quinta-feira, 20 de outubro de 2011

10ª BIENAL DO LIVRO DA BAHIA - PRAÇA DE CORDEL E POESIA - PROGRAMAÇÃO

PRAÇA DE CORDEL E POESIA
AS DIVERSAS FACES DA POESIA NA 10ª BIENAL DO LIVRO DA BAHIA


A Praça de Cordel e Poesia vem com todo o ímpeto e com todo o encanto que são característicos da linguagem poética. Nesta edição, contempla, mais uma vez, as diversas faces da poesia baiana contemporânea, além de apresentar ao público alguns poetas de outros estados e até de outro país.
Ao todo serão 85 artistas da palavra que farão, ao longo das dez noites de bienal, um grandioso espetáculo. A cada noite, a partir das 18 horas, acontecerão três sessões de poesia. Cada uma com dois ou três artistas e com duração de 50 minutos.
Poetas consagrados, como Ruy Espinheira Filho e Luís Antonio Cajazeira Ramos, e jovens estreantes, como Vanny Araújo e Darlon Silva, estarão na Praça da Poesia recitando seus versos.  Representando a cultura popular, estarão presentes cordelistas de grande valor, como é o caso de Antonio Barreto, Jotacê Freitas e Franklin Maxado.
A ligação da poesia com a música também será explorada. E a palavra cantada ecoará através da voz e da emoção das cantoras Flávia Wenceslau e Lane Quinto, e de outros intérpretes e compositores.
De Portugal para a Praça da Poesia, virá o poeta Luís Serguilha. E de outros rincões do Brasil, estarão presentes os poetas paulistas Mariana Ianelli e Luiz Roberto Guedes, o paraibano Babilak Bah, o mineiro Ronaldo Cagiano e o pernambucano Ivan Maia – nomes que abrilhantarão ainda mais esse grande encontro poético que, certamente, proporcionará ao público da Bienal do Livro da Bahia momentos de beleza e de pura magia.

José Inácio Vieira de Melo
Coordenador e curador da Praça da Poesia
Poeta, jornalista e produtor cultural



PROGRAMAÇÃO DA PRAÇA DE CORDEL E POESIA

COORDENAÇÃO E CURADORIA:
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

28/10 (sexta-feira)

18 horas
Clarissa Macedo
Manuela Barreto
Vanny Araújo

19 horas
Daniela Galdino
Edmar Vieira
Rita Santana

20 horas
Douglas de Almeida
Walter Cesar


29/10 (sábado)

18 horas
Georgio Rios
Marcia Tude
Ricardo Thadeu

19 horas
Franklin Maxado (cordelista)
Sapiranga (cantador)

20 horas
Luís Antonio Cajazeira Ramos
Ruy Espinheira Filho


30/10 (domingo)

18 horas
Daniel Farias
Emmanuel Mirdad
Fabrício de Queiroz Venâncio

19 horas
Elizeu Moreira Paranaguá
Iolanda Costa
Martha Galrão

20 horas
Antonio Barreto (cordelista)
Babilak Bah


31/10 (segunda-feira)

18 horas
Bernardo Almeida
Moacir Eduão
Ronaldo Cagiano

19 horas
Clotilde Ribeiro
Lita Passos
Nívia Maria Vasconcellos

20 horas
Everton Lima
Flávia Wenceslau (cantora)
Gabriel Gomes


01/11 (terça-feira)

18 horas
Caio Rudá Oliveira
José Ricardo Vidal
Vânia Melo

19 horas
Inaê
Luís Serguilha
Mayrant Gallo

20 horas
Adriano Eysen
Aleilton Fonseca
Sandro Ornellas


02/11 (quarta-feira)

18 horas
Gibran Sousa
Lidiane Nunes
Jackson Costa

19 horas
Carlos Barbosa
Claudina Ramirez
Marcus Vinicius Rodrigues

20 horas
Lane Quinto (cantora)
Luís Pimentel
Luiz Roberto Guedes


03/11 (quinta-feira)

18 horas
Alexandre Coutinho
Darlon Silva
Priscila Fernandes

19 horas
Ana Cecília de Sousa Bastos
Goulart Gomes
Mônica Menezes

20 horas
Alberto Lima (cordelista)
Maviael Melo (cordelista)
Tina Tude


04/11 (sexta-feira)

18 horas
André Guerra
Gildeone dos Santos Oliveira
Ivan de Almeida

19 horas
Ângela Vilma
Hélio Alves Teixeira (cordelista)
Júlio Lucas

20 horas
Cleberton Santos
João Vanderlei de Moraes Filho
Vladimir Queiroz


05/11 (sábado)

18 horas
Edson Oliveira
Érica Azevedo
Karina Rabinovitz

19 horas
Fabrícia Miranda
Ivan Maia
Lívia Natália

20 horas
Mariana Ianelli
José Inácio Vieira de Melo


06/11 (domingo)

18 horas
Fabrício Brandão
Max Fonseca
Vitor Nascimento Sá

19 horas
Edgar Velame
Marcos Peralta
Tiago Oliveira

20 horas
Mariana Ianelli
Jotacê Freitas(cordelista)
Amadeu Alves (músico)
Fabrício Rios (músico)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PROJETO UMA PROSA SOBRE VERSOS RECEBERÁ O ESCRITOR LIMA TRINDADE


CANTINHO DO CONTO - A PRIMEIRA VEZ

Por Lima Trindade



A PRIMEIRA VEZ 
para Nelson Luiz

            A primeira vez que o vi ele estava com um velho paletó cinza e comemorava aniversário. Eu já o vira outras vezes. Contudo, a primeira vez que REALMENTE o vi foi naquela noite. Noite de seu aniversário, noite especial porque seria a noite em que eu verdadeiramente o veria, pois das outras vezes, mesmo aquelas quando adquiria a dimensão de um jogador de basquete – e jogador de basquete sim é o exemplo quase perfeito para identificar-lhe o tamanho ao subir os tablados dos pequenos teatros salpicados na cidade para recitar para quase ninguém que queira escutar, mas todos sabem que estão ali justamente para ouvi-lo e, se possível, aplaudi-lo e dizer que sempre entenderam tudo e acharam demais cara, principalmente aquele verso ou aquela hora em que ele grita com raiva ou por pouco, muito pouco o choro não lhe banha a face – e ele parece maior muito maior mas não tão grande quanto naquela hora parado no meio da sala bebendo e chorando porque ganhara um livro de presente de aniversário de uma menina que me falaram fora sua namorada e fumava e fumava soltando fumaça com medida graça e eu reparando nas suas longas costeletas e no desenho dos lábios se abrindo para soprar a fumaça. Lembro especialmente do paletó meio amarrotado e também folgado e do gosto do vinho barato e do quanto ele me lembrava Jack Kerouac, o velho beatnik, emocionado apenas porque ganhara um livro de presente de aniversário, lembro que tinha um espelho na sala e eu não olhava diretamente para ele, mas para o espelho, porque assim ninguém descobriria o que comigo se passava: que eu estava apaixonado e com medo que alguém pudesse desconfiar de meu amor que naquela hora não era todo consciente, era meio misturado à bebedeira, sim era a bebida que fazia isso com a gente, confundia o gosto e a noção de beleza, porque um homem não pode achar bonito outro homem, ainda mais se a beleza tiver uma aura de sensualidade, ora, ora ele era realmente bonito e seu charme me embebedava no meio de tanta gente ali interessante feito poetas, atrizes, pintores e admiradores que não eram merda nenhuma mas também ali estavam bebendo e falando e falando e falando... Ele contudo não falava e seus olhos doces e alguma coisa tristes para alguns não eram tristes para mim, no entanto, pois eu compreendia a dor escondida pela qual ele provavelmente teria passado e eu achava que era a mesma dor minha, por isso sabia que não podia ser tristeza, mas um sentimento intenso e um tanto santo de se identificar com as cruezas do mundo e não ficar indiferente como todas as pessoas que conheço menos eu e ele que estava fazendo aniversário e eu o mirando pelo espelho até que alguém resolveu colocar música e fazer soar aquela voz arrastada da cantora de cabaré francês que nunca esquecerei, assim como não posso esquecer dele vindo em minha direção e pegando minha mão para que dançássemos enquanto todos explodiam em risos e eu tentava me desvencilhar mas ele era firme e resoluto e eu não tive como deixar de sentir seu rosto colado ao meu e o quanto era quente aquele paletó oscilando em movimentos de rodopios lentos ao embalo da bela música e dos risos que me envergonhavam e me faziam querer morrer, o que não seria de modo algum ruim porque morrer nos braços dele era o que eu queria desde que tinha nascido, pelo menos foi o que pensei no instante em que a música acabava e ele beijava minha testa como ninguém jamais houvera beijado, agradecendo e sorrindo para então dividir-se em atenções aos demais convidados, deixando-me no meio da sala nesta hora já totalmente deslocado, porém feliz e querendo viver eternamente por ter com ele dançado, quem poderia de alguma maneira imaginar meu contentamento apesar de parecer desconcertado, deste modo quando alardearam o fim da bebida e sugeriram dar continuidade fora dali num bar daquela cidade que eu não conhecia direito porque era a primeira vez que lá tinha estado, eu aceitei e redobrei as esperanças de novamente me aproximar dele e então penetramos no dorso da noite e eu achei que vê-lo andar com o livro que havia ganho no bolso do paletó cinza em busca de um ponto para eles determinado, mas para mim completamente vago, era uma visão mágica acrescida pelo jogo de luzes e sombras dos escassos postes de eletricidade e vãos da estrada em que caminhávamos, os poetas, as atrizes, os pintores e os admiradores o circundavam enquanto eu ia atrás admirando o cortejo fiel, até quando percebi que tinha bebido demais e o cadarço do meu sapato estava desamarrado e vacilei no passo e caí no asfalto, sem forças para me levantar enquanto eles seguiam na noite que só poderia ser esta e jamais outra, eu o perdendo enfim em seu paletó cinza.  

Lima Trindade nasceu em 23 de dezembro de 1966 em Brasília, DF. Vive em Salvador desde 2002. É autor do romance Supermercado da Solidão (LGE, Brasília, 2005) e dos livros de contos Todo sol mais o Espírito Santo (Ateliê Editorial, São Paulo, 2005) e Corações Blues e Serpentinas (Arte Pau Brasil, São Paulo, 2007). Participou das antologias de contos Todas as gerações (LGE, Brasília, 2006), organizada por Ronaldo Cagiano, O melhor da festa (Nova Roma, Porto Alegre, 2009), org. por Fernando Ramos, e Geração Zero Zero: fricções em rede (Língua Geral, Rio de Janeiro, 2011), org. por Nelson de Oliveira. É mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), tendo estudado os contos de João Silvério Trevisan, Reinaldo Arenas e David Leavitt. Edita mensalmente, desde 1999, a revista eletrônica Verbo21 (www.verbo21.com.br), divulgando e entrevistando novos e antigos autores, além de ensaios sobre a cultura em geral. Tem vários textos publicados em jornais e revistas do Brasil e exterior: Revistas Cult, LSD, Iararana, sites Bestiário, Germina e Confraria do Vento; jornais Correio Braziliense e A Tarde, entre outros.

sábado, 8 de outubro de 2011

OS 50 POEMAS ESCOLHIDOS DE JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

Por Silas Correa Leite


“Deus é o silêncio do universo,
e  o  ser humano o grito que
dá sentido a esse silêncio... ”
José Saramago

Uma antologia que pode dizer o nome. Que se orgulha de dizer a que veio: “Edições Galo Branco”. Num estupendo historial que a qualifica e a referenda, começou nos Anos 50, pelo idealizador José Simeão, a partir dos Cadernos de Cultura do MEC, o primeiro livro já de cara norteando o estilo futural a partir de então: Manuel Bandeira. Segundo alguns, o melhor poeta do Brasil. E depois, para somar a qualidade pretendida da trajetória endossada, Augusto Frederico Schmidt, e a seguir, Carlos Drummond de Andrade, Lêdo Ivo e Emilio Moura. Com um rol desses, uma série de coletâneas que já nasceu premiada. Um marco editorial. Com esse handicap inicial, portanto, de nomes importantes do meio literário da época, de primeira grandeza, quando mais para a frente a idéia magistral foi retomada sob a nova direção editorial de Waldir Ribeiro do Val, Prêmio Carlos Ribeiro da UBE-RJ, 2009, e daí seguiu seu brilho, passando por poetas de alto gabarito e de grande estilo, só para citar alguns, do primeiro ao atual, Anderson Braga Horta, Gilberto Mendonça Teles, Carlos Nejar, Antonio Olinto, Antonio Carlos Secchin, Anibal Beça, Aricy Curvello, Tanussi Cardoso, Helio Povoa, só para citar e evocar aqueles que estão entre os melhores, já que todos são e conferem essência ao conjunto.
Recebi agora a nova obra da coleção, o trabalho do Poeta José Inácio Vieira de Melo, composto no livro volume 62, e o livro, claro, novamente todo um belo projeto de conteúdo e de capa, orelha, comentários e tudo mais. Porque Waldir Ribeiro do Val tem mão de ouro, toque de Midas. Escolhe bem e com competência visionária. Tudo o que projeta enobrece o artista criador que se sente honrado. E José Inácio no caso desta última edição, tem elogios de Marco Lucchesi, André Seffrin, Affonso Romano de Sant’Anna; toda uma bela fortuna crítica que vai de Adelto Gonçalves e Aleilton Fonseca, passando por Izacyl Guimarães Ferreira, Moacyr Scliar, Nelly Novaes Coelho e Olga Savary entre outros renomados críticos, jornalistas, resenhistas, escritores, criadores e poetas também. Edição caprichada, histórico de editor, currículo do poeta, e a soma toda dá nisso: uma ótima antologia que pode dizer o nome: Galo Branco. Eis a obra.
E, claro,  se consagra ainda mais com o José Inácio Vieira de Melo, que, como um dos melhores poetas contemporâneos, ao lado de Solivan Brugnara e mesmo Marcelo Ariel, entre outros de porte desses brasis gerais, é um poeta que ao criar tenta no seu chamado “fazer poético” uma espécie de respiração no caos existencial, re-ordenando-o no lustral-literário; e também a quem já tive a oportunidade de fazer resenha em obra anterior de qualidade, tal a virtude, talento e dom; tantos poemas, tantos livros, uma verdadeira e consciente visão moderna desse mundo louco, comendo pelas beiradas, feito um trovattore pós-moderno em terra de muito ouro e pouco pão, feito um Rimbaud das caatingas, um cavaleiro de erranças, abandonos e desespelhos, dando testemunho das agruras de seu tempo tenebroso, principalmente o homem perdido, atribulado, mais as sofrências que as infovias efêmeras não resolvem, mas que, claro, rendem poemas como os dele, aqui bancados como coroação de uma carreira muito jovem e muito brilhante, pela também brilhante Edições Galo Branco do consciente editor atual Waldir Ribeiro do Val, um expert no ramo e já reconhecido como um promotor cultural de quilate, um paladino da Poesia.
Faz escuro mas eu canto? O importante é que a emoção sobreviva? Tudo isso e muito mais. Um poeta que saiu numa antologia como essa, pode realmente cantar de galo: poesia pela própria natureza.

Silas Correa Leite é Teórico da Educação, Jornalista Comunitário, Poeta e Ficcionista. Publicou os livros Porta-Lapsos (poemas) e Campo de Trigo com Corvos (Contos).

sábado, 1 de outubro de 2011

JIVM - SONATA DAS MUSAS ESCARLATES

Ilustração/Invenção: José Carlos Mélo


SONATA DAS MUSAS ESCARLATES


Nos olores dos aloendros escarlates, as musas todas.
O escarlate em sua noite cria a linguagem por dentro.

Por dentro da madrugada, os gemidos escarlates
de Cássia sobre a alfombra de folhas dos cajueiros.

Os tempos extinguiram os corpos, distantes,
mas os mares e os risos ainda estão envolvidos.

Outrora, a água e a cidra, os barcos nos azulejos,
outrora, por dentro do corpo da noite recendiam os jasmins,
outrora, Quitéria era infanta e se fazia escarlate ao cantar do galo.

À noite, os vestidos de verbenas eram imortais.
No mais, tudo era gozo e rito nas liturgias do céu.

Às vezes, as borboletas fazem um culto à memória de Margarete,
e os ventos povoam as pedras dos jazigos daqueles anos azuis
que jazem aqui, dentro do peito, e nos arrabaldes que vejo.

E era Linda, com os olhos sombreados dentro da noite,
e eu todo perdido nos aromas de avelã de sua volúpia,
e sobre suas ancas escarlates estou, como o mar por dentro.

E, na noite do mar adolescente, Aliane e seus cheiros:
nas pupilas das águas, no âmago das praias, envolvidos.

O verde do mar e o sangue das verbenas, enredados
no negror da noite. E eu ouvia Carla e me envolvia
nas trepadeiras dos seus cabelos, no seu templo de música.

E pelos céus da minha paixão desfilavam em flor e fogo
os vultos de Vilma e de Vanessa – estandartes escarlates.

Assim, Duíno Selvagem, breve como as águas do Sertão,
estendo as musas escarlates que perenizam minha saga.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO