REGISTRO DE MOMENTOS – DANIEL FARIAS nasceu em Recife, Pernambuco, em 1985, no dia da árvore. No verão, sua família mudou-se para Salvador, quando tinha quatro meses. Não mudou mais de bairro nem de sotaque: pernambaiano, de pitubalina. Aos sete anos aprendeu a ler. Aos 14, entrou para o teatro. Aos 21, fez cirurgia para correção de três graus de miopia e astigmatismo: passou a ver o mundo com mais brilho e a publicar poemas em seu primeiro blog. Formou-se em Direito pela UFBA. Sua carteira de trabalho, no entanto, indica apenas uma profissão: artista, ator. Para isso muito contribuíram os quatro anos que passou no grupo Vilavox, então residente do Teatro Vila Velha. Há seis anos trabalho como professor de teatro e como monitor de colônias de férias com crianças e adolescentes, que o alimentam muito com as visões que têm do mundo. Escreveu quatro textos infanto-juvenis. Edita o blog http://www.seeufosseumlivro.blogspot.com/. Dedica-se de maneira integral ao teatro, nada pelas manhãs e procura executar as mil idéias e projetos.
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – Por que ser poeta? Como foi o despertar da poesia em você?
DANIEL FARIAS – A pergunta que me levou a ser poeta foi “por que não sê-lo?”. Antes dela houve um processo de autodescoberta, um caderno/coleção de frases, poemas e citações (que me levaram a criar as minhas) e uma mudança no caminho de casa numa noite: encontrei um amigo, por acaso, num ponto de ônibus. No papo de atualização das vidas (que durou hora) me disse ser poeta e ter um blog. Depois de lê-lo, cheio de comentários, descobri outro universo: de poetas vivos, de leitores atentos e de muito a ser dito. Então passei a publicar e não parei de escrever. No início era apenas prosa, um pouco distante em terceira pessoa. Mas foi inevitável aproximar-me de mim mesmo para continuar. E então veio: por que não? Já que estamos vivos, como a poesia.
JIVM – A poesia exerce algum papel na sociedade? E o que você pretende com sua poesia?
DF – A poesia, como toda arte, é alimento. Não conheço quem viva sem. Ela é a pausa necessária e urgente a todos os membros da sociedade. Ela é multifacetada, etérea e se adapta facilmente. Podemos vê-la em diversos momentos de nossa vida, ela ultrapassa os versos e os papéis, esses são apenas meios de registrá-la. Daí porque às vezes talvez passe despercebida e é justamente por isso que precisamos lembrar de sua existência. E de sua importância na sensibilização dos homens: de seus olhares, de suas relações, de suas percepções de mundo e dos outros. Se, de alguma forma, meus versos puderem, minimamente, contribuir com isso, estarei satisfeito.
JIVM – Quais são os seus poetas referenciais? O que você está lendo atualmente? E prosa você lê também? Mais conto ou romance?
DF – Comecei com Drummond. Converso com Vinícius e Pessoa. Waly me intensifica. Arnaldo me expande. E é sempre bom passear por Leminski, Bandeira e João Cabral. Ultimamente tenho lido e me admirado com poetas que tive a honra de conhecer pessoalmente: Cajazeira, José Inácio, Kátia Borges e Eliana Mara. Com Damário não dei essa sorte, mas sinto-me próximo pela amizade que tenho com seu sobrinho. Minhas amigas Emília Nuñez, Fernanda Veiga e Raiça Bomfim também são simplesmente maravilhosas. Leio muitos livros em prosa, a grande maioria são romances. Meu melhor amigo nesse estilo morreu recentemente, ocasião em que soube que Saramago é um tipo de árvore que nasce nos escombros. Calvino, Cortázar e Dostoiévski também foram grandes acontecimentos.
JIVM – Heidegger definiu a poesia como “fundação do ser mediante a palavra”. O que você acha dessa definição? E você como define a poesia? E mais, como você define a sua poesia?
DF – Gosto muito da definição de Damário: “Para que serve a poesia? Para fazer o homem. Para que serve o homem? Para fazer poesia.” Talvez seja onde o homem é mais humano. Sendo esse o manancial da fundação, ótimo. Um local para onde voltarmos para lembrar quem somos. Gosto de pensar minha poesia como o registro de momentos sob meu olhar, a paralisação do tempo, o recorte de algo essencial e sua reverberação em mim. A poesia é um sinal amarelo (http://seeufosseumlivro.blogspot.com/2009/06/sinal-amarelo.html). A única maneira que conheço de compartilhar tudo isso é o poema, já que não desenho.
JIVM – Algum livro em andamento? Quando o poeta Daniel Farias pretende sair da gaveta, melhor dizendo, do blog para o livro? Tem algum outro projeto que tenha ligação com a sua poesia? E o que mais?
DF – Acho fundamental ultrapassar a virtualidade. Concordo com Caetano quando diz que “os livros são objetos transcendentes, mas podemos amá-los do amor táctil”. É uma honra integrar essa iniciativa perspicaz do Sangue Novo. Tenho um projeto com alguns amigos em fase de seleção no edital estadual de criação literária (estamos habilitados, pelo menos - risos). Chama-se Segundos Instantes, e é voltado para esse segundo olhar sobre os intervalos. A proposta inclui palestras de fomento à escrita e à captação poética, para que outros jovens sintam-se legitimados a tanto. Acho importantíssimo vencer a inércia e propor essas coisas, é uma vitória contra nós mesmos. O próprio título de meu blog aponta para isso. Talvez mude o seu tempo verbal, inclusive. Outra idéia é reunir alguns poemas em um livro chamado Quandos. Outro projeto é o espetáculo Há Mar, poético e itinerante, também com amigos e também no aguardo. Além disso pretendo colocar poesia no rádio. Precisamos fazer com que ela chegue desmistificada ao encontro do maior número de pessoas. A percepção poética também é mote para um experimento audiovisual, também em pré-produção, intitulado Paissagem. Alguns escritos foram recentemente inseridos no espetáculo A Canoa, do Groove Estúdio Teatral. No mais? Sigo priorizando minha maior paixão: o teatro! E brincando de fazer música no violão, uma hora apresento alguma coisa, sempre com amigos, sempre com prazer.
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – Por que ser poeta? Como foi o despertar da poesia em você?
DANIEL FARIAS – A pergunta que me levou a ser poeta foi “por que não sê-lo?”. Antes dela houve um processo de autodescoberta, um caderno/coleção de frases, poemas e citações (que me levaram a criar as minhas) e uma mudança no caminho de casa numa noite: encontrei um amigo, por acaso, num ponto de ônibus. No papo de atualização das vidas (que durou hora) me disse ser poeta e ter um blog. Depois de lê-lo, cheio de comentários, descobri outro universo: de poetas vivos, de leitores atentos e de muito a ser dito. Então passei a publicar e não parei de escrever. No início era apenas prosa, um pouco distante em terceira pessoa. Mas foi inevitável aproximar-me de mim mesmo para continuar. E então veio: por que não? Já que estamos vivos, como a poesia.
JIVM – A poesia exerce algum papel na sociedade? E o que você pretende com sua poesia?
DF – A poesia, como toda arte, é alimento. Não conheço quem viva sem. Ela é a pausa necessária e urgente a todos os membros da sociedade. Ela é multifacetada, etérea e se adapta facilmente. Podemos vê-la em diversos momentos de nossa vida, ela ultrapassa os versos e os papéis, esses são apenas meios de registrá-la. Daí porque às vezes talvez passe despercebida e é justamente por isso que precisamos lembrar de sua existência. E de sua importância na sensibilização dos homens: de seus olhares, de suas relações, de suas percepções de mundo e dos outros. Se, de alguma forma, meus versos puderem, minimamente, contribuir com isso, estarei satisfeito.
JIVM – Quais são os seus poetas referenciais? O que você está lendo atualmente? E prosa você lê também? Mais conto ou romance?
DF – Comecei com Drummond. Converso com Vinícius e Pessoa. Waly me intensifica. Arnaldo me expande. E é sempre bom passear por Leminski, Bandeira e João Cabral. Ultimamente tenho lido e me admirado com poetas que tive a honra de conhecer pessoalmente: Cajazeira, José Inácio, Kátia Borges e Eliana Mara. Com Damário não dei essa sorte, mas sinto-me próximo pela amizade que tenho com seu sobrinho. Minhas amigas Emília Nuñez, Fernanda Veiga e Raiça Bomfim também são simplesmente maravilhosas. Leio muitos livros em prosa, a grande maioria são romances. Meu melhor amigo nesse estilo morreu recentemente, ocasião em que soube que Saramago é um tipo de árvore que nasce nos escombros. Calvino, Cortázar e Dostoiévski também foram grandes acontecimentos.
JIVM – Heidegger definiu a poesia como “fundação do ser mediante a palavra”. O que você acha dessa definição? E você como define a poesia? E mais, como você define a sua poesia?
DF – Gosto muito da definição de Damário: “Para que serve a poesia? Para fazer o homem. Para que serve o homem? Para fazer poesia.” Talvez seja onde o homem é mais humano. Sendo esse o manancial da fundação, ótimo. Um local para onde voltarmos para lembrar quem somos. Gosto de pensar minha poesia como o registro de momentos sob meu olhar, a paralisação do tempo, o recorte de algo essencial e sua reverberação em mim. A poesia é um sinal amarelo (http://seeufosseumlivro.blogspot.com/2009/06/sinal-amarelo.html). A única maneira que conheço de compartilhar tudo isso é o poema, já que não desenho.
JIVM – Algum livro em andamento? Quando o poeta Daniel Farias pretende sair da gaveta, melhor dizendo, do blog para o livro? Tem algum outro projeto que tenha ligação com a sua poesia? E o que mais?
DF – Acho fundamental ultrapassar a virtualidade. Concordo com Caetano quando diz que “os livros são objetos transcendentes, mas podemos amá-los do amor táctil”. É uma honra integrar essa iniciativa perspicaz do Sangue Novo. Tenho um projeto com alguns amigos em fase de seleção no edital estadual de criação literária (estamos habilitados, pelo menos - risos). Chama-se Segundos Instantes, e é voltado para esse segundo olhar sobre os intervalos. A proposta inclui palestras de fomento à escrita e à captação poética, para que outros jovens sintam-se legitimados a tanto. Acho importantíssimo vencer a inércia e propor essas coisas, é uma vitória contra nós mesmos. O próprio título de meu blog aponta para isso. Talvez mude o seu tempo verbal, inclusive. Outra idéia é reunir alguns poemas em um livro chamado Quandos. Outro projeto é o espetáculo Há Mar, poético e itinerante, também com amigos e também no aguardo. Além disso pretendo colocar poesia no rádio. Precisamos fazer com que ela chegue desmistificada ao encontro do maior número de pessoas. A percepção poética também é mote para um experimento audiovisual, também em pré-produção, intitulado Paissagem. Alguns escritos foram recentemente inseridos no espetáculo A Canoa, do Groove Estúdio Teatral. No mais? Sigo priorizando minha maior paixão: o teatro! E brincando de fazer música no violão, uma hora apresento alguma coisa, sempre com amigos, sempre com prazer.
3 comentários:
Gostei da atitude: entusiasmo, paixão. Poesia, nesses tempos de frivolidades, ou assim ou de jeito nenhum. Mais sangue no Sangue Novo.
Seja bem vindo, poeta.
Bela entrevista caro amigo.
Daniel Farias é mais uma das suas descobertas, inteligentes respostas.
Abraços
Daniel, a primeira vez que nos vimos eu falava de Nelson Rodrigues para um grupo multidisciplinar de artistas, lá na escola de Dança da UFBA, em oficina do meu grupo preferido de Teatro, o Dimenti.
E me lembro bem de estar tentando passar para vocês meu amor por Nelson e pelo lirismo que havia em tudo que ele escrevia, principalmente o lirismo presente nas crônicas.
Nos reencontramos na Tom do Saber, ouvindo os planos de livro novo de Cajazeira Ramos, meu amigo novo, meu sonetista de cabeceira. E soube então de você, poeta.
Sou a madrinha do Sangue Novo.
E agora, retomando meu papel, espero ser mais fada-madrinha para acompanhar, bem pertinho, os passos de vocês por aqui até que chegue esta poesia nova, em papel, circulando nas mãos dos leitores que se alimentam, como você diz, daquilo que só a poesia pode dar!
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