quinta-feira, 26 de novembro de 2009

JIVM - ROMARIA

foto Ricardo Prado Jackson Costa lendo o poema Romaria


ROMARIA


Oh que caminho tão longe
Cheio de pedra e areia
Domínio popular

Oh que estrada mais comprida
Oh que légua tão tirana
H. Teixeira e Luiz Gonzaga


Dentro de mim, nas lonjuras,
bem dentro do meu juízo,
um romeiro caminhando
em busca do que preciso.

Oh que caminho tão longo
cheio de pedra e de areia,
tenho que firmar o passo
e romper essas cadeias.

Pergunto, em meu desatino,
aonde ir? Que lugar?
Por que a sina de cigarra
esparramando o cantar?

Certo, sou aquele que parte
numa eterna romaria,
faça sol ou faça chuva,
seja de noite ou de dia.

O caminho que percorro
não é o da Rosa dos Ventos,
pois ele surge do nada,
de acordo com o momento.

Oh que estrada mais comprida,
tanto azul, tanta poeira,
em que plaga do Universo
estará o meu Juazeiro?

Cada qual tem seu destino:
Pedro Vaqueiro tangia
gado pelo mundo afora;
seu Fortunato fazia

forno pra queimar tijolo;
Manezim Tetê, meu tio,
caçava tatu e onça
com o luzeiro dos pavios.

Lá me vou com minha cruz,
são poucos beiços de açude
e tantas léguas tiranas.
Maior e vária é esta sede

que vale cada passada
desta minha romaria.
Peregrino de mim mesmo
no meio da travessia.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

Um comentário:

Jeane Sánchez disse...

Maravilha Inácio!

Sabe que tenho grande apreço pelos seus poemas, mas este poema é meu xodó.
De vez em quando recito-o nos lugares. Posso?
bjs

JEANE SÁNCHEZ