Ilustração: Juraci Dórea
M E M Ó R I A
Gosto de subir no telhado da casa
e olhar para dentro do quintal,
é lá que estão o menino e a arte.
A incompreensão vestiu o menino.
Ele se exibiu para o azul do dia
e para os olhos daquelas línguas.
O infante, dentro da sua solidão,
encontrou a estrada e caminhou
e enveredou por tantos descaminhos.
Quantas vezes dormiu ao relento?
Quantas vezes tombou e caiu?
Quantas vezes seguiu por miragens?
Ah essas cicatrizes, esses calos
pelo corpo e pela alma do menino,
ah, esse deserto de ilusão.
Mas assim como existe a sede,
existe a imensidão do mar,
e as coisas vão à balança.
E o que é viver cada dia
senão beber da água
e entender os merecimentos?
Ouço vozes – muitas vozes –
dentro de mim mesmo,
todas dizem que é preciso prosseguir.
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO
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