segunda-feira, 29 de setembro de 2008

JIVM - MEMÓRIA

Ilustração: Juraci Dórea


M E M Ó R I A


Gosto de subir no telhado da casa
e olhar para dentro do quintal,
é lá que estão o menino e a arte.

A incompreensão vestiu o menino.
Ele se exibiu para o azul do dia
e para os olhos daquelas línguas.

O infante, dentro da sua solidão,
encontrou a estrada e caminhou
e enveredou por tantos descaminhos.

Quantas vezes dormiu ao relento?
Quantas vezes tombou e caiu?
Quantas vezes seguiu por miragens?

Ah essas cicatrizes, esses calos
pelo corpo e pela alma do menino,
ah, esse deserto de ilusão.

Mas assim como existe a sede,
existe a imensidão do mar,
e as coisas vão à balança.

E o que é viver cada dia
senão beber da água
e entender os merecimentos?

Ouço vozes – muitas vozes –
dentro de mim mesmo,
todas dizem que é preciso prosseguir.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

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