SANGUE NO OLHO – Filho de pai poeta e mãe musicista, EMMANUEL MIRDAD é um soteropolitano libriano espinhento de 1980. Formado em Jornalismo pela Facom - UFBA, trabalha no Núcleo de Produção Musical da Educadora FM, produzindo os programas Especial das Seis e Especial de Sábado, além de outras atividades. É produtor cultural desde 2004, e trabalha na elaboração e execução de projetos. É o criador do Prêmio Bahia de Todos os Rocks. Compõe desde 1997 e já produziu seis álbuns, com suas canções e experimentações, mas atualmente está afastado da música. Mantém o blog El Mirdad - Farpas e Psicodelia (www.elmirdad.blogspot.com), onde divulga sua produção e trabalhos de outros artistas. Possui dois livros ainda não publicados, Deserto Poema, disponível em posts no blog, e Abrupta Sede. Mirdad é um poeta sangue no olho. Atua em vários ramos das artes, como já podemos ver, e acredita que para essa atuação a internet é indispensável, visto ser um espaço que democratiza a informação, assim como proporciona uma rápida e eficiente divulgação de qualquer produto. Mirdad afirma que “Pra um autor iniciante, a ausência de um blog ativo é quase uma implacável rota às gavetas.” Vamos, então, à entrevista com Emmanuel Mirdad, o poeta que quer “tacar fogo nos elogios vazios que abestalham os blogs literários”
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – Você é envolvido com a cena rock de Salvador e escreve prosa e poesia, além de ser filho de um poeta inédito. Dentro dessa sua movimentação, qual o espaço que a poesia ocupa? Ela é algo indispensável para você?
EMMANUEL MIRDAD – Como produtor cultural e articulador, cada vez mais estou envolvido em diversos projetos e trabalhos, e isso tem um reflexo improdutivo na rotina do meu fazer artístico. Hoje confesso que a poesia ocupa o espaço de uma caixa de sapato chique, mas já gasto, entulhada no quarto dos fundos; não há o uso rotineiro, só nos grandes eventos, esporádicos. Mas a caixa continua lá, guardando o bem a postos pra ser usado, e você sabe e conta com isso. Então, a poesia continua aqui, como sempre estará, prestes a ser concretada no computador, nas brechas dessa correria violenta de hoje; eu sei e conto com isso. E essa preciosa e rara pausa para poetar é o grande evento! Indispensável! Antes de toda e qualquer configuração, eu sou poeta.
JIVM – E seu pai, qual a influência que exerce nessas suas práticas, sobretudo na de poeta. E quais as suas leituras referenciais? E o que está lendo no momento?
EM – Meu pai tem 78 anos e é uma figuraça ímpar, filósofo, poeta de gaveta e desmistificador das ‘bilhares’ ilusões humanas. Cataloguei sua obra e compus um CD Poema com um fragmento micro desta, chamado Ilusionador, que apresentei como TCC no curso de Jornalismo da UFBA em 2006. Esse contato próximo com seus ‘filopoemas’ atiçou minha acidez consideravelmente. O deboche presente em suas risadas fartas do dia a dia, aliado a um laço de quase 30 anos de amizade fraternal e intenso aprendizado, enraizaram-me conceitos e valores que são hoje o pilar base de meu olhar facão.
Tenho uma dívida enorme com a literatura; há muito que ler ainda. Faltam-me obras referenciais, e você, caro Inácio, sabe muito bem que comecei há pouco a desanuviar minha ignorância imbecil, graças ao Pés Quentes nas Noites Frias, de Mayrant Gallo, que você me deu de presente quando éramos colegas na Facom. Portanto, diante minha humilde coleção, cito Clarice Lispector, Nelson Rodrigues e Mayrant Gallo. No momento, acabei de ler o interessante A Dama do Velho Chico, de Carlos Barbosa (recomendo!), e estou a decifrar Dostoievski e o tomo Memórias da Casa dos Mortos.
JIVM – Você tem um blog, onde disponibiliza seus CDs e seus livros. A publicação desse material não é algo que lhe interessa? Se há interesse, quais são os empecilhos?
EM – Criei o blog El Mirdad - Farpas e Psicodelia essencialmente pra disponibilizar minha obra artística. Algum tempo depois, passei a criar e publicar várias seções, sempre divulgando a obra de outros artistas, focado na música e literatura, além de expor minhas opiniões e memórias. Ainda bem que mudei o intento! Reconheci meu limite de talento e abandonei a música como artista e compositor, mas uma parte da obra está disponível pra download no blog, meramente como um ilustrativo de peças que compõem o mosaico de mim.
Agora em relação à literatura, publiquei na íntegra, em 88 posts, o livro Deserto Poema, ainda inédito em papel e arquivo digital, e alguns fragmentos dos 25 contos que compõem o livro Abrupta Sede, também inédito. Tenho total interesse em publicá-los, e tento fazer isso desde o início deste ano de 2009. E hoje, em que pé está o processo? Continuo aguardando a colaboração de um amigo, que ficou de revisar os livros e até hoje não terminou. A verba que tenho, do meu bolso, só vai dar pra pagar, apertado, a impressão de 500 exemplares cada.
JIVM – Falemos dos diálogos. Qual o diálogo da sua poesia com a tecnologia? Em que medida se dá o diálogo da sua poesia com a música que você faz? E com a sua prosa? Como distingue a poesia dessas outras formas, dentro da sua criação?
EM – Para minha poesia, a tecnologia é questão de suporte. Hoje já consigo escrever, e acho até melhor, do onírico diretamente ao digital. Antes, só no papel e caneta, pra depois transcrever e arquivar; trabalho extra e entulho. Agora é muito mais prático e limpo, sem as canetadas e borrões inevitáveis da edição. Além disso, há o blog, espaço democrático em que experimento minhas criaturas ao crivo gratuito de qualquer um; interajo, divulgo e expando as possibilidades de fruição da obra. Pra um autor iniciante, a ausência de um blog ativo é quase uma implacável rota às gavetas.
Em dez anos, compus várias canções (a maioria descartável), com o cuidado (ou a pretensão) constante de não criar uma letra 'xibunga' só pra ressaltar o ritmo. Por muitas vezes, poemas se tornaram letras de canções e vice-versa (no livro Deserto Poema há exemplos). De fato foi um diálogo íntimo e constante, exemplificado no nome da banda que toquei por seis anos: The Orange Poem. Era som e poema. Uma interação que, de certo modo, se assemelha à prosa; há contos no Abrupta que foram desenvolvidos a partir de poemas ferrões do Deserto. E esse murro no estômago é o que une as duas formas que, em mim, brotam do universo árido de um areal de navalhas. A música é anseio. A prosa é laboratório. A poesia sou eu.
JIVM – Você é um poeta incendiário ou um poeta das águas?
EM – Incendiário. Sangue no olho.
JIVM – O que é que renasce das cinzas de seus versos queimados?
EM – Espero que não renasça nada quando botarem ou eu botar fogo em tudo; temos que escapar, mesmo que o relógio advirta que não.
JIVM – E depois o que pretende aquecer com seus versos de fogo? E o que mais?
EM – Eu não quero aquecer nada. Quero é machucar, tacar fogo, fustigar, maltratar os elogios vazios que tanto abestalham os blogs ‘literários’ por aí.
E mais: você, que por acaso leu esta baboseira aqui, pare, por algo que ainda seja sagrado, de sair comentando nos blogs badalados por aí a praga do ‘lindo!’ à toa. É medíocre, imbecil, carente e vaidoso. E o autor vai ‘cagar e andar’ pra você.
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – Você é envolvido com a cena rock de Salvador e escreve prosa e poesia, além de ser filho de um poeta inédito. Dentro dessa sua movimentação, qual o espaço que a poesia ocupa? Ela é algo indispensável para você?
EMMANUEL MIRDAD – Como produtor cultural e articulador, cada vez mais estou envolvido em diversos projetos e trabalhos, e isso tem um reflexo improdutivo na rotina do meu fazer artístico. Hoje confesso que a poesia ocupa o espaço de uma caixa de sapato chique, mas já gasto, entulhada no quarto dos fundos; não há o uso rotineiro, só nos grandes eventos, esporádicos. Mas a caixa continua lá, guardando o bem a postos pra ser usado, e você sabe e conta com isso. Então, a poesia continua aqui, como sempre estará, prestes a ser concretada no computador, nas brechas dessa correria violenta de hoje; eu sei e conto com isso. E essa preciosa e rara pausa para poetar é o grande evento! Indispensável! Antes de toda e qualquer configuração, eu sou poeta.
JIVM – E seu pai, qual a influência que exerce nessas suas práticas, sobretudo na de poeta. E quais as suas leituras referenciais? E o que está lendo no momento?
EM – Meu pai tem 78 anos e é uma figuraça ímpar, filósofo, poeta de gaveta e desmistificador das ‘bilhares’ ilusões humanas. Cataloguei sua obra e compus um CD Poema com um fragmento micro desta, chamado Ilusionador, que apresentei como TCC no curso de Jornalismo da UFBA em 2006. Esse contato próximo com seus ‘filopoemas’ atiçou minha acidez consideravelmente. O deboche presente em suas risadas fartas do dia a dia, aliado a um laço de quase 30 anos de amizade fraternal e intenso aprendizado, enraizaram-me conceitos e valores que são hoje o pilar base de meu olhar facão.
Tenho uma dívida enorme com a literatura; há muito que ler ainda. Faltam-me obras referenciais, e você, caro Inácio, sabe muito bem que comecei há pouco a desanuviar minha ignorância imbecil, graças ao Pés Quentes nas Noites Frias, de Mayrant Gallo, que você me deu de presente quando éramos colegas na Facom. Portanto, diante minha humilde coleção, cito Clarice Lispector, Nelson Rodrigues e Mayrant Gallo. No momento, acabei de ler o interessante A Dama do Velho Chico, de Carlos Barbosa (recomendo!), e estou a decifrar Dostoievski e o tomo Memórias da Casa dos Mortos.
JIVM – Você tem um blog, onde disponibiliza seus CDs e seus livros. A publicação desse material não é algo que lhe interessa? Se há interesse, quais são os empecilhos?
EM – Criei o blog El Mirdad - Farpas e Psicodelia essencialmente pra disponibilizar minha obra artística. Algum tempo depois, passei a criar e publicar várias seções, sempre divulgando a obra de outros artistas, focado na música e literatura, além de expor minhas opiniões e memórias. Ainda bem que mudei o intento! Reconheci meu limite de talento e abandonei a música como artista e compositor, mas uma parte da obra está disponível pra download no blog, meramente como um ilustrativo de peças que compõem o mosaico de mim.
Agora em relação à literatura, publiquei na íntegra, em 88 posts, o livro Deserto Poema, ainda inédito em papel e arquivo digital, e alguns fragmentos dos 25 contos que compõem o livro Abrupta Sede, também inédito. Tenho total interesse em publicá-los, e tento fazer isso desde o início deste ano de 2009. E hoje, em que pé está o processo? Continuo aguardando a colaboração de um amigo, que ficou de revisar os livros e até hoje não terminou. A verba que tenho, do meu bolso, só vai dar pra pagar, apertado, a impressão de 500 exemplares cada.
JIVM – Falemos dos diálogos. Qual o diálogo da sua poesia com a tecnologia? Em que medida se dá o diálogo da sua poesia com a música que você faz? E com a sua prosa? Como distingue a poesia dessas outras formas, dentro da sua criação?
EM – Para minha poesia, a tecnologia é questão de suporte. Hoje já consigo escrever, e acho até melhor, do onírico diretamente ao digital. Antes, só no papel e caneta, pra depois transcrever e arquivar; trabalho extra e entulho. Agora é muito mais prático e limpo, sem as canetadas e borrões inevitáveis da edição. Além disso, há o blog, espaço democrático em que experimento minhas criaturas ao crivo gratuito de qualquer um; interajo, divulgo e expando as possibilidades de fruição da obra. Pra um autor iniciante, a ausência de um blog ativo é quase uma implacável rota às gavetas.
Em dez anos, compus várias canções (a maioria descartável), com o cuidado (ou a pretensão) constante de não criar uma letra 'xibunga' só pra ressaltar o ritmo. Por muitas vezes, poemas se tornaram letras de canções e vice-versa (no livro Deserto Poema há exemplos). De fato foi um diálogo íntimo e constante, exemplificado no nome da banda que toquei por seis anos: The Orange Poem. Era som e poema. Uma interação que, de certo modo, se assemelha à prosa; há contos no Abrupta que foram desenvolvidos a partir de poemas ferrões do Deserto. E esse murro no estômago é o que une as duas formas que, em mim, brotam do universo árido de um areal de navalhas. A música é anseio. A prosa é laboratório. A poesia sou eu.
JIVM – Você é um poeta incendiário ou um poeta das águas?
EM – Incendiário. Sangue no olho.
JIVM – O que é que renasce das cinzas de seus versos queimados?
EM – Espero que não renasça nada quando botarem ou eu botar fogo em tudo; temos que escapar, mesmo que o relógio advirta que não.
JIVM – E depois o que pretende aquecer com seus versos de fogo? E o que mais?
EM – Eu não quero aquecer nada. Quero é machucar, tacar fogo, fustigar, maltratar os elogios vazios que tanto abestalham os blogs ‘literários’ por aí.
E mais: você, que por acaso leu esta baboseira aqui, pare, por algo que ainda seja sagrado, de sair comentando nos blogs badalados por aí a praga do ‘lindo!’ à toa. É medíocre, imbecil, carente e vaidoso. E o autor vai ‘cagar e andar’ pra você.
6 comentários:
Muito que incendiarias palavars do confrade MIRDAD, fogo e poesia pra aquecer as badaladasd do relógio.
Natural... se expomos nossa arte (por mais simplória que seja) em blogs queremos ler mais que um "lindo", que seria o que minha mãe diria se lhe mostrasse, não que duvide dela, claro.
Comecei acompanhar o blog do Mirdad recentemente através do blog do Georgio e o JI põe o Mirdad aqui... Mundo pequeno. Gosto do espaço que ele abre para outras "artes" mas acho um tanto bagunçado, tenho uma mania de perfeccionista.
Abraços aos dois;
Fabrício
Grande centauro, o espinho aqui está imensamente grato!
Aquecer as badaladas até ilusionar a saída, mesmo que não seja!
ah, eu tô cagando e andando pros 'lindos' que tem por aí!
bom saber mais desse cara.
abs
Lindo de fato não é, mas às vezes você é legal. Como fã legítimo de sua banda te digo: não era ruim, eu me divertia. Já seu textos, seja prosa ou poesia, acho que ainda têm que percorrer um longo caminho. Acho que seus trabalhos funcionam mais quando vc, pessoa física, está presente.
o blog do Mirdad é bom: prova disso que le figura no blog do Bahiaflâneur ! risos
risos
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