José Inácio Vieira de Melo
Sagração das despedidas, quarto livro de poemas de Alexandre Bonafim, é, em verdade, a celebração do mais humano dos sentimentos, aquele que é causado pela ausência e que por muitas vezes adquire feições de lugar – uma espécie de salão memorial – em cada pessoa que o sente. E todos o sentem: a saudade.
Bonafim consegue insculpir as lembranças mais ternas e longínquas, trazendo-as para o templo da memória. Sua poesia é uma exibição das existências imagináveis. Não o que ele próprio tenha vivido, mas o que qualquer um pode vir a experimentar. O mais fantástico é que essas experiências, mesmo que sejam as mais difíceis, mesmo que sejam as mais angustiantes, são apresentadas com tal leveza, que deixam sempre uma chance de sorriso, um sentimento de que foi preciso andar por aqueles vales, atravessar vazios. Só assim será possível olhar para traz e contemplar o que se viveu, só assim será possível, ao menos, escrever a Biografia do deserto.
Jovem das montanhas das Minas Gerais, o mar exerce um encanto sobre sua pessoa e é um traço marcante em sua poética, fazendo-se sempre presente com suas ondas, seus veleiros e maresias. Bonafim é um poeta de epifanias. Todo percurso de seus versos conduzem-nos para o espaço do sublime. Do alto do meu delírio, vejo-o sentado em um pequeno barco emborcado a contemplar a vastidão das plagas marítimas, a ouvir o concerto das ondas e dos ventos. Do seu lado esquerdo, o menino que foi um dia estampa um sorriso na sua lembrança e corre para o mar, a banhar-se nas águas da imensidão. É o instante em que Bonafim alcança A outra margem do tempo.
Sagração das despedidas traz relampejos da beleza. Uma beleza que está presente em devaneios, mas que só se realiza quando cada verso vibra dentro da sua individualidade, conferindo a cada poema cintilação singular. Essa inscrição instaura momentos que provocam arrepios. É a conformação estética da beleza, é a realização de uma experiência íntegra. Bonafim sabe o quanto custa essa alquimia, sabe que para fitar a beleza é necessário “estar de mãos dadas/ com todos os desastres/ com todas as febres”. A sua lira está afinada com a de Rilke que, nas Elegias de Duíno, apregoa: “Pois que é o Belo/ senão o grau do Terrível que ainda suportamos”.
Alexandre é da estirpe dos poetas que elevam a condição humana, tal qual o Jorge de Lima de A túnica inconsútil, tal qual o Gerardo Mello Mourão de Algumas partituras. De seu manancial jorram versos luzidios nos quais podemos contemplar os deuses que habitam nossos eus, pois “nessa caminhada, sem paradeiro, sem itinerário/ as surpresas tatuam em nossos ombros/ a fulguração das galáxias mais altas”.
Quando Alexandre Bonafim tange sua lira, “as constelações batizam o silêncio”. E, do cântico de suas veias, “os que morreram renascem, todos os dias”, e renascem para inaugurar a aurora da vida, para celebrar esse encontro que, em seu íntimo, traz a Sagração das despedidas.
Posfácio do livro de poemas Sagração das despedidas (Biblioteca 24x7, 2009).
Sagração das despedidas, quarto livro de poemas de Alexandre Bonafim, é, em verdade, a celebração do mais humano dos sentimentos, aquele que é causado pela ausência e que por muitas vezes adquire feições de lugar – uma espécie de salão memorial – em cada pessoa que o sente. E todos o sentem: a saudade.
Bonafim consegue insculpir as lembranças mais ternas e longínquas, trazendo-as para o templo da memória. Sua poesia é uma exibição das existências imagináveis. Não o que ele próprio tenha vivido, mas o que qualquer um pode vir a experimentar. O mais fantástico é que essas experiências, mesmo que sejam as mais difíceis, mesmo que sejam as mais angustiantes, são apresentadas com tal leveza, que deixam sempre uma chance de sorriso, um sentimento de que foi preciso andar por aqueles vales, atravessar vazios. Só assim será possível olhar para traz e contemplar o que se viveu, só assim será possível, ao menos, escrever a Biografia do deserto.
Jovem das montanhas das Minas Gerais, o mar exerce um encanto sobre sua pessoa e é um traço marcante em sua poética, fazendo-se sempre presente com suas ondas, seus veleiros e maresias. Bonafim é um poeta de epifanias. Todo percurso de seus versos conduzem-nos para o espaço do sublime. Do alto do meu delírio, vejo-o sentado em um pequeno barco emborcado a contemplar a vastidão das plagas marítimas, a ouvir o concerto das ondas e dos ventos. Do seu lado esquerdo, o menino que foi um dia estampa um sorriso na sua lembrança e corre para o mar, a banhar-se nas águas da imensidão. É o instante em que Bonafim alcança A outra margem do tempo.
Sagração das despedidas traz relampejos da beleza. Uma beleza que está presente em devaneios, mas que só se realiza quando cada verso vibra dentro da sua individualidade, conferindo a cada poema cintilação singular. Essa inscrição instaura momentos que provocam arrepios. É a conformação estética da beleza, é a realização de uma experiência íntegra. Bonafim sabe o quanto custa essa alquimia, sabe que para fitar a beleza é necessário “estar de mãos dadas/ com todos os desastres/ com todas as febres”. A sua lira está afinada com a de Rilke que, nas Elegias de Duíno, apregoa: “Pois que é o Belo/ senão o grau do Terrível que ainda suportamos”.
Alexandre é da estirpe dos poetas que elevam a condição humana, tal qual o Jorge de Lima de A túnica inconsútil, tal qual o Gerardo Mello Mourão de Algumas partituras. De seu manancial jorram versos luzidios nos quais podemos contemplar os deuses que habitam nossos eus, pois “nessa caminhada, sem paradeiro, sem itinerário/ as surpresas tatuam em nossos ombros/ a fulguração das galáxias mais altas”.
Quando Alexandre Bonafim tange sua lira, “as constelações batizam o silêncio”. E, do cântico de suas veias, “os que morreram renascem, todos os dias”, e renascem para inaugurar a aurora da vida, para celebrar esse encontro que, em seu íntimo, traz a Sagração das despedidas.
Posfácio do livro de poemas Sagração das despedidas (Biblioteca 24x7, 2009).
3 comentários:
O poema postado logo acima, foi um convite para seu texto, José Inácio. Esse poeta Alexandre Bonafim parece ser dos bons. Gostei muito do poema de XVII e esse prefácio me deixou com muita vontade de conhecer melhor a poesia do Alexandre. Seu blog presta um grande serviço para a poesia. Parabéns!
Pessoal, se o José Inácio me permitir divulgar o livro no seu blog, o que já de antemão agradeço, o livro pode ser encomendado pelo site da editora: www.biblioteca24x7.com.br
Abraço para todos.
Belo texto, José. É como disse a Cândida, o poema foi um convite ao texto. E o texto foi um convite ao livro. Parabéns a ambos.
Fátima
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