terça-feira, 12 de dezembro de 2017

VERÔNICA DE VATE - FERNANDO MAROJA



Fernando Maroja Silveira nasceu em outubro de 1981, em Belém do Pará, Brasil e, em 2015, estreou nas letras com o livro de poemas Cinzas. Em 2016, participou da XX Feira Pan-Amazônica do Livro, bem como da antologia Impossível não te ofertar, com poemas de diversos autores em homenagem ao falecido poeta brasileiro Max Martins.
Em 2017, publicou o livro O escravo do vazio, pela editora Penalux, no qual perquire “dois desertos, dois extremos”, que têm como núcleos a areia e a estrela, que ao final são complementares de uma unidade cósmica. Sua poética eleva-se no canto da areia e seu objetivo é tornar-se a própria areia e ser “o escravo do vazio”, “a estrela no ventre da mãe, que o vento ainda não levantou da terra”. Neste poemário, os versos de Maroja são cavalos que galopam sobre ampulhetas e jogam areia no vazio.


TRÊS POEMAS DO LIVRO O ESCRAVO DO VAZIO
DE FERNANDO MAROJA SILVEIRA


O CANTO DA AREIA

Elevar-se,
mas não pela teia que prende as estrelas
na masmorra do céu.
Não pela escadaria do trovão,
desmantelada no galopar da chuva,
quando as gotas saltam como os cavalos,
para derrubar o homem
no tabuleiro de xadrez.

Elevar-se,
pelo canto da areia
e chegar ao topo da pirâmide,
onde apenas o extremo do vazio se equilibra:
ventania, bailarina.

Elevar-se
pelo canto da areia
e chegar ao deserto,
o único lugar fora do tabuleiro de xadrez.


O LIVRO FECHADO

Ao contrário do homem, o vento nada ignora. Para ele, o mais solitário grão de areia, na fronteira entre o visível e o invisível, é a estrela mais brilhante no céu.

Se o vento é invisível, ele é a prova invisível da limitação que nos aflige.

Sentimos a pele do vento e o amor nos seus dedos femininos, mas fechamos a janela para tudo que é invisível. Não sabemos amar sem ver o rosto da pessoa amada.

Ouvimos o barulho da sua voz, mas jamais compreenderemos a palavra. Ela se desfaz assim que é falada, esfarela-se no instante em que buscamos captá-la.

O vento parece um livro aberto, tocando-nos a pele com a ponta das páginas. Mas para o homem, ele é, e sempre será, o livro fechado.


A BAILARINA DA ESPERANÇA

Cafeína para estrelas é a noite, estrada para estrelas
 é a noite,
a flor se deitará em meus braços
na hora da morte,
quando a sepultura me suturar para sempre,
na teia da areia, no reino da areia.

A flor se deitará sobre o leito, abrindo as pétalas
para o beijo,
onde os laços unirão os lábios separados nos lados
opostos da folha de papel: vida
e morte.

Ímã de estrela é a noite, coquetel de estrelas
é a noite,
a sepultura enterrará o homem, mas a beleza florescerá,
na ponta dos pés contra o revés da morte,
equilibrando-se na teia da areia à esperança.

A flor é a bailarina da esperança
sobre a ruína humana,
como se a dança libertasse das pétalas as flechas,
na direção do céu.