domingo, 10 de junho de 2012

JIVM - CALIGRAFIAS


Foto: Ricardo Prado


C A L I G R A F I A S


I

Na poeira de um tempo impreciso,
as histórias do silêncio,
ninhadas de signos sem tradução.

Silêncio na carne.
Silêncio que sente a areia passar.
Tempo para a solidão do poema.

Cultivamos os nomes.
Criamos semblante para cada nome.
Para mostrar nossos nós – a palavra.

Com os olhos marejados
a vertigem cresce:
suas roupas são de luz e de som.

O pasmo nos sobressalta
e gozamos de tudo.


II

A poesia de um tempo sem siso
e sua estranha ninhada de histórias
das entranhas do silêncio.

Nosso heroísmo é trágico
e as parcas são infinitas.

Temos apenas a ilusão das coisas
e o caminho é irreversível.

Retornar – apenas para o Nome,
para o ser que não tem nome.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO


OBS: poema do livro Pedra Só, a ser publicado pela Escrituras Editora, em setembro de 2012

26 comentários:

Sérgio Bernardo disse...

Belíssimo poema, José Inácio.

Sandra Veiga disse...

Querido vou poder comprar em Portugal? Espero que sim. Fabuloso como sempre! Abraço.

Regina Coeli Dutra Araújo disse...

‎"Retornar - apenas o Nome, para o ser que não tem nome.", ótima colocação do verso. Assim como na vida, especial desfecho no poema.Gostei muito. Sucesso eu lhe desejo.

Ana Fernandes disse...

‎"temos apenas a ilusão das coisas".. boa noite, beijinho.

Maria João Gomes disse...

De que outro modo se pode escrever a inconstância e inconsistência de um tempo já além do pós-moderno? Gostei muito mesmo! Parabéns!

Graça Garcia disse...

‎"Retornar - apenas para o Nome, para o ser que não tem nome." (nossos nós)

Joaldo Afranio Silva Santos disse...

A última estrofe é loucura demaisss, esse nem os deuses regados a vinho fariam, uma tradução tão perfeita de sentimento.

Maria Teresa Mota disse...

Tempo de silêncios e de solidão do poema. Gostei muito, José Inácio. Abraços.

Dáguima Verônica de Oliveira disse...

Ai, que lindo!! Parabéns pelo belo poema, José Inácio! Imagino a beleza do livro!

Martha Gonzaga Cohen disse...

É bem verdade: "Cultivamos os nomes./ Criamos semblante para cada nome.". E o seu nome - encravado dentro da poesia - tem cativado o sentimento de muitas pessoas. Eu sou uma dessas pessoas. Muito obrigada, meu poeta predileto, meu muso (rsrsrs). Beijos!

Aliane Ribeiro Moraes disse...

Bravo! Você sempre se supera, meu poeta querido! "Cultivamos os nomes,/Criamos semblante para cada nome./Para mostrar nossos nós - a palavra". Um abração!

Flávio Cavalcante disse...

"Retornar - apenas para o nome para ser o que não tem nome"... Genial isto... Parabéns, nobre poeta...

Goretti Brandão disse...

Muito bonito!!!! Sempre me causando 'arrepios' a sua verve!!! Bravo!

Alzira Guedes disse...

Ilusões, processos irreversíveis e o nome que afinal não é nada ou é mas o ser deixa de o ser sem ele :S

Marineves Rodrigues disse...

É assim a vida de um poeta,ao mesmo tempo que fantasia ele é realista ao extremo,vejo assim sua poesia.Na verdade acredito que tudo tem um nome nobre poeta José.Sucesso.

Sandra Oliveira disse...

o silêncio do tempo...a solidão na carne...Profundo e lindo seu poema Degustarei aos poucos, palavra por palavra...

Mazé Anunciação disse...

JIVM, sua caligrafia escreve a melhor poesia. Sua poesia se inscreve em mim com uma intensidade que não tem nome, mas o seu nome, sem dúvida já está gravado entre os grandes da poesia de língua portuguesa. Lindos demais, você e seu poema. Parabéns!!! Muitos beijinhos.

Neilton Araújo disse...

Parabéns, acabou de provar que nem mesmo o silêncio e o tempo são capazes de apagar nossas lembranças.

Isidro Sanene disse...

as histórias do silêncio... perfeito amigo vc é um genio da nova ordem literária! muito grato pela sua amizade meu caro.

Regina Gulla disse...

você, José Inácio, é um poema. Aprecio a firmeza de seu cristal. Parabéns, bj

Cosme Rogério Ferreira disse...

Seus poemas são deleites sonoros.

Rosane Carneiro disse...

Tuas caligrafias abrigam as mais belas ninhadas, José Inácio. Saudações!

Gláucia Lemos disse...

Zé, este poema foi feito para, e também POR, todas as pessoas que veneram seus próprios silêncios, maturando-os na sua necessidade de respeito e mudez. Parabéns, Irmão, e continuemos encontrando nos nossos respectivos silêncios a nossa unção de vida.

Morgana Gazel disse...

Belo poema, José Inácio Vieira Melo. Os versos, "Temos apenas a ilusão das coisas / e o caminho é irreversível", mostram quão ínfimos e impotentes somos.

Sânzio de Azevedo disse...

Poeta e amigo José Inácio Vieira de Melo, seu poema é muito bom, como aliás todos os que você tem postado. Muito bom mesmo. Abraços,
Sânzio de Azevedo.

Myriam Fraga disse...

Gostei do poema e declarei isso no Face.
ABS
Myriam