segunda-feira, 24 de novembro de 2008

PROJETO COM A PALAVRA O ESCRITOR

Depois de amanhã, quarta-feira, dia 26 de novembro, às 17 horas, participarei do projeto Com a Palavra o Escritor, na Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho, em Salvador, a convite da poeta Myriam Fraga, diretora executiva da instituição. Serei apresentado pela escritora Eliana Mara Chiossi, professora doutora do Instituto de Letras, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Para a ocasião, Eliana Mara está acabando de fazer o ensaio Um cavaleiro andante pelo céu da poesia. Não posso deixar de dizer que estou muito satisfeito por poder contar com apresentação de tão talentosa professora e escritora, e confesso que estou um pouco ansioso. Para abrilhantar ainda mais o evento, a cantora Carla Visi, o ator Jackson Costa e os escritores Carlos Barbosa e Edmar Vieira farão um recital com poemas meus. O fotógrafo Ricardo Prado também estará por lá, registrando o evento e levando sua presença amiga. Além de tudo isso, falarei da minha vivência de poeta, dos meus livros e do papel que desempenho como ativista da poesia. Espero você por lá.
JIVM

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

VERÔNICA DE VATE - ELIANA MARA CHIOSSI

ELIANA MARA CHIOSSI possui graduação em Letras: Licenciatura em Português e Inglês pela Universidade Federal de Sergipe (1993), mestrado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996) e doutorado em Letras pela Universidade Federal da Bahia (2002). Atualmente é professora adjunto da Universidade Federal da Bahia e atua como professora colaborada no Programa de Pós Graduação em Letras e Diversidade Cultural da UEFS. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Estudos Culturais, atuando principalmente nos seguintes temas: critica literaria brasileira, estudos culturais, subalternidade, identidade cultural e literatura e lingüística. É responsável pelo projeto de implantação das Oficinas de Leitura e Produção de Textos no ILUFBA, atuando como professora e tem projetos na área de Escrita Criativa. No mestrado, estudou a revisitação do regionalismo na obra do escritor sergipano, Francisco Dantas. E no doutorado, analisou as narrativas contemporâneas, com ênfase nas questões de identidade e alteridade, tendo especialmente analisado toda a produção artística e cultural do MST. Participa ativamente das jornadas literárias do SESC e de outras instituições. Em 2006, seu livro de contos, ainda não publicado, Mil folhas e uma, ficou entre os selecionados no concurso nacional Editora Record /SESC. Mantém três blogs de escrita. Em conjunto com o escritor português Nuno Miranda Ribeiro e com a participação da ilustradora Carol Kzan, O Carteiro de Atlantis e o Laboratório do Carteiro de Atlantis. Individualmente, mantém, desde 2007, o blog de escrita O Mundo tem inscrições sempre abertas.


NON SENSE (MINÚSCULOS)


Flores: quando a natureza dá gritos de êxtase

Expressão: a dor nos amarelos de Van Gogh

Músicos quando querem banho: desafinam nas serenatas

Diz o poeta: me tira da antologia e me coloca na sua vida

Separação: não sei onde você está, nas noites que dormimos juntos

Difamação: quando você falsifica minha identidade

Lua: pede carona em todas as estradas

Azul: quando o olho do homem sentiu sede

Amarelo é um curto circuito das cores

Vermelho: mancha sonora em voz alta


ELIANA MARA CHIOSSI

ELIANA MARA CHIOSSI - MILAGRES


M I L A G R E S

Quando a faca atravessou o peito havia estrelas deslumbrantes neste céu. Enquanto jorrava o sangue -trabalho da faca-, flores alegravam jardins e festas. O corpo contorcendo uma dor sem nome. O corpo todo em forma de grito. A faca brilhando no meio das carnes desorganizadas. E para fora do quadro-crime, talvez uma multidão de crentes entoando seus louvores, crianças nascendo inaugurando pais e mães, antes apenas seres atordoados de egoísmo. A faca quieta, repousando. O corpo gesticula querendo viver. E lá fora, sol. Na beira do rio, pessoas felizes assustam peixes preguiçosos. Criação de Deus o milagre. Existe uma faca e a vida não estanca.

ELIANA MARA CHIOSSI

AS LOUVAÇÕES VIAJOSAS DOS MANDACARUS ATÔNITOS DE JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

Silas Correa Leite

Fotógrafo: Ricardo Prado

José Inácio Vieira de Melo tem currículo, tem estrada, tem estilo, tem talento potencializado pelo olhar açodado por uma extrema sensibilidade viajosa, e assim vai destrinchando o vinho-verbo (vinho-versos) das vinhas existenciais viçadas em peregrinações, mandacarus atônitos, com suas louvações muito além das hortas de covers que abundam pelaí. Códigos de romarias, retraduzidos no letral, documentos-identidades de peregrinações como cadernos de viagens...
Ele mesmo um cavaleiro com suas purgações, seus fermentos e seu olhar a sondar cactos de vícios, tipificando remorsos, como se um retratista de seu tempo e das amarguras do seu tempo. Já pensou? Poesia pura. Aliás, José Inácio Vieira de Melo tira seda das pedras, sua poesia energiza, nas criações feito um mandorová-camaleão tira tintas das andanças. O marmóreo das criações, muito além da lanterna furta-cor de seu olhar sarado. Rastros de cisternas? Poemas-toadas, aboios plangentes, poemetos, "Peregrino de si mesmo/ no meio da travessia"(pgs 118/119/120, Romaria), as léguas tiranas. Labuta uma roça de palavras. Carrega sua lavoura com páginas de andanças, aqui e ali um produto desses tempos insanos. Poemas e pés. E lácrimas. Reversos e memórias?
Já pintei José Inácio Vieira de Melo como um dos melhores poetas contemporâneos que li, até porque, o nome se faz na construção do hoje para o eventual e justo enlivramento histórico do devir. Da terra de Jorge de Lima que considero o melhor poeta do Brasil em 508 anos, a senda do José Inácio Vieira de Melo tem um tear de altíssimo nível, talento e olho crítico, signico. Galopar nas palavras é a sua metafísica?
Suas amarras íntimas e criacionais são dependuras no versejar, um pós-cordel itinerante, peneirando juízos, intenções, quireras de conflitos, trazendo as entranhas dos pensares para a poesia nossa de cada dia. Lamentos, ofícios, moendas e engenhos. Releituras. Raízes que andam. Agonias da terra. Significâncias e condições humanas. Escrevendo ele faz chover canivetes, entrecortando imagens e palavras.
Amoras de ausências? A belezura dos registros. O poeta José Inácio Vieira de Melo que foi ver o que é que a Bahia tem, nasceu em Olho d'Água do Pai Mané, povoado de Dois Riachos, Alagoas, e por onde andarilha lavra suas águas límpidas em poemas de quilate. "Ouço vozes - muitas vozes/ dentro de mim mesmo/ todas dizem que é preciso prosseguir..." (Pg 105/106, Memória). Pois é: escrever é preciso, viver não é preciso...
Lendo a poética de altíssimo nível de José Inácio Vieira de Melo, lembrei-me da música de Bjork (cantora islandesa)" Perdi minha origem/ E não quero encontrá-la/ Eu me sinto em casa/ Cada vez que o desconhecido me rodeia" (Wanderlust). Paradoxalmente, no entanto, José Inácio Vieira de Melo resgata e louva sua origem no que cria, enlivra-se dela no "fazer poético" propriamente dito, mas só se sente em casa mesmo escrevendo seu tempo, seu lugar, seu espírito aguçado, e toca o desconhecido com suas perguntações, pontuando as léguas tiranas, afinal, longe de casa, não é longe de si, mas um reconstruir o longe para lavra criaciocional vivenciada no ser de si, quase self.
A Poesia de José Inácio Vieira de Melo entoa, faz bem, aplaina momentos que resgata, como se decifrasse a sede da seda, na sua náutica louvação/peregrinação/criação (anagramas amalgamados), tudo a ver, tudo a ser, tudo a ler. "O chocalho, no pescoço/ da vaca, anuncia:/ - Eu estou aqui!// O relógio, na parede/ da cozinha, adverte:/ - Não escaparás! (pg 41, Diálogo). Bravo!
Nesses tempos pós-modernos de cincerros com grifes (i pod, celulares, mp 3,4,5), range a rede de criação - escrever é para quem se distancia da manada - e brilha quem tem asas na alma. Os mandacarus atônitos ainda que cactos vítreos dão frutos de palavreiros. O cálice transborda como seda pura em papel de arroz com imagens poéticas vibrantes.
A infância é tudo aquilo que trazemos conosco, naquilo que somos, naquilo que não cabemos em nós, naquilo que perdemos, naquilo que fermentamos entre tantas purgações existenciais? Ainda bem quando grandes poetas refazem suas íntimas trilhas fazendo versos e movendo moinhos letrais. O tecido irreversível da alma toca o fio-terra do verbo viver a self aberto: eis o livro, eis a obra, eis o poeta: A Infância do Centauro - José Inácio Vieira de Melo semeando sarças ardentes.


Silas Correa Leite é Teórico da Educação, Jornalista Comunitário, Poeta e Ficcionista. Publicou os livros Porta-Lapsos (poemas) e Campo de Trigo com Corvos (Contos).

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

RONALDO CORREIA DE BRITO LANÇA ROMANCE "GALILÉIA"

Alfaguara apresenta o primeiro romance do renomado contista, dramaturgo e roteirista de cinema
Ronaldo Correia de Brito, uma das vozes mais originais da literatura brasileira atual

“Seu modo de construção é cinematográfico. Econômico, conciso, cortante, ele reúne os fragmentos da tradição oral e ergue uma catedral literária com os cacos da ruína sertaneja e da tragédia clássica.” — O Estado de S.Paulo


Três primos atravessam o sertão cearense para visitar o avô Raimundo Caetano, patriarca de uma família numerosa e decadente que definha na sede da fazenda Galiléia. Ismael, Davi e Adonias passaram parte da infância ali, mas fizeram o possível para cortar seus laços com a terra de origem. Fazem parte de uma geração que largou o campo para nunca mais voltar. Foram viver no exterior, procuraram reconstruir a vida em Recife, em São Paulo, na Noruega.
O que espera os três primos ao final da viagem é uma volta radical a esta origem, a esta fazenda que um dia foi próspera, que oculta segredos e traições e “onde as pessoas se movem como nas tragédias”. Por mais que os protagonistas tenham se distanciado da violência que ronda a família, voltarão a senti-la de perto, descobrindo que nunca escaparam — ou escaparão — ao destino que os cerca. Terão de se reencontrar com a família e seus fantasmas, e reviver histórias de adultério, vingança e morte.
Nascido no mesmo sertão do Ceará onde está fincada a fazenda Galiléia, o contista, dramaturgo e roteirista Ronaldo Correia de Brito conhece profundamente o cenário escolhido para ambientar seu primeiro romance. “Tivemos um ciclo épico e de tragédias nesse vasto sertão cearense. Nada disso foi representado até o esgotamento, como o ciclo do faroeste americano, a conquista do Oeste. Cadê os nossos John Huston, John Ford, Roberto Leone? Glauber e os diretores do ciclo do cangaço fizeram uma leitura sobretudo do social. Os acontecimentos foram bem mais transcendentes. A nova geração de escritores prefere escrever sobre os dramas urbanos”, observa o autor em entrevista sobre sua obra.
Ronaldo Correia de Brito não teme o rótulo de regionalista e se adianta às críticas: “O meu sertão é a paisagem através da qual eu interpreto o mundo, o de hoje, o globalizado, o que rompeu com as tradições. Interessa-me a decadência, a dissolução. Meus personagens migram, sofrem o embate com as outras culturas. Sei que tenho sido vítima de preconceitos pela escolha dessa paisagem”, diz o escritor.
Para sua Galiléia, observa Ronaldo, convergem pessoas de todo o mundo. “Trato das questões do nosso tempo, os conflitos de cultura, as migrações, a dissolução da família tradicional. Jogo na mesa os conflitos insolúveis entre cidade e campo”, explica ele. “Se você elabora uma personagem complexamente neurótica, feminista, com todos os anseios urbanos, e se você senta esta mulher numa cadeira de couro, olhando uma paisagem desolada do sertão, há quem enxergue apenas o cenário e três ou quatro substantivos locais. Embora essa mulher fale da mesma dor e da mesma solidão de uma negra americana do Harlem”, compara o autor, herdeiro orgulhoso da tradição oral de sua terra.
“Acredito na supremacia da narrativa. As narrativas só perderão a função quando os homens perderem a fala, a audição e o dom de mentir. Costumo lembrar o quanto eram importantes os velhos narradores que tinham por única função na vida andar pelas casas interioranas, repassando conhecimentos que eles adquiriram e guardaram na memória. Acho que nenhum deles se perguntou algum dia sobre o valor do seu trabalho. Como também acredito que os aedos (artistas gregos que cantavam as epopéias) não se fizeram esta pergunta, enquanto fixavam o idioma, a mitologia e a épica grega”, lembra Ronaldo, que explica também sua recorrente inspiração em passagens e personagens bíblicos: “Aprendi a ler numa História Sagrada, que é uma seleta da Bíblia. Quando tinha sete anos, meu pai pediu que lesse em voz alta, para toda a família, um trecho da história de José do Egito. Foi a minha diplomação”, conta ele, “Eu sou um cara religioso, embora não freqüente nenhuma igreja. Costumo rezar, como os antigos hebreus, como Jó, aos impropérios, brigando com Deus. O mundo sertanejo lembra o da Bíblia, sendo que Deus foi desterrado dele.”

SOBRE O AUTOR: Ronaldo Correia de Brito nasceu no Ceará e mora em Recife. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolveu pesquisas e escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular, além de ter sido escritor residente da Universidade da Califórnia, em Berkeley, no ano de 2007.
Escreveu os livros de contos As Noites e os Dias (1997), editado pela Bagaço, Faca (2003), Livro dos Homens (2005), e a novela infanto-juvenil O Pavão Misterioso (2004), todos publicados pela Cosac Naify.
Dramaturgo, é autor das peças Baile do Menino Deus, Bandeira de São João e Arlequim. Escreveu durante sete anos para a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural, e atualmente assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine, do Portal Terra.

Fotógrafo: Hans von Manteuffel
DEPOIMENTO: Ronaldo Correia de Brito fala sobre escrita, memória, psicanálise e as paisagens onde suas histórias se ambientam:

Quando lancei As noites e os dias, em 1997, pela editora Bagaço, o poeta Alberto Cunha Melo escreveu que meus personagens são complexamente urbanos e habitam um sertão sem endereço certo, que pode estar em qualquer latitude. Em Galiléia, os primos Davi, Ismael e Adonias procuram reconstruir suas vidas na Noruega, no Recife e em São Paulo, longe do sertão em que nasceram. Por mais que eles tenham se distanciado da violência que ronda a família, voltarão a senti-la de perto, descobrindo que nunca escaparam ao destino que os cerca.

UMA RELEITURA DO SERTÃO – O sertão tanto pode significar um espaço mítico como um acidente geográfico. Santo Agostinho perguntava sobre o tempo: o que é o tempo? Se não me perguntam eu sei, se me perguntam, desconheço. O que é o sertão? Se não me perguntam eu sei, se me perguntam desconheço. O sertão é abstrato ou real como o tempo. E continuará sendo tema para a literatura. O sertão é um espaço de memória confundido com o urbano. É o melhor lugar do mundo para acessar a Internet, porque as Lan House cobram apenas cinqüenta centavos por hora. Galiléia trata dessas idas e vindas, mergulhos e retornos nesse mundo suburbano chamado sertão.
Sou inteiramente aberto às influências. Não estou nem aí para qualquer tipo de fidelidade. Sou marcado pela escrita de Rulfo, Borges e de vários escritores russos. O livro que marcou mais profundamente minha escrita foi a História Sagrada, que sempre li como um compêndio de narrativas e nunca como um escrito religioso. Concordo com o ponto de vista de Robert Alter de que a Bíblia é prosa de ficção.
Eu precisava escrever um romance para ter mais espaço para discussões que não cabem no conto. Mas, sou um romancista conciso. Nunca conseguiria escrever centenas de páginas como os russos e os escritores de língua inglesa. Levei a mesma tensão dos meus contos para o romance. E isso se alcança em poucas páginas.
Trabalho duas propostas de Ítalo Calvino na minha literatura: a exatidão e a rapidez. Sou obsessivo em tentar dizer o essencial com poucas palavras. A cada dia me preocupo menos com o efeito das frases. Já não tento alcançar a beleza; prefiro alcançar a verdade. Quase não crio metáforas e censuro os adjetivos. Acho que sou esquemático, o que não deixa de ser um perigo para a literatura. Mas não suporto gorduras, sempre busco chegar ao osso.
Sou um escritor psicanalisado e minha escrita reflete isso. Nunca quis exercer o papel de psicanalista, embora tenha feito formação. Não conheço boa literatura escrita por psicanalistas. O hábito profissional da escuta e da escrita psicanalítica contamina a criação literária e o resultado é sempre ruim. Freud escreveu boa literatura. Não digo o mesmo de Jacques Lacan.
Quando terminei de escrever Galiléia, tive a impressão de que havia escrito o roteiro de um filme. Escrevo sempre a partir de impressões visuais, arranjos de cena. Nunca escrevi por sugestão deste ou daquele texto literário. As imagens do cinema me sugerem muito mais profundamente do que um conto ou novela. Escrevo teatro com facilidade. Sou um homem de teatro, conheço a carpintaria teatral. Escrever para cinema e teatro é bom porque podemos acompanhar a encenação ou a filmagem, vemos a transformação do texto numa outra linguagem.
Escrever é um ofício custoso. É necessário ler muito, agüentar o tranco da solidão, ser capaz de uma viagem interior e estar sempre aberto às novas experiências da escrita. É um ofício amargo, duro, uma verdadeira ascese. Não vejo nenhum glamour em ser escritor. Só reconheço nessa profissão muito trabalho, uma busca permanente da literatura e horas contínuas de estudo.
Continuo trabalhando como médico e não pretendo me afastar da medicina, nunca. Escrever e atuar como médico são atividades sem conflito. Acho que não seria escritor sem o longo e exaustivo exercício da medicina. Todos os dias eu convivo com o sofrimento, com a doença, com a morte e a alegria da cura. Ouço histórias que anoto e que podem aparecer em algum conto ou novela. Em Livro dos Homens existem dois contos desenvolvidos a partir de minha vivência no hospital.
Só consigo viver fazendo muitas coisas. Todas elas estão harmonizadas e é como se eu me movimentasse dentro de um mesmo universo. Gostaria de escrever um livro que me deixasse satisfeito. Isso nunca acontecerá. Estou sempre esperando por esse livro. Ah, se fosse Galiléia! Mas tenho consciência da minha permanente insatisfação e já estou trabalhando em novos livros. Queria viver mais serenamente, sem a angústia da espera. Não desejar e não esperar. Isso é quase a santidade.