RENATA BELMONTE nasceu em Salvador em 13 de março de 1982 e é advogada e escritora. Autora dos livros de contos Femininamente (Casa de Palavras, Prêmio Braskem Arte e Cultura 2003), O que não pode ser (EPP, Prêmio Cultura e Arte Banco Capital 2006) e Vestígios da Senhorita B (PP5, Coleção Cartas Bahianas, 2009). Participou das antologias Outras moradas (EPP, 2007), Antologia Sadomasoquista da Literatura Brasileira (Dix, 2008) e Antologia de contistas baianas (no prelo). Já colaborou com diversas revistas literárias como Iararana, Bestiário, Rascunho, Verbo 21, Cronópios e Vaia. Em 2008, foi uma das escritoras estudadas no livro Quem conta um conto: estudos sobre contistas brasileiras estreantes nos anos 90 e 2000, organizado por Helena Parente Cunha e escrito por doutorandos da UFRJ. Atualmente, reside em São Paulo onde é aluna do Mestrado em Direito e Desenvolvimento da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Mantém o blog: http://www.vestigiosdasenhoritab.blogspot.com/
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Com a mala cheia de insultos, ela guardou as dores no corpo e vestiu um poema barato, herança daquilo que nunca foi. Já de costas para o mundo, sem conto, romance ou novela, percebeu: restava-lhe abrir janelas. Era certo que, em algum lugar, uma nova vida sua amanheceria.
Escândalos dentro de quartos.Sonhos antes dourados. Era melhor existir assim: apenas linhas retas, traços em retratos. E se argumentassem que fugir não era necessário, responderia: tudo que desejo é ser passado. Apreciava estar perdida entre letras e mofos. Estrangeiro é aquele que dorme por toda a vida na cama dos outros.
Sem figurino não há personagem. Ajoelhada, volta os olhos para o céu e pergunta: por que afinal me abandonaste?A partir daquele dia ganharia um corpo para que fossem colocadas dores como vestígios. E, na semana seguinte, fugiria. Usando seu melhor vestido.
Foi dura a sua viagem: bilhetes perdidos, medo de nunca fazer parte. Um corpo dolorido: a pior das bagagens. Mas sabia que haveria o momento em que se tornaria protagonista de uma história em que o tempo não fosse inimigo. Circularia livre e feliz.Pelas páginas de um livro.
Com os anos, as rezas e buscas cessaram. Passaram a falar dela como se fosse ficção, não apenas um número na estatística de desaparecidos. Mas ninguém jamais esqueceu o que no pedaço de papel ficou para sempre escrito. Não, não há sonho que morra sem deixar vestígio.
RENATA BELMONTE
5 comentários:
Gostei das imagens e da velocidade que as palavras descortinam e correm.
Sucesso!
:)
Se pudesse, estaria lá em Jequié dia 25! Tenho certeza de que será um SUCESSO! Um abraço!
Olá José Inacio!
Parabéns pelo Blogue!
Muito bom mesmo.
Gostei muito e já votei no TopBlog.
Estou concorrendo também com o www.poesiaemblog.blogspot.com, e aguardo sua visita e o seu voto.
Grande Abraço!
Uma escritora de talento inquestionável e que com ceretza dará bons frutos nas terras de Jequié
Inácio, estarei amanhã na casa da Cultura para prestigiar esta excelente escritora. Foi através de você que conheci os textos da Renata, muito obrigada por me proporcionar esta oportunidade!
Abraços!
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