água de cacimba (1998). E é aí que se confirma a coerência lírica do poeta, pois, apesar da profusão de assuntos, sua caligrafia não treme e a linha de seus versos livres continua seguindo os mesmos caminhos tortos condicionados pelo homem que é.
Caçador manco de seguir formigas”, anuncia a sua verdade: “nenhuma plenitude me atrai”.
E assim, fazendo “Exposição de motivos”, duvidando da própria sombra, Carlos Barbosa nos brinda com a água profunda de suas estrofes. Seja nos poemas inéditos ou na seleta dos já publicados, homenageia Brasília, cidade onde viveu (“busco-me entre poeiras planaltinas/ meu nariz perde o faro na esplanada”); dialoga com os poetas Manoel de Barros (“o livro sobre nada é tudo/ que resta daquela noite”) e Zé Limeira (“meu jejum é recheado/ de orvalho e de poesia”), que são algumas de suas principais referências; faz uma “Georação baiana” – espécie de itinerário místico por várias cidades da Bahia; e compreende que “o pior pecado é esquecer o caminho”. E nos alerta: “fugir, jamais/ escapar, sempre”.

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