quarta-feira, 30 de abril de 2014

IRAY, UM CERTO ANJINHO MUITO ESPERTO

Por José Inácio Vieira de Melo


Iray Galrão nasceu para seguir seus sentimentos. E sempre quis ser professora, para poder partilhar com seus semelhantes aquilo que recebeu com tanto amor: o conhecimento.

Na infância, queria interpretar um anjo! Mas nunca foi chamada para desempenhar esse papel nas peças de teatro da escola em que estudava. Apesar de ter o cabelo cacheado, não era louro! Mesmo assim, ela nunca perdeu a graça e saía inventando peraltices para alegrar seus colegas, pois seu espírito não permitia que cortejasse sofrimentos. Iray nasceu para distribuir alegria.

E o tempo passa. E uma vida é vivida. E nada mais provável poderia acontecer do que Iray se tornar uma escritora. Não uma escritora qualquer, mas uma contadora de estórias que consegue, com domínio de linguagem, alcançar e deslumbrar leitores de todas as faixas etárias.

Bem, mas o que há de improvável na sua trajetória para que faça parte de uma coleção intitulada Autores Improváveis? É que Iray, além de escrever as estórias, faz também as ilustrações. Como se não bastasse, ao invés de desenhar e pintar as artes, ela as borda à mão, em um trabalho meticuloso que exige muito zelo.

Sabe aquele desejo de interpretar um anjo? Transformou-se em seu livro de estreia, O Anjinho Jojô.

Agora, chegou a vez de Bolota, a jabuticaba esperta, que acorda ao primeiro clarão do sol, para sentir as maravilhas do mundo que a rodeia.

Só mais uma coisinha! Sabe por que Iray Galrão nunca foi chamada para interpretar um anjo, nas peças escolares? Porque todos já percebiam que ela era um anjo de verdade!

Texto de apresentação do livro Bolota, uma certa jabuticaba muito esperta (Escrituras Editora, 2014)

terça-feira, 22 de abril de 2014

UM PEDAÇO DE CHUVA NO BOLSO DO SACERDOTE

José Inácio Vieira de Melo


José Geraldo Neres é um orixá da poesia, um poeta de terreiro que, com sua flecha de anjo trágico, acende as asas da emoção. Nos olhos de barro de Neres outros silêncios se anunciam, prenhes de signos, para compor a sinfonia do acaso. Neste novo livro, Neres, sacerdote inominável que carrega  um pedaço de chuva no bolso, segue por uma tempestade de metáforas, advindas de um longínquo abismo que abriga no peito. Alquimista do ABCDE, sopra dois dados no ar e nos mantêm suspensos na expectativa dos sonhos que brotam dos textos da sua escritura polifônica. Desde a estreia, com Pássaros de papel, Neres vem desenhando um outro Sol, com a sua macumbaria poética, em cada gesto e verso que compõe, realizando as núpcias das palavras estrangeiras, criando um código pessoal repleto de magia e de assombros. Aliás, a poética de José Geraldo Neres estende fronteiras, ao abarcar territórios desconhecidos, e sua criação prescinde de rótulos, é um fazer em si estendido ao outro, a derramar-se em possibilidades, em caminhos e encontros. Um poeta assim, tão cheio de vazios e de amplidões, só pode despertar florestas de arrepios.

Texto da contracapa do livro Um pedaço de chuva no bolso (Editora Kazuá, 2014)

terça-feira, 15 de abril de 2014

JIVM - "CERCA DE PEDRA" E OUTROS POEMAS - PROJETO QUINTA POÉTICA, NA CASA DAS ROSAS, EM SÃO PAULO



José Inácio Vieira de Melo no projeto Quinta Poética, na Casa das Rosas, em São Paulo, em 27 de março de 2014. Segunda parte da sua participação, recitando os poemas "Cerca de Pedra", "Registro da fala do silêncio", "Exercícios crísticos" e "Toada da despedida", todos de sua autoria.


CERCA DE PEDRA

Aqui, na Cerca de Pedra,
nesta noite caatingueira,
estou em silêncio, ouvindo
o silêncio das estrelas.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

segunda-feira, 14 de abril de 2014

JIVM & NUNO MENEZES - FIAT LUX


Música de Nuno Menezes sobre poema de José Inácio Vieira de Melo


FIAT LUX


Era uma vez o escuro,

e fez-se a luz,
a tênue luz de um candeeiro,

então questionei:
– Mal se divulga um vulto?

O candeeiro flamejou:
– Para quem está no breu

qualquer lampejo é alumbramento.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO