sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

EN LA OTRA ORILLA DEL SILENCIO

En la otra orilla del silencio é o título da antologia que será lançada na próxima segunda-feira, dia 27, na Cidade do México. 22 poetas brasileiros contemporâneos foram selecionados pelo poeta paulista José Geraldo Neres e traduzidos para o espanhol pelo poeta mexicano Fernando Reyes. Veja abaixo a relação dos poetas e, ao final da postagem, um de meus poemas que constam na antologia.



EN LA OTRA ORILLA DEL SILENCIO, UNAM, 2012
POESÍA CONTEMPORÁNEA BRASILEÑA

Compilación: José Geraldo Neres
Traducción y Edición: Fernando Reyes

AUTORES: JORGE PIEIRO | R. LEONTINO FILHO | EDSON BUENO DE CAMARGO | NEY FERRAZ PAIVA | PAULO KAUIM | WILMAR SILVA | FLÁVIA PEREZ | JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO | ARTHUR CECIM | DENISON MENDES | MARCO VASQUES | KARINA JUCÁ | KATYUSCIA CARVALHO | DOMINGOS GUIMARAENS | MÁRCIO SIMÕES | AURORA LEONARDOS | BEATRIZ BAJO | RÁDI OLIVEIRA | MARIANO MAROVATTO | DHEYNE DE SOUZA | AUGUSTO DE GUIMARAENS CAVALCANTI | AFONSO HENRIQUE RODRIGUES ALVES |

La Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) a través del Colegio de Ciencias y Humanidades, con el apoyo de Ediciones Libera. Se presentará en la Feria Internacional del Libro del Palacio de Minería (Calle Tacuba # 5, Centro Histórico, de la Ciudad de México) el día 27 de febrero de 2012. 

Remedios Varo - A sétima irmã


SIETE HERMANAS
Para Remedios Varo


Esas siete musas mal asombradas
de cabelleras rubias, mugrientas,
son santas de relicario encarnadas,
traen entre las manos mis siete vidas.

Las cabelleras rubias de esas musas
son enredaderas místicas en rito,
un anhelo claro como un oráculo
escalando las formas breves del mito.

Son siete noches vividas por Borges,
son siete hadas de la isla de Lesbos,
son siete acordes de Joaquín Rodrigo,
son siete facones de Aderaldo, el Ciego.

¡Ah, mis siete hermanas, hijas de Safo,
lamer vuestros culos es mi paraíso!
La plenitud de vuestras entrañas
es un amparo de estos mis delirios.

Siete musas embarazadas, musas graves,
la gravidez no pesa en el abrigo.
Mi voz es un camino ciego
como Borges, Aderaldo y Rodrigo.

Ah, mis siete hermanitas serenas,
vamos a jugar mientras hay tablero,
siete damas-reinas, siete Helenas,
soy vuestro ciervo, vuestro caballero.

Musas oblongas, vientres salientes,
en vuestras carnes calientes yo reparo,
de cabo a rabo, con placer y encanto,
las siete faces de Remedios Varo.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO
Traducción: Fernando Reyes

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

JIVM - PEDRAS AMOLADAS, FACAS ATIRADAS



PEDRAS AMOLADAS, FACAS ATIRADAS
Para João Cabral de Melo Neto


Vai, poeta
pega a xara
e amola as tuas facas
e de uma só cutelada
desata a sangria

O olhar já é pétreo:
Vai, tira o couro da poesia
– não temas a carne trêmula –
e inerva os teus versos

Vai, poeta
com tuas facas
destrincha a carne
e nela passa o sal
e estende-a ao sol
                       
Então não é dessa
carne seca que é feito
o teu ritmo?

Vai, magarefe
                       das palavras

Ah poeta
apesar de tuas lâminas
serem as mais afiadas
é a pedra do rim
                          que é
pois com tuas pedradas
descubro e descubro

Vai, poeta doido
                           de pedra.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

TERRA NA VEIA: A POESIA DE JIVM

Por Romério Rômulo

Capa da primeira edição: Ramiro Bernabó - Capa da segunda edição: Fernando Aguiar

1. princípio

cada vez mais antecipo que poesia é auto-revelação. dos sonetos do shakespeare à divina comédia do dante.
do eu do augusto ao cão sem plumas do joão cabral. da rosa do povo do drummond aos sonetos do camões.
dos cantos do neruda aos operários do vinicius. do roseiral do josé inácio ao roçzeiral do gullar.


2. decisão

sertanejo decide nascer. JIVM brotou em alagoas e foi andar nas plagas da bahia. nada impune, que não se faz um sertanejo impunemente. ainda mais poeta.


3. romarias

quantas romarias faz um poeta? por decisão, em motivos que só ele domina, JIVM relata a Terceira:

 “ouvir os deuses do campo
pelos bicos dos passarinhos”

josé já se converteu nos códigos do silêncio e na decifração de abismos. outras palavras caminharam.
josé, firme, que sertanejo anda a cavalo.


4. os passos

a terceira romaria me traz umas cidades invisíveis do italo calvino. mas, cabe melhor sondá-la como fazenda de porteiras rompidas.
caminhei pelo livro e descontrolei uns versos. montei e desmontei poemas, que JIVM merece.

abre:

 “eu, poeta dos sertões,
passarinho do vento nordeste...”

“por teres me escolhido para fundar
os jardins das algarobeiras
e dos mandacarus.”

em “olho d' água”, porteira 1:

“ah, essas cicatrizes, esses calos
pelo corpo e pela alma do menino.
ah, esse deserto de ilusão.”

tudo memória, que essa terra exige memória.

“a poesia era um buraco maior que o buraco.
...............................................................
a poesia lava os pés e as lágrimas.”

JIVM descobre a serventia do verso, descobre a sua devassidão. e relata a ausência de tudo, o vazio descomunal.
sua paz é pródiga:

“a violência
que existia em mim
rasguei na bala.”

ou saga:

 “anjos bêbados anunciando o apocalipse às estrelas:
era um joão batista, era um zé limeira, era eu.”

as dúvidas, perdidas e achadas:

“qual lâmina d'água decepará a dúvida?”

os sertões presentes:

“não me ofereça o paraíso, quero o seixo da estrada.”

na “ribeira de traipu”, porteira segunda:

“de repente dava um redemoinho
na minha cabeça de vento
e já era outra história.”

“lá o documento é a palavra”. dela também se faz o estalo da vida, quando o poeta é convidado a apascentar rochas, nos peitos da vacaria.
na romaria mesmo, “lá me vou com minha cruz/ peregrino de mim mesmo/ no meio da travessia.”
JIVM fala das suas terras, suas valas, seus cercados. um pé de milho pode ser poesia. qualquer oco de mundo vai ser verso. o menino perdido no beiço das estradas, acocorado nas enchentes, se mostra uma revelação do espanto.

“maturi”, penúltima porteira:

“na primeira vez,
senti, pela primeira vez,
o mistério das estrelas.”

e na cantiga de amor:

“és tanto e tudo e como dói a tua ausência.”

as bodas de sangue, em versos de garcia lorca, aparecem. contra os punhais, uma peixeira de 12 polegadas. ferro contra ferro. para antonio gades, morador de havana, nascido nas brenhas e bailador gitano do mundo, há uma oferenda.

na última porteira, “cerca de pedra”, o poeta fecha o verbo:

“o poeta traz os segredos da poeira.
em sua mão pulsa o nó do espanto:
um sorriso bêbado de eternidade:
um poema.”

fechado com cerca de pedra, “ouvindo/ o silêncio das estrelas!”


5. declaro:

por meu fiel amigo manuelzão, guia e personagem do guimarães rosa, que JIVM bebeu em definitivo das águas da poesia. a terra soa nele como praga e bênção.


romério rômulo campos valadares é professor de Economia Política da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. Poeta e editor, publicou vários livros de poesia, entre eles Bené para flauta e Murilo (1990), Matéria Bruta (2006) e Per Augusto & Machina (2009).


Prefácio da segunda edição de A terceira romaria, publicada  em 2011.