domingo, 11 de janeiro de 2009

VERÔNICA DE VATE - GERARDO MELLO MOURÃO

SINGULARIDADE DE UM POETA MARCADO PELO HUMANISMO
Por José Inácio Vieira de Melo

Escrevi este texto quando o poeta Gerardo Mello Mourão completou 90 anos, mais especificamente, em 8 de janeiro de 2007, atendendo a um pedido do poeta Florisvaldo Mattos, editor-chefe do jornal A Tarde, de Salvador. A essa altura, Gerardo já estava em coma. O texto só foi publicado no dia 10 de fevereiro e teve uma grande repercussão, sendo reproduzido em vários outros jornais, sites e blogs, do Brasil e de outros países. No dia 9 de março de 2007, praticamente um mês depois, o Vate de Ipueiras viria a falecer, vítima de falência múltipla de órgãos.


AS PERIPÉCIAS


Gerardo Mello Mourão chega aos 90 anos – completados no dia 8 de janeiro – como uma das vozes mais representativas da Literatura Brasileira contemporânea. Um poeta de expressão singular, considerado por vários críticos e muitos escritores – entre eles Carlos Drummond de Andrade, Wilson Martins, José Cândido de Carvalho e Octavio de Faria – como o poeta maior do Brasil.
Nascido em 1917, no pé da serra do Ibiapaba, em Ipueiras, sertão do Ceará, Gerardo teve uma vida bastante acidentada e cheia de aventuras. Sua obra tem merecido, ao longo de mais de meio século, a atenção de grandes nomes da Literatura Ocidental, como Ezra Pound, Octavio Paz, Jorge Luis Borges e Robert Graves.
Aos 11 anos foi para o Seminário São Clemente, em Congonhas do Campo, Minas Gerais, onde permaneceu até os dezoito, período em que aprendeu nove idiomas e traduziu, num exercício diário, textos do grego e do latim, de Homero e Píndaro, Virgílio e Horácio, Ovídio e Propércio.
Abandonou o convento em 1935, poucos meses antes de proferir os votos de pobreza, castidade e obediência. Começou a estudar direito, mas abandonou. Logo em seguida, aderiu ao Integralismo, assim como Câmara Cascudo e Adonias Filho, conduzido para o movimento pelo crítico Tristão de Athayde.

Foi preso 18 vezes durante as ditaduras do Estado Novo e Militar. Numa delas, ficou no cárcere cinco anos e dez meses (1942 – 1948), quando escreveu o célebre romance O Valete de Espadas e dez elegias de perdição reunidas no livro Cabo das Tormentas. Viajou por toda a Europa, América e Brasil.
O país em que viveu mais tempo, no exterior, foi o Chile, onde deu aulas na Universidade Católica de Valparaíso. Na década de 1980 morou em Pequim, na China, onde foi correspondente do jornal Folha de São Paulo. Mais precisamente, foi o primeiro correspondente brasileiro e sul-americano na China. Escreveu, até pouco tempo, crônicas diárias para os principais jornais do Brasil.


SIBILA
(Último oráculo)


Perdido nas veredas das palavras
tapa os ouvidos - canto sibilino
não se escuta: olha apenas estes olhos
apaga teus sentidos - só nos olhos
acharás o caminho; sem meus olhos,
somente os meus - redondos neste rosto -
morrerás entre os ínvios labirintos.

Sibila sou - Sibila, a Sâmia, a Délfica
poetas e pontífices me seguem
olha meus olhos - não te perderás
olha meus olhos e estarás perdido
perdido neles morrerás de amor
e os que morrem de amor não morrem nunca
olha meus olhos - me verás inteira
em teus olhos de morto estarei viva
e minha vida espantará da tua
a morte para sempre - e para sempre
em tua vida há de viver a minha.


GERARDO MELLO MOURÃO

3 comentários:

Anônimo disse...

Gerardo é um poeta admirável. Poucos conseguiram atingir sua dimensão poética. Sem sombra de dúvida, Mello Mourão é o nosso Dante.
Parabéns, José Inácio, por sua iniciativa em divulgar a alta poesia, sendo você, também, um belo poeta, um dos mais promissores da sua geração, no Brasil.

Francisco Munduruca

Anônimo disse...

Muitas coisas me impressionam na obra de Gerardo Melo Mourão, sobretudo a sua impecável técnica - que o coloca ao lado dos maiores nomes na literatura brasileira - e o seu profundo conhecimento do universo da antiguidade clássica. Parabéns, Inácio, pela iniciativa de espalhar a voz desse nosso profeta.

Anônimo disse...

Poeta nasce.
Poeta não morre.
Gerardo é o nome do Poeta.