quinta-feira, 23 de abril de 2009

VERÔNICA DE VATE - KÁTIA BORGES


KÁTIA BORGES é jornalista, formada em Comunicação Social pela Ufba e especialista em Gestão da Informação em Multimeios (FTC) e Análise do Discurso Audiovisual - Televisão, Cinema e Vídeo(Ufba). Desde 1995, trabalha no jornal A TARDE, onde atualmente é uma das editoras da revista semanal "Muito". Poeta, lançou o primeiro livro, "De volta à caixa de abelhas", em 2002, pelo selo As Letras da Bahia. Tem poemas publicados em duas coletâneas, "Sete Cantares de Amigos" e "Concerto Lírico para 15 vozes", e incluídos no projeto "Mídia Poesia", parceria entre TVE e Rede Bahia. Foi selecionada, ainda, para integrar a coleção "Roteiros da Poesia Brasileira", no livro dedicado aos poetas dos anos 2000, a ser lançado pela Editora Global. Tem poemas publicados em revistas eletrônicas, como "Sibila", "Panaroma da Palavra", "Rascunho", "Máquina da Palavra" e "Jornal da Poesia". Já participou de diversos projetos de recitais e encontros com leitores, como "Malungos", "Poesia na Boca da Noite", "Travessia das Palavras" e "Semana de Letras da Ufba". Edita o blog "Madame K" (http://www.mmeka.wordpress.com/) e escreve também para teatro, tendo participado no ano passado da peça "Batata!", do grupo baiano Dimenti, com o texto "O escorpião amarelo".


AO SOL


Sair ao sol,
encarar o dia,
sem medo das sombras
que insistem.

Sim, sair de dentro
e ver a rua e o mundo,
com ruídos, entre dentes,
buzinas, rangidos, vômitos,
sob a luz que escorre
na cidade quente.

No meio fio,
sentar e apreciar a paisagem,
com seu tanto de Guernica, de guerra civil
mascarada por rostos
sorridentes.

Sair ao sol,
enquanto chove
intermitantemente.


KÁTIA BORGES

KÁTIA BORGES - DESASSOSSEGO



DESASSOSSEGO


Na porta da mercearia
de bairro, fumo um cigarro,
o primeiro do dia, após
um acontecimento que
não é de amor ou de poesia.

Na porta da mercearia,
sonhos antigos passam,
acenam, pedem adeus.
Ah, Deus, se vão,
“com o mistério das coisas,
por baixo das pedras e dos seres”.

Três moedas tilintam no bolso
da bermuda xadrez, ouço
uma canção distante.
Peço que tirem os chapéu
sem respeito aos meus sonhos
mortos, um momento solene
no café, algo que celebre
esta melancolia ou a dilacere de vez.

(E, como este “fumo leve
que foge entre meus dedos”,
segue o segredo de viver sem culpas
que desconheço)

Na porta da mercearia de bairro,
pouco importam os astros,
e a água da Lua. Na Terra, só
esta secura envolta em bruma.
Na Terra, só este desassossego…


KÁTIA BORGES

segunda-feira, 20 de abril de 2009

GABRIEL INÁCIO SOGLIA DE MELO - DOIS ANOS

“Clareia manhã, clareia! Abre as janelas manhã
E deixa esta casa cheia com teu cheiro de romã"


O dia começa. Hoje, meu filho caçula, Gabriel Inácio Soglia de Melo, está completando dois anos de idade. Neste momento, estou em Salvador. Gabriel, em Jequié. Sei que está acordando, sei que seus cabelos anelados trazem notícias dos sonhos dos querubins. Gabriel galopa no vento, Gabriel traz os segredos da poeira em suas mãos. Gabriel é o sopro da esperança a movimentar meus dias. É o ânimo, o brilho que chega em minha alma e a faz delirar. Gabriel Inácio é a poesia que existe neste momento e eu posso sentir sua presença em cada movimento do meu ser, do meu espírito, do meu intelecto.
Gabriel, meu filho, sopro ao vento esta oração e louvo tua presença, e te digo daqui, de todos os lugares do meu ser, anda sempre pelo caminho do bem e busca sempre a felicidade. Parabéns, meu filho querido.
JIVM

Fotos: Ricardo Prado

"Gabriel traz os segredos da poeira em suas mãos"

" A mim ensinou-me tudo/ Ensinou-me a olhar para as coisas"

"A Criança Eterna acompanha-me sempre."

quinta-feira, 16 de abril de 2009

41

Fotógrafo: Ricardo Prado

“Não existe um só homem que algum dia já não tenha pegado uma navalha em suas mãos e que ao mesmo tempo não tenha pensado em como seria fácil cortar o fio prateado da vida”Lord Byron
Ufa! Escapei dos quarenta!
Agora que cheguei aos 41, posso confessar que fazer 40 anos foi um dos momentos mais difíceis e terríveis da minha vida. Senti um desespero tão grande... Uma dor no peito, uma tristeza. É que descobri que não era imortal. E aí percebi que já não tinha mais aquele corpo vigoroso, que não tinha chegado a lugar nenhum e que todos me olhavam desapontados. Na verdade, eu é que estava desapontado com tudo. E comigo.
Mas aí o mal já estava consumado, o dia 16 de abril de 2008 passou. E as dores na coluna foram ficando mais fortes. E eu só pensava em sumir. E o pior que não era sumir no mundo não. Eu sentia vontade de sumir do mundo. Mas aí vinha a lembrança de meus filhos e, em algum cantinho, esboçava-se um sorriso dentro de mim. Ah! estes filhos maravilhosos! Mas aí vinha o pensamento: “eu sou um irresponsável! Como é que fui colocar filhos neste mundo miserável! Para viver uma existência mesquinha, limitada e sem sentido”. Cheguei mesmo a desejar não estar vivo.
Mas me agarrei com meus poetas – os santos culpados – e fui tocando em frente. Um dia depois do outro mergulhado em profunda tristeza. Até que um dia comecei a ler um livro de um japonês chamado Akutagawa, um sujeito que se suicidou aos 35 anos com uma dose de Veronal. Antes, escreveu um conto chamado A vida de um idiota. Quando o li, percebi quanto daquela maneira de ser estava dentro da minha, o quanto éramos parecidos, irmanados. Ao final do conto, o personagem – ele próprio – pedia desculpas à mulher e aos filhos por suas limitações, lamentava mesmo a infelicidade deles em o terem como pai, e por aí seguia.
Foi então que percebi que o caminho seguido por Akutagawa não era o meu. Lembrei-me de minhas origens sertanejas, lembrei-me de meus delírios de poeta. Senti vontade de dar um passo e depois outro e outro e outro. Senti necessidade de caminhar, caminhar apenas por caminhar. E as coisas começaram a vicejar de novo, os versos voltaram a brotar no meu ser.
Aí, eu saí daquela depressão, abandonei a tristeza e fui cuidar em viver. Viver cada momento. Viver por viver. Viver até a hora que der certo. Viver até morrer de tanto viver.
E, agora, cá estou com 41 anos. Cheio de vontades. Meus filhos e minha mulher dormem. Estão com saúde. Eu também com saúde. Muitos livros para ler. Um livro para publicar. Muitos projetos. Amanhã começa a Bienal do Livro. Estarei lá com meus companheiros, levando a palavra poética ao sentimento das pessoas. Agora, posso dizer: este é um momento de felicidade.
JIVM
Quero celebrar este momento com poesia – música que toca em minha alma:

Um Poeta é um rouxinol
que se senta na escuridão
e canta para se confortar
da própria solidão com belos sons;
seus ouvintes são como homens arrebatados
pela melodia de um músico invisível,
que se sentem comovidos e em paz,
ainda que não saibam como nem porquê.

PERCY BYSSHE SHELLEY

sexta-feira, 3 de abril de 2009

PRAÇA DE CORDEL E POESIA – O GRANDE ENCONTRO DOS POETAS BAIANOS

Por José Inácio Vieira de Melo


Para a Praça de Cordel e Poesia, na 9ª Bienal do Livro da Bahia, foram convidados 101 poetas, um número bastante animador. Artistas da palavra, de vários territórios do estado, desfilarão seus versos durante os 10 dez dias de celebração do livro.
São poetas das mais diversas vertentes. Alguns, célebres, como Maria da Conceição Paranhos, Antonio Brasileiro e Ruy Espinheira Filho. Outros, estreantes, dando seus primeiros passos, como os editores da revista Entre Aspas: Georgio Rios, Paulo André e Thiago Lins ou os editores da revista Na borda da xícara: Fabrício de Queiroz e Max da Fonseca. Vários deles, ainda inéditos, postando seus poemas em blogs criativos e sonhando com a publicação do primeiro livro, como é o caso de Martha Galrão, Raiça Bonfim, Emanuel Mirdad e Priscila Fernandes.
Os cordelistas vão dar um colorido especial para a Praça, apresentando seus tipos extraordinários, ou ainda, descrevendo as personagens de destaque de sua comunidade com traços bem engraçados. Antonio Barreto, Franklin Maxado e Jotacê Freitas são alguns dos nomes representativos da literatura de cordel que estarão presentes, assim como um expressivo grupo de novos cordelistas da Bahia, sendo Tarcísio Mota um dos mais jovens, com 18 anos. As mulheres também marcarão presença. Maysa Miranda, Creusa Meira e Gilmara Cláudia mostrarão que a força feminina também vigora no cordel.
Além dos cordelistas, a Praça de Cordel e Poesia vai contar com a participação das duplas de repentistas: Paraíba da Viola & Tranquilino e Caboquinho & João Ramos, e da dupla de emboladores Palito & Braz.
Como já foi dito, poetas de vários territórios da Bahia participarão do evento, o que reflete uma das prioridades da Secretaria de Cultura do Estado, que é descentralizar a cultura, ou seja, desconcentrar a atenção dos territórios do Recôncavo e da Região Metropolitana de Salvador, e valorizar também os outros 24 territórios de identidade da Bahia. Desta maneira, desde poetas dos territórios do Baixo Sul e do Litoral Sul até poetas dos territórios do Portal do Sertão e do Piemonte Norte do Itapicuru estarão presentes mostrando para o público a força artística proveniente do seu lugar de origem.
E de todos os rincões da Bahia afloraram poetas para participar da Praça: o cordelista José Olívio, do Agreste de Alagoinhas; os poetas Georgio Rios e Inaê Sodré, da Bacia do Jacuípe; Leonam Oliveira e Jussara Midlej, do Médio Rio de Contas; Júlio Lucas, cosmopolita do território de Itaparica; e Edmar Vieira, Vitor Nascimento Sá e Marcelo Nascimento, integrantes do Grupo Concriz, do Vale do Jiquiriçá. O grupo Concriz, proveniente da cidade de Maracás, é um dos destaques da Praça de Cordel e Poesia. Sua força jogralesca e o aprimoramento técnico de seus recitais têm rendido elogios de grandes nomes da literatura baiana, como Florisvaldo Mattos, Roberval Pereyr e Ruy Espinheira Filho.
E mais: Moacir Eduão, do território de Irecê; José Walter Pires, do Sertão Produtivo; Herculano Neto, do Recôncavo; Nívia Maria Vasconcellos, do Portal do Sertão; Antonio Naud Junior, do Litoral Sul; Vânia Melo e vários outros da Região Metropolitana de Salvador. Para completar o time, Walter César, poeta beat da Aldeia de Arembepe. E muitos, muitos outros grandes talentos.
A Bahia, berço da poesia brasileira, é acolhedora por natureza. Poetas nascidos em outros Estados e em outras Regiões encontraram alento no seio da terra de Gregório de Mattos. E aqui aportaram Ivan Maia e Héber Sales, oriundos do estado de Pernambuco; Mônica Menezes, de Sergipe; Eliana Mara Chiossi, de São Paulo; Fabrícia Miranda, do Rio de Janeiro; Thiago Lins e Nuno Gonçalves, do Ceará. Nomes certos na Praça.
Outro grupo representativo que vai marcar presença no evento é o Poetrix. Criado pelo poeta Goulart Gomes, o movimento espalhou-se pelo mundo afora, tendo hoje mais de 200 mil adeptos. A Praça vai ter onze integrantes do Poetrix, uma verdadeira seleção. Seis dos poetrixtas são de outros Estados: Regina Lyra (PB), Lílian Maial (RJ), Marilda Confortin (PR), Hércio Afonso, Pedro Cardoso e Reneu Berni (DF).
Além desta pluralidade de poetas, representantes de praticamente todos os territórios de identidade do Estado, o projeto vai contar com a força cênica do ator Jackson Costa, com a interpretação suave e sensível da bela cantora Carla Visi e com a presença marcante do cantador Sapiranga. Jackson vai recitar poemas de Castro Alves e de Patativa do Assaré. Carla vai interpretar poemas de Cecília Meireles que foram musicados por Raimundo Fagner. Sapiranga vai mostrar o telurismo de suas composições.
A Praça prestará homenagem aos poetas Patativa do Assaré e Antônio Vieira. Patativa, pelo seu centenário de nascimento, e Antônio, artista singular da Bahia, pelo seu falecimento em 10 de junho de 2007. Os dois poetas terão seus poemas recitados ao longo da Bienal. Albert e Alexandre Vieira, filhos do poeta baiano, declamarão cordéis de seu pai.
Antônio Vieira apregoava que “os nomes dos poetas populares/ deveriam estar na boca do povo”. No grande encontro dos poetas da Bahia, na Praça de Cordel e Poesia, eles serão proferidos em alto e bom som, ecoando por dez dias para mais de 250 mil pessoas ouvirem.

José Inácio Vieira de Melo é poeta, jornalista e produtor cultural. Curador e coordenador da Praça de Cordel e Poesia.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

9ª BIENAL DO LIVRO DA BAHIA - PRAÇA DE CORDEL E POESIA



9ª BIENAL DO LIVRO DA BAHIA
PRAÇA DE CORDEL E POESIA
COORDENAÇÃO E CURADORIA:
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO


Dia 17 (sexta-feira)

18h - POESIA
Inaê Sodré
Raiça Bomfim
Gibran Sousa
&
Barná Cardoso

19h 10min - CORDEL
Antonio Barreto
Franklin Maxado

20h 20min - POESIA
Edgar Velame
Ivan Maia
Jackson Costa


Dia 18 (sábado)

18h - POESIA
Fabrícia Miranda
Júlio Lucas
Leonam Oliveira

19h 10min - CORDEL
Paraíba da Viola
&
Leandro Tranquilino

20h 20min - POESIA
Antonio Brasileiro
Ruy Espinheira Filho


Dia 19 (domingo)

18h - POESIA
Antonio Naud Júnior
Rita Santana
Idmar Boaventura

19h 10min - CORDEL
NOVOS CORDELISTAS DA BAHIA:
Carlos Neves
Creusa Meira
José Olívio
Rogério Snatus
Tarcísio Mota
Osmar Machado Jr.
&
Igor Reis

20h 20min - POESIA
Martha Galrão
Marcus Vinícius Rodrigues
Nívia Maria Vasconcellos


Dia 20 (segunda-feira)

18h - POESIA
Emanuel Mirdad
Sérgio Silva
Wesley Correia

19h 10min - CORDEL
Carlos Alberto
Davi Nunes
Pardal do Jaguaribe
Lucas de Oliveira

20h 20min - POESIA
Adriano Eysen
Eliana Mara Chiossi
Walter César


Dia 21 (terça-feira)

18h - POESIA
MOVIMENTO POETRIX:
Goulart Gomes
Hércio Afonso
Jussara Midlej
Lílian Maial
Marco Bastos
Marilda Confortin
Oswaldo Martins
Pedro Cardoso
Regina Lyra
Reneu Berni
Sandra Mamede

19h 10min - CORDEL
GRUPO CONCRIZ:
Caroline Brito
Edmar Vieira
Gina Alves
Hermann Henrique
Ivana Karoline Machado
Marcelo Nascimento
Mateus Machado
Pablo Sá
Vitor Nascimento Sá

20h 20min - POESIA
Maria da Conceição Paranhos
Luis Antonio Cajazeira Ramos


Dia 22 (quarta-feira)

18h - POESIA
Bernardo Almeida
Fabrício de Queiroz
Max da Fonseca

19h 10min - CORDEL
Palito
&
Braz

20h 20min - POESIA
Damário Dacruz
Lita Passos
Wladimir Cazé


Dia 23 (quinta-feira)

18h - POESIA
Georgio Rios
Paulo André
Thiago Lins

19h 10min - CORDEL
Jotacê Freitas
Sergio Bahialista
&
Gutemberg

20h 20min - POESIA
Elizeu Moreira Paranaguá
Vânia Melo
Herculano Neto


Dia 24 (sexta-feira)

18h - POESIA
João de Moraes Filho
Nuno Gonçalves
José Ricardo Vidal

19h 10min - CORDEL
Crispiniano Neto
Albert Vieira
Alexandre Vieira

20h 20min - POESIA
Kátia Borges
Mayrant Gallo


Dia 25 (sábado)

18h - POESIA
André Galvão
Mônica Menezes
André Guerra

19h 10min - CORDEL
Caboquinho
&
João Ramos

20h 20min - POESIA
Cardan Dantas
Paulo Pedro Pepeu
Xangai


Dia 26 (domingo)

18h - POESIA
Heber Sales
Priscila Fernandes
Moacir Eduão

19h 10min - CORDEL
NOVOS CORDELISTAS DA BAHIA:
Gilmara Cláudia
Maysa Miranda
João Augusto
José Walter Pires
Alemão do Ceará
Zezão Castro

20h 20min - POESIA
Carla Visi
Sapiranga