sábado, 12 de julho de 2008

AFFONSO MANTA - O LOUCO

Profeta Gentileza
O LOUCO
Para Altamirando Camacam

Enlouqueci, um girassol nasceu na minha boca.
Os pássaros já estão fazendo ninho
Atrás da minha orelha.
Enlouqueci, o azul explodiu em fevereiro.
Vou conhecer Londres no meu bergantim de pirata.
As ruas são-me passarela para bailar.
Não me conheceis, transeuntes?
Não me conheceis, moça de olhos calmos
Do último andar do edifício?
Sou o Louco.
Prometi as chuvas do mês passado.
Prometi as árvores.
Prometi os vinhos.
Prometi este intenso azul de fevereiro.
Faço promessas maravilhosas.
E vede que se cumprem.
Abram as portas.
Chamem vossos filhos.
Chamem vossas noivas.
Os garotos vão rir de mim.
Por acaso, não quereis que as vossas noivas se divirtam?
Não há quem não ache graça
Do meu aspecto excessivo de profeta.
Convidem todo mundo.
Trago uma flor no bolso de dentro do paletó
Para ofertar ao sorriso mais inocente da cidade.
Não tenham medo.
Não faço mal a ninguém.
Sou o Louco.

AFFONSO MANTA

Um comentário:

Anônimo disse...

Este foi o primeiro poema de Affonso Manta que li. Em 1992. Maravilhoso.
Abraços,
Ângela Vilma.