Por Tércia Montenegro
Tércia Montenegro |
O
mais recente livro de José Inácio Vieira de Melo, Pedra Só, traz um repertório típico de um trovador. Um alívio para
quem pensava que na contemporaneidade a função poética invariavelmente resvala
pelo prosaico ou pelo simplismo. Em Pedra
Só, temos um poeta no resgate de temas e sonoridades ancestrais – e como
isso funciona! O sabor dos versos é perpassado de telurismo, como a segurar “o
Sol nas costas”, admitindo que o sertão é “o princípio do enigma”. A leitura,
nesse processo, vira uma experiência sensitiva, com cheiros, texturas e bafejos
vindos de pessoas, alimentos ou rezas.
Da
dimensão do poeta “nasce o centauro/ veículo e montaria dos mundos”, e parte-se
do livro para escalas mais amplas, convertidas em sagas. Nelas encontram-se
musas escarlates, cidades antigas, mitos – mas o poeta também “trapaceia alvos”
e diversifica seus ritmos. Canta em partituras, parábolas ou aboios; sua voz
nunca seca. Através das estrofes, o leitor passeia tanto por paisagens quanto
por ideias, ouve “chamamentos para o abrigo das serras” e aprende orações de
fogo.
Pedra Só colhe o ânimo de vários momentos,
unidos pela estética. Sua primorosa edição ajusta fotografias e epígrafes entre
os conjuntos de poemas, e as pausas funcionam como verdadeiras respirações,
necessárias para saborear o objeto de beleza que é este livro inteiro. Se “o
poeta é o próprio templo do tempo”, Pedra
Só existe como arquitetura ou como terreno, espaço que se palmilha a partir
da vida – mas fica eternizado em rimas.
Tércia
Montenegro é escritora e professora. Autora dos livros de contos O resto de teu
corpo no aquário (2005) e O tempo em estado sólido (2012), entre outros.
Resenha publicada na revista virtual Verbo21 n 159, em outubro de 2012
4 comentários:
Li o texto da Tércia. Excelente análise.
Admitindo que sertão e voz estarão sempre em seus ombros assim como o sol e o centauro desbravarão templos e enigmas no chão de terra batida poeira e pedra só...vida/poesia/rima sensitiva serão eterna conjunção. Parabéns!
Bom dia querido poeta, parabéns e muito sucesso!!!
Amigos...
Correndo aqui com muito trabalho, mas não poderia deixar de dizer...
Feliz por esse grande encontro de talentos tão diversos e tão imensuráveis.
Beijos despenteados no meu vaqueiro alfa, na minha amiga gatófila e nos meus sobrinhos deliciosos!
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