implorar que voltem a caminhar comigo
penteá-los como se evocasse filhos
abraçá-los como quem pede um chamado
hoje à tarde vou morrer com os afogados
hoje à tarde vou morrer com os afogados
engolir a água que invadiu suas sebes
me arder no sal que arranhou suas malhas
e arranhar as minhas com o que partiu suas pedras
hoje à noite vou salvar-me entre afogados
hoje à noite vou salvar-me entre afogados
ler em seus olhos alguma paz em riste
embora nas pupilas ouça ainda
uma voz rouca para sempre dilatada
amanhã estaremos todos acordados
amanhã estaremos todos acordados
em mar profundo poderemos ser crustáceos
cavaremos até chegar ao mais escuro
ninho de pérolas e tudo será claro
para amanhã iluminar outro afogado
para amanhã iluminar outro afogado
que na voragem de salvar-nos será salvo
e se unirá ao nosso fio interminável
de corpos sob o pôr/nascer do sol
e amanhã saberemos de que é feita
e amanhã saberemos de que é feita
esta linha vista ao longe:
de um pouco de mágoa e muito de água
lavando por dentro o peito dos mortos
Igor Fagundes
Igor Fagundes
Um comentário:
Igor Fagundes, difícil encontrar um poeta tão jovem e certo de seu ofício, envolvido profissionalmente com o meio literário. Que linguagem madura, rica!
Isso é o que o seu blog, José Inácio, vem proporcionando a todos nós, que gostamos de poesia: oportunidade de conhecer novas luzes da literatura brasileira.
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