Por Fernando Py
Fernando Py: "José Inácio Vieira de Melo é um poeta em ascensão e que ainda poderá favorecer a literatura brasileira com uma obra poética de alto valor". |
Conheço
a poesia de José Inácio Vieira de Melo desde A terceira romaria (2005) e logo
me chamou a atenção o seu trabalho consciente da linguagem poética, quando já
esboçava uma expressão própria, mesmo voltado para as coisas simples do povo,
matéria essencial de seus poemas. Melhor dizendo, Vieira de Melo estava cônscio
de que o valor da linguagem expressa é fundamental para o desenvolvimento da
sua poesia. Pois em Roseiral (2010), embora continuasse a destacar o Nordeste,
o poeta, mantendo ainda o arsenal de visão telúrica e expondo suas vivências
rurais, já abre caminho para um erotismo mais livre, sem quaisquer disfarces ou
pudores. Esse erotismo está na base de sua ânsia de libertação dos padrões
arcaicos da sociedade provinciana, da revolta contra preconceitos e abusos de
todo tipo. Assim, no último livro que publicou, Pedra Só (São Paulo,
Escrituras, 2012), todas essas características estão presentes e desenvolvidas.
O volume se divide em cinco partes. A primeira é composta apenas pelos vinte e
sete textos do longo poema que dá título ao livro. ‘Pedra Só’ é um regresso às
origens do poeta, vividas no sertão. Ainda que já tenha rastreado suas
vivências mais remotas, Vieira de Melo realiza aqui uma estrutura poética mais
firme e intensa, com grande lucro poético. Ocorre o mesmo na segunda parte,
Aboio livre, onde o poeta restaura a paisagem em que viveu e agiu, em poemas
como ‘Escuta’, ‘Cordeiro de abril’, ‘Madrugada sertaneja’ e sobretudo na
obra-prima ‘Vozes secas’. Na terceira parte, Toada do tempo, Vieira de Melo
utiliza um verso mais medido e se detém nas considerações sobre a passagem do
tempo, onde avalia a sua finitude (principalmente em ‘Templo’), e no entanto se
percebe atemporal. Partituras, a quarta parte, é onde surgem as cantigas,
cânticos e os epigramas, entre os quais avulta o erotismo, ou melhor, o poema
‘Sonata das musas escarlates’, no qual se refere a algumas das mulheres que
amou. Na quinta parte, Parábolas, o poeta
acentua seu pendor ao surreal, mesclado a um certo misticismo, onde se
distinguem poemas como os que se intitulam ‘Parábolas’, ‘Mandalas’ e
‘Caligrafias’. Em resumo, José Inácio Vieira de Melo é um poeta em ascensão e
que ainda poderá favorecer a literatura brasileira com uma obra poética de alto
valor.
Fernando
Py é poeta, tradutor e crítico literário. Autor de vários livros, dentre eles Aurora
de vidro, Dezoito sextinas para mulheres de outrora, Sentimento da morte & Poemas anteriores. De suas traduções destaca-se Em busca do tempo perdido, de
Marcel Proust.
Artigo
publicado no jornal Tribuna de Petrópolis (RJ), no caderno Lazer, na página 5,
em 15 de novembro de 2012.
9 comentários:
Que bacana, José. Eu já sabia que tu é fera. "um poeta em ascensão e que ainda poderá favorecer a literatura brasileira com uma obra poética de alto valor".
Zé, parabéns pela crítica do Fernando Py. Gosto de seus comentários! Você merece. Beijos companheiro e amigo de ofício
Vivas pra ti, vigoroso poeta!!! Vc merece colher as coisas bonitas que tem semeado...
Parabéns José Inácio Vieira de Melo! Só faço uma ressalva: em ascensão: sempre. Mas você já favorece a nossa literatura com a sua obra. Grande abraço!
Parabéns, Vieira de Melo! O Py fez uma bela análise. Abraços!
Beleza, poeta! Um grande abraço. Há anos não tinha notícias do Fernando Py.
Voa, vaqueiro! Você ainda tem muito gás e muito o q ascender!
O querido amigo Fernando Py é pessoa indispensável na vida dos poetas brasileiros.Conquistar suas críticas literárias não é para qualquer um...
Abraço, Márcia.
Concordo com o grande Fernando Py.
O José Inácio é um grande poeta e muito favorece a literatura brasileira e a língua portuguesa. O solo nordestino lhe inspira como nínguém...
Um abração Zé.
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