segunda-feira, 5 de novembro de 2012

PEDRA SÓ


Por Tércia Montenegro

Tércia Montenegro
O mais recente livro de José Inácio Vieira de Melo, Pedra Só, traz um repertório típico de um trovador. Um alívio para quem pensava que na contemporaneidade a função poética invariavelmente resvala pelo prosaico ou pelo simplismo. Em Pedra Só, temos um poeta no resgate de temas e sonoridades ancestrais – e como isso funciona! O sabor dos versos é perpassado de telurismo, como a segurar “o Sol nas costas”, admitindo que o sertão é “o princípio do enigma”. A leitura, nesse processo, vira uma experiência sensitiva, com cheiros, texturas e bafejos vindos de pessoas, alimentos ou rezas.


Da dimensão do poeta “nasce o centauro/ veículo e montaria dos mundos”, e parte-se do livro para escalas mais amplas, convertidas em sagas. Nelas encontram-se musas escarlates, cidades antigas, mitos – mas o poeta também “trapaceia alvos” e diversifica seus ritmos. Canta em partituras, parábolas ou aboios; sua voz nunca seca. Através das estrofes, o leitor passeia tanto por paisagens quanto por ideias, ouve “chamamentos para o abrigo das serras” e aprende orações de fogo.

Pedra Só colhe o ânimo de vários momentos, unidos pela estética. Sua primorosa edição ajusta fotografias e epígrafes entre os conjuntos de poemas, e as pausas funcionam como verdadeiras respirações, necessárias para saborear o objeto de beleza que é este livro inteiro. Se “o poeta é o próprio templo do tempo”, Pedra Só existe como arquitetura ou como terreno, espaço que se palmilha a partir da vida – mas fica eternizado em rimas.


Tércia Montenegro é escritora e professora. Autora dos livros de contos O resto de teu corpo no aquário (2005) e O tempo em estado sólido (2012), entre outros.

Resenha publicada na revista virtual Verbo21 n 159, em outubro de 2012

4 comentários:

Hugo Pontes disse...

Li o texto da Tércia. Excelente análise.

Ana Rosa Arouche disse...

Admitindo que sertão e voz estarão sempre em seus ombros assim como o sol e o centauro desbravarão templos e enigmas no chão de terra batida poeira e pedra só...vida/poesia/rima sensitiva serão eterna conjunção. Parabéns!

Alexandra Sereicika disse...

Bom dia querido poeta, parabéns e muito sucesso!!!

Paula Izabela Alcântara disse...

Amigos...

Correndo aqui com muito trabalho, mas não poderia deixar de dizer...

Feliz por esse grande encontro de talentos tão diversos e tão imensuráveis.

Beijos despenteados no meu vaqueiro alfa, na minha amiga gatófila e nos meus sobrinhos deliciosos!