quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

UM POETA EM ASCENSÃO


Por Fernando Py

Fernando Py: "José Inácio Vieira de Melo é um poeta em ascensão e que ainda
poderá favorecer a literatura brasileira com uma obra poética de alto valor".

Conheço a poesia de José Inácio Vieira de Melo desde A terceira romaria (2005) e logo me chamou a atenção o seu trabalho consciente da linguagem poética, quando já esboçava uma expressão própria, mesmo voltado para as coisas simples do povo, matéria essencial de seus poemas. Melhor dizendo, Vieira de Melo estava cônscio de que o valor da linguagem expressa é fundamental para o desenvolvimento da sua poesia. Pois em Roseiral (2010), embora continuasse a destacar o Nordeste, o poeta, mantendo ainda o arsenal de visão telúrica e expondo suas vivências rurais, já abre caminho para um erotismo mais livre, sem quaisquer disfarces ou pudores. Esse erotismo está na base de sua ânsia de libertação dos padrões arcaicos da sociedade provinciana, da revolta contra preconceitos e abusos de todo tipo. Assim, no último livro que publicou, Pedra Só (São Paulo, Escrituras, 2012), todas essas características estão presentes e desenvolvidas. O volume se divide em cinco partes. A primeira é composta apenas pelos vinte e sete textos do longo poema que dá título ao livro. ‘Pedra Só’ é um regresso às origens do poeta, vividas no sertão. Ainda que já tenha rastreado suas vivências mais remotas, Vieira de Melo realiza aqui uma estrutura poética mais firme e intensa, com grande lucro poético. Ocorre o mesmo na segunda parte, Aboio livre, onde o poeta restaura a paisagem em que viveu e agiu, em poemas como ‘Escuta’, ‘Cordeiro de abril’, ‘Madrugada sertaneja’ e sobretudo na obra-prima ‘Vozes secas’. Na terceira parte, Toada do tempo, Vieira de Melo utiliza um verso mais medido e se detém nas considerações sobre a passagem do tempo, onde avalia a sua finitude (principalmente em ‘Templo’), e no entanto se percebe atemporal. Partituras, a quarta parte, é onde surgem as cantigas, cânticos e os epigramas, entre os quais avulta o erotismo, ou melhor, o poema ‘Sonata das musas escarlates’, no qual se refere a algumas das mulheres que amou. Na quinta parte, Parábolas, o poeta acentua seu pendor ao surreal, mesclado a um certo misticismo, onde se distinguem poemas como os que se intitulam ‘Parábolas’, ‘Mandalas’ e ‘Caligrafias’. Em resumo, José Inácio Vieira de Melo é um poeta em ascensão e que ainda poderá favorecer a literatura brasileira com uma obra poética de alto valor.

Fernando Py é poeta, tradutor e crítico literário. Autor de vários livros, dentre eles Aurora de vidro, Dezoito sextinas para mulheres de outrora, Sentimento da morte & Poemas anteriores. De suas traduções destaca-se Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust.

Artigo publicado no jornal Tribuna de Petrópolis (RJ), no caderno Lazer, na página 5, em 15 de novembro de 2012.

9 comentários:

Belisa Parente disse...

Que bacana, José. Eu já sabia que tu é fera. "um poeta em ascensão e que ainda poderá favorecer a literatura brasileira com uma obra poética de alto valor".

Vernaide Wanderley disse...

Zé, parabéns pela crítica do Fernando Py. Gosto de seus comentários! Você merece. Beijos companheiro e amigo de ofício

Marilia Martins disse...

Vivas pra ti, vigoroso poeta!!! Vc merece colher as coisas bonitas que tem semeado...

Denise Perini disse...

Parabéns José Inácio Vieira de Melo! Só faço uma ressalva: em ascensão: sempre. Mas você já favorece a nossa literatura com a sua obra. Grande abraço!

Lima Trindade disse...

Parabéns, Vieira de Melo! O Py fez uma bela análise. Abraços!

Lau Siqueira disse...

Beleza, poeta! Um grande abraço. Há anos não tinha notícias do Fernando Py.

Paula Izabela Alcântara disse...

Voa, vaqueiro! Você ainda tem muito gás e muito o q ascender!

Márcia Pereira disse...

O querido amigo Fernando Py é pessoa indispensável na vida dos poetas brasileiros.Conquistar suas críticas literárias não é para qualquer um...
Abraço, Márcia.

Chico de Assis disse...

Concordo com o grande Fernando Py.
O José Inácio é um grande poeta e muito favorece a literatura brasileira e a língua portuguesa. O solo nordestino lhe inspira como nínguém...
Um abração Zé.
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