segunda-feira, 25 de maio de 2009

VERÔNICA DE VATE - CARLOS RIBEIRO

foto Ricardo Prado
CARLOS RIBEIRO nasceu em Salvador - Bahia, em 19 de agosto de 1958. Jornalista, ficcionista, ensaísta, mestre e doutorando em literatura pela Universidade Federal da Bahia, é autor dos livros Já vai Longe o Tempo das Baleias (contos. Salvador: Fundação Cultural da Bahia, 1982), O Homem e o Labirinto (contos. Salvador: BDA Bahia, 1995), O Chamado da Noite (romance. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1997), O Visitante Noturno (contos. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, 2000), Caçador de Ventos e Melancolias: um estudo da lírica nas crônicas de Rubem Braga (ensaio. Salvador: Edufba, 2001), Abismo (romance. São Paulo: Geração Editorial, 2004), Lunaris (EPP/Banco Capital, 2007) e À luz das narrativas: escritos sobre obras e autores (Edufba, 2009). Participa das antologias e coletâneas Oitenta, Geração 90: Manuscritos de computador (São Paulo: Boitempo, 2001), Chico Buarque do Brasil (Rio de Janeiro: Garamond,2004), Antologia de contos e crônicas de autores baianos contemporâneos (Salvador, 2004), Contos cruéis (São Paulo: Geração Editorial, 2006), Antologia panorâmica do conto baiano - século XX (Ilhéus: Editus, 2006), Quartas histórias (Rio de Janeiro: Garamond, 2006), Capitu mandou flores: contos para Machado de Assis nos cem anos de sua morte (São Paulo: Geração Editorial, 2008) e Travessias singulares: Pais e filhos (Rio de Janeiro: Casarão do verbo, 2008). Tem trabalhos publicados em suplementos culturais e revistas literárias, a exemplo de A Tarde Cultural, Revista da Academia de Letras da Bahia, Revista da Bahia, Exu, Qvinto Império e Rascunho. Em 1988 venceu o concurso de contos promovido pela Academia de Letras da Bahia e, desde 1998, co-edita a revista de arte, crítica e literatura Iararana. Dedicou-se durante muitos anos à divulgação científica, tendo participado de expedições à Antártida, Amazonas e diversas reservas naturais brasileiras. É membro da Academia de Letras da Bahia e professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB/Cachoeira.
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Carlos Ribeiro vai apresentar-se, no próximo dia 30 de maio, no projeto Travessia das Palavras, na cidade de Jequié, Bahia, coordenado por Leonam Oliveira e José Inácio Vieira de Melo. O evento vai contar com a participação especial do cantor e compositor Nuno Menezes.


NOITE


A noite hoje veio mais cedo. Nem as galinhas recolhiam-se aos poleiros, nem os sapos coaxavam na floresta, nem os pássaros repousavam do vôo diurno e o mundo cobriu-se de sombras.

No meu quarto sumiram, como por encanto, as derradeiras réstias de luz. Não sei se perceberam-nas os lavradores no campo, as lavadeiras do rio Paraguaçu, as inocentes criancinhas a tocarem burricos nesta terra sem fim e sem começo. A noite é como lembranças de amigos que não voltam mais.

A noite veio mais cedo hoje, e antes mesmo que viesse já a antecipara num crepúsculo de cores derramadas no vasto céu, fonte de tudo que há. O gado pastava no campo, indiferente. Nem o cavaleiro freava o cavalo, nem as luzes se acendiam nas cidades, nenhuma porta se abria ao viajante.

Assim, rapidamente, como num assalto, apossaram-se as sombras do mundo, e ante a indiferença dos demais, uniram-se numa só, gigantesca, a projetar-se na imensidão.

Desde então, recolhido em sombra, laboro em sonho formas singelas de luz.

CARLOS RIBEIRO

CARLOS RIBEIRO - VENTO MENINO

Menino: Ian Vinícius

VENTO MENINO

Chove. Pela janela o menino vê as árvores dançando nas tormentas, e no campo as folhas giram em redemoinhos vigorosos. E enquanto o vento a todos suscita terrores, ao menino oferta o fascínio.

Que medo faz essa dança de elementos indomáveis? Que medo traz o zumbido do vento, quando o coração do menino é o vento e a terra em seu contínuo devir?

O menino não está onde os olhos claros refletem os raios, mas lá mesmo, flanando, explodindo, bramindo, gritando, sentindo. Vento menino que colhe o tempo e o carrega para além das almas. Menino vento que toca o sino da igreja, na torre mais alta da sua alegria.

E enquanto for vento ninguém lhe dirá: fique quieto, menino! E ninguém poderá detê-lo: nem as ordens do rei, nem decretos-lei, nem as normas do bom viver. Que bom viver sem normas, vento-rei de tudo, que além de tudo é menino e voa feliz sobre a face do rio.

CARLOS RIBEIRO

quinta-feira, 21 de maio de 2009

9ª BIENAL DO LIVRO DA BAHIA - CAFÉ LITERÁRIO

Antonio Calloni e José Inácio Vieira de Melo
Tema: Atualmente, a internet é o lugar da poesia?

Coordenado por Guiomar de Grammont, o Café Literário da 9ª Bienal do Livro, do dia 19 de abril de 2009, apresentou, às 20 horas, os poetas Antonio Calloni e José Inácio Vieira de Melo, que além de discutirem sobre o tema proposto, discorreram também sobre o fazer poético e sobre a recepção da poesia nos dias atuais. Os poetas leram poemas de seus livros mais recentes: Paisagem vista do trem (Antonio Calloni) e A infância do Centauro (José Inácio Vieira de Melo). Parte da família de JIVM veio das Alagoas para assistir o evento. A noite de poesia foi encerrada com JIVM soltando um aboio de Vavá Machado e Marcolino, os Bridões de Ouro do país das Alagoas, mesclado por versos de João do Vale, compositor maranhense de valor singular. O registro deste encontro poético ficou por conta do grande fotógrafo Ricardo Prado.
fotos Ricardo Prado











quarta-feira, 20 de maio de 2009

JIVM - GRÃO DE AREIA

foto Ricardo Prado

Antonio Calloni lendo o poema Grão de areia, de José Inácio Vieira de Melo


GRÃO DE AREIA

Para Carlos Moisés Soglia de Melo


Meu filho, vês aquele grão de areia?
É o teu pai nascendo para os mistérios.
E o que está agora a compor teus pensamentos
é a poeira cósmica dos intergalácticos sertões
pelos quais percorreu o grão de areia
até chegar aqui e nascer para este mundo.

Meu filho, aquele gigante que nos espreita?
É a sombra do grão de areia de onde vieste,
é o grito de teu pai mirando o Cosmo
e te invocando para o sacrifício da vida.

Meu filho, aquele seixo é o teu começo.
Tu o conduzirás às alturas das tuas possibilidades
em um sonho de aventuras e esperanças
que quando finda começa, e é assim mesmo.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

ANTONIO CALLONI - VERMELHO

foto Ricardo Prado
José Inácio Vieira de Melo lendo o poema Vermelho, de Antonio Calloni


VERMELHO


Vermelho espelho
espelha o seio
o seio rosado
de canto sereia

No seio segredo
de leite eterno
de seio espelhado
no espelho vermelho

E o barco do homem
no espelho alado
avista o seio
no espaço rasgado

Mares e seio
na unidade matéria
descendem do Deus
homens, grutas, artéria

Eterno e contínuo
o espelho espelha
seios, barcos, homens
além do olhar
da cona
do falo
além do suar
espelha a mulher
a cantar a beijar
o homem do barco
ferido de ar
pelo fogo da língua
sereia e luar

O espelho vermelho
espelha o corpo lunar
corpos lua
corpos luar
e o barco do homem
viaja no ar
do canto sereia
corpos
lua
luar


ANTONIO CALLONI

segunda-feira, 11 de maio de 2009

HAI-KAIS AOS MESTRES

José Inácio Vieira de Melo


O FATALISTA

Nos olhos do cão:
Alberto da Cunha Melo
– vate e furacão.


A MÍSTICA

Conceição Paranhos:
Maria – santa em delírio,
seus versos me banham.


O SEMEADOR

José Chagas planta
sementes no sentimento:
silêncios que cantam.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

VERÔNICA DE VATE - ÂNGELA TOLEDO

Ângela Toledo pintando os muros do Morro de São Paulo

ÂNGELA TOLEDO POR ÂNGELA TOLEDO
De Miracema (RJ), onde nasci em 10 de outubro de 1963, mudei-me para Salvador, em janeiro de 1986, onde trabalhei em agências de publicidades como a Publivendas (Fernando Carvalho) e DM-9 (Duda Mendonça). Em Salvador comecei a publicar meus poemas em folhetos, influenciada na época pelos "Poetas da Praça" e pelos intelectuais e escritores que frequentavam o "Quintal - Raso da Catarina" no Campo Grande.
Desde 1991, moro em Morro de São Paulo (município de Cairu-BA), povoado turístico da ilha de Tinharé, na Costa do Dendê. Lá, ao lado de Beto Bahia e Fernanda ViaCava, fundei o Grupo Ensaio, o primeiro do gênero em Morro.
Depois de quatro "folhetins", lancei 40 modelos de poemas postais em série de 8, ilustrados por artistas diferentes. Lancei um poema cartaz com foto de Claude Santos e no total foram sete livros alternativos sendo que o primeiro, Azul (1995), teve apresentação de Jorge Mautner e o último, Vaga Lume, foi publicado em 2004. São livros muito simples e afora os dois mencionados os outros foram feitos por mim mesma. Faço também camisas e bolsas com poesias minhas, em pintura e silckreen. Pinto os muros com poemas, que viraram atração turística aqui no Morro.
Apresento performances ou recitais de Poesia no Teatro do Morro (toda quarta-feira), e onde sou convidada. Organizei durante onze anos a "Semana da Poesia do Morro de São Paulo" de 11 á 14 de março, mantive um projeto de educação sócio-ambiental (voluntariado) e a criação do Grupo Poema Doido com as crianças do projeto.
Este ano retomei meus estudos para concluir o 2º grau. Trabalhei muitos anos como babá, doméstica, balconista, enfermeira, fotógrafa e garçonete. E tenho amigos excepcionais que me enchem de orgulho e alegria já por serem meus amigos.
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Ângela Toledo vai apresentar-se, no próximo dia 9 de maio, no projeto Uma Prosa Sobre Versos, na cidade de Maracás, Bahia, coordenado por Edmar Vieira. O projeto conta com a participação especial do Grupo Concriz, que vai apresentar um recital com poemas de Ângela.

Mural de Ângela Toledo

SILÊNCIO

Tem silêncio em mim,
que não me deixa nem
silenciosamente escrever.
Tem um silêncio em mim,
que ninguém consegue ver
que se perde em si próprio
de tanto se saber.
Tem um silêncio em mim, que
se guarda e se separa,
que se acalma, mas não pára,
que se esconde mas não se cala.
Tem um silêncio em mim,
que nem sei de onde vem:
talvez venha de alguém
e se guarde não sei prá quem.

ÂNGELA TOLEDO

terça-feira, 5 de maio de 2009

BRASIL O EL UNIVERSO SUMERGIDO DE JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

Carlos Andrés Almeyda Gómez

Fotógrafo: Ricardo Prado

Bien podría decirse del poeta brasileño José Inácio Vieira de Melo (Dois Riachos, Alagoas, Olho d’Água do Pai Mané, 1968) que, en él, la fuerza de una nueva poesía no sólo se junta -en reflexiva y elevada alquimia- con el decir ‘pial’ o primitivo de buena parte de las letras anteriores, hermanadas más con la idiosincrasia del mito que con las rupturas habituales de las generaciones que le siguen, sino que además logra conciliar varios discursos en un tono mediático, existencial. Y es que, la verdad sea dicha, desde fenómenos como la antropofagia y los cantares pastoriles que suplantaron en el Brasil aquellos ataques modernistas que padecía el resto de nuestro continente, la poética imperante subrayó una suerte de primitivismo en el que lo lírico sometía algunas nociones subjetivas al terreno de la ruralidad, de ahí que en Vieira de Melo -cercano en todo caso a una poesía de raíces populares, ejemplo de ello es su primer libro Códigos do Silêncio, y posteriormente decantada tras la adopción de nuevos y poliformes guiños- el poema conlleve a un diálogo tangible entre lo geográfico, lo ancestral y una voz foránea a la retórica de esos acontecimientos que marcaron a poetas alagoanos como Jorge de Lima.
En este, su tercero libro, A Terceira Romaria, se hace claro el porqué de su título, dado que hay una multitud en compleja conversación, hay una turba de voces que revelan, como lo afirmara el poeta Lêdo Ivo, un “lirismo cortante como el filo de una navaja, una poesía que, antes árida, esconde y guarda una lluvia secreta”. De una voz en mutación, de la suma de vicisitudes y el personal universo en expansión que le lleva a terrenos metafísicos puede citarse Ciço Cerqueiro, uno de los poemas más representativos en A terceira Romaria y del cual Hidelberto Barbosa Filho nos informa con acierto en su prólogo: “la precisa transmutación de ese yo-poético asimila la singularidad de una mirada e idiosincrasia particular, por medio de una empata perceptiva, bien cercana a poetas en fase de maduración”.
Esa “simbología cultural” es el guiño más visitado en la poesía de Vieira de Melo. Salta a la vista, además, su clara disposición al juego interdisciplinario, digamos que esa norma de transito que hace de un poeta joven, una especie de pequeño santuario de afectos. La alusión a sus autores, la estructura profunda que delata lo suyo y que a la vez crea lazos con esos amores ‘foráneos’: El sesgo, o más bien la influencia, de aquellos autores que asoman en el intertexto. Federico García Lorca por ejemplo, de quien Vieira de Melo ha sacado no sólo el título de su poema Bodas de sangre: “¿Qué belleza es esta que tanto me incomoda? (…) ¿O qué anuncian tus inquisidores y translucidos ojos?”. Luego, la cuestión se resuelve, hay formas y lenguajes en un dialogo, una puesta en escena desde el trópico -el verde Brasil- con un frío aire de requiebro gitano, teatro de sincretismos: “Todo en ti es doble, señora del amor brujo. / En tus manos se multiplican los gestos y las bendiciones / y con tus manos dices más que cien mil bocas juntas…”.
Con Paraíso perdido, como Milton, el texto poético toma fuerza, sin tener que romper la simplicidad para demostrar que alude a una compleja maquina, la alquimia del verso es su fuerza para expresarse desde un universo tan pequeño, sin nada que le delate como artificial o esquivo:

Quizá no te acuerdes de la flor
ni mucho menos del rocío,
pero si miras hacia dentro
descubrirás el jardín y la fuente.

De los poemas del libro, Construcción, es uno de esos raros o apológicos textos que hablan del Vieira de Melo anterior al autor que aflora de otros poemas en el libro, es decir, es algo más experimental en cuanto a su decir, como un ars poetica del joven que permanece tras el laboratorio de imágenes de A terceira Romaria.
El sentido onírico que parece ocultarse en algunos trechos del libro demuestra hasta que punto Vieira de Melo ha sabido reunir en un solo espécimen poético tal cantidad de imágenes y recuerdos que no sólo la vivencia es la que se aflora, si no que hay un sin número de convidados que dicen lo suyo, otra vez esa ‘romaria’, las pasiones vitales en ebullición y una pluralidad sometida al bien de un universo particular.
Finalmente, véase como la diversificación en significantes y temáticas hace que Vieira de Melo pueda salir airoso al acartonamiento del ‘arte pastoril’ del cual abrevaron sus poemas inaugurales, viene a revitalizar, tras una búsqueda más intuitiva y a la vez más universal, un discurso diletante y reconciliador, ese micromundo que ayuda a la poesía local o continental a salvarse de las taras que otras generaciones la han impuesto. El universo de José Inácio Vieira de Melo es precisamente eso, la mutación de una voz en conflicto con la estética que la cohabita, un asunto de magia literaria.


Carlos Andrés Almeyda Gómez es colombiano. Éditor de la Revista Artificios y director del periódico de libros Lecturas Críticas.

Texto publicado na revista Agulha, em Fortaleza e São Paulo, em janeiro/fevereiro de 2007