domingo, 15 de junho de 2008

JOSÉ ALCIDES PINTO - EU


E U

Eu sou eu. Íntegro e inviolável dentro
de mim mesmo.
O que não se descobre. Anônimo sob
minha própria espinha.
Atual em minha sombra incorpórea, sem
faltar um só de meus gestos físicos.
Eu sou eu. O fantasma de preto escanchado
no arame do quintal,
sob a sombra das árvores e sob a
sombra da lua
misteriosamente colhendo o silêncio com
as mãos invisíveis e
tecendo uma mortalha com o nó dos dedos
para vestir o próprio corpo.
Eu sou eu. O retrato destituído de vida.
O gesto estático.
O que está no limiar e afogado no abismo.
O que anda vestido e nu, sendo louco e poeta.
Eu sou eu e sozinho. Diverso sobre mim
e sob eu mesmo.
Oculto e visível como a lua caída no poço.
Proclamado como o homem dentro da praça,
no meeting,
sacudindo com os gestos da boca palavras
secas nos olhos da multidão.
Intocável e impossível como o que não se
conhece e não morre.

JOSÉ ALCIDES PINTO

Um comentário:

Regina Pouchain disse...

José Alcides Pinto:

Um poeta maravilhoso, um marco na Literatura Brasileira, que o Ceará, terra dos meus pais, merecia.

Nota: Parabéns ao Cavaleiro de Fogo pela homenagem