segunda-feira, 1 de novembro de 2010

SANGUE NOVO - GILDEONE DOS SANTOS OLIVEIRA



VIAGENS POR MUNDOS INFINITOS – Para GILDEONE DOS SANTOS OLIVEIRA, poeta nascido em 1986, no município de Retirolândia, na região sisaleira da Bahia, “a escrita não pode ser colocada dentro de uma camisa de força”. O escritor deve ter liberdade para expressar sua escritura e ser reconhecido por seu talento, não por predileções temáticas, como é comum na literatura brasileira contemporânea. Gildeone viveu toda a infância e parte da adolescência no campo. Atualmente mora num povoado a cinco quilômetros da sede do município. É professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no Ensino Médio do Centro de Educação Santo Antônio (CESA). Fez graduação em Letras Vernáculas no Campus XIV da UNEB, em Conceição do Coité, e faz Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural na UEFS, onde estuda a representação do sertão e do sertanejo na obra O Romance d'A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna. Mantém o blog Curtindo Linguagens (www.gilsantoslinguagens.blogspot.com). Agora, vamos conhecer um pouco mais sobre este poeta que busca a poesia da vida em cada esquina e que entende que a Literatura proporciona viagens por mundos infinitos e traz grandiosas descobertas.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO
– O que é ser poeta? Por que ser poeta? Você também acha que “o poeta é um fingidor”?

GILDEONE DOS SANTOS OLIVEIRA – Muitas vezes me pergunto o que é ser poeta, outras vezes não sei se devo ser chamado poeta, são questionamentos comuns para todos que escrevem poesia, ou pelo menos que são iniciantes nessa prática. Mas, acho que ser poeta é buscar os versos da vida em cada esquina, é ser o leitor das coisas simples, é ser uma criança prodígio, tecendo e retecendo mundos que nos conduzem a olhares mais aguçados em relação à vida quotidiana. Pela poesia a vida quotidiana se torna mais (in)completa, aí cabe afirmar que, como Pessoa já proclamara, “o poeta é um fingidor”, finge a dor sentida, reinventa a própria dor e desmascara as dores não sentidas. Para mim a poesia veio como uma forma de reencontro, de busca de mim mesmo, de busca pelo humano que existe em mim. Aos poucos o gosto pela leitura e pela escrita me tomou, aí percebi que, pela escrita, posso ser um cavaleiro andante que cavalga moinhos de vento em busca de outros horizontes. Parodiando um verso de Alberto Caeiro, com a poesia percebi que da minha aldeia vejo o que se pode ver no universo.

JIVM – O fato de você ser do sertão confere algum crédito para a sua poesia? Ou, ao contrário, cria um certo ranço regionalista que tenta reduzir os escritores que vivem no nordeste a estereótipos cristalizados?

GSO – Bom, não tenho ainda uma publicação, o que torna difícil as pessoas fazerem um julgamento mais concreto da minha poesia. Mas, quem escreve do espaço onde estou inserido sofre sim com o ranço regionalista que reduz os escritores a estereótipos. Às vezes, mais do que a redução a estereótipos há a discriminação contra as pessoas que habitam nas pequenas cidades e povoados do sertão, como é o meu caso. Mas, aos poucos esses tabus vêm sendo quebrados. Uma poesia não deve ganhar ou perder crédito pelo lugar de onde o poeta escreve, essas fronteiras não faz mais sentido no contexto do século XXI. Aqueles que preservam esses ranços ainda vivem no período jurássico. Hoje, o que vale é o texto, a poesia deve ser julgada pelo que ela pode dizer ou não para quem se debruça sobre ela. A escrita não pode ser colocada dentro de uma camisa de força.

JIVM – Você é estudioso da obra de Ariano Suassuna, o que nos leva a uma dedução do seu cânone pessoal. Imagino que escritores como João Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto devem figurar entre as suas principais referências. A minha inferência está correta? E quais outros prosadores e poetas contemporâneos você lê? Já ouviu falar do escritor Ronaldo Correia de Brito? Conhece a obra do poeta Alberto da Cunha Melo?

GSO – Correto, Ariano Suassuna, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto, fazem parte do meu cânone pessoal, somando-se a tantos outros. Escrevo poesia, mas a prosa toma muito mais tempo nas minhas leituras. Dos escritores contemporâneos, além de Suassuna tenho buscado ler Francisco J. C. Dantas o próprio Ronaldo Correia de Brito e Antônio Carlos Viana, nomes que trazem para literatura o sertão, o que me atrai muito enquanto estudioso do sertão e enquanto leitor apaixonado por esse espaço que é o mundo ser-tão. Na poesia estou lendo muito os versos de Ruy Espinheira Filho, Myriam Fraga, Antônio Carlos Secchin (sempre leio Drummond e outros também), e tenho entrado em contato com a poesia de José Inácio Vieira de Melo, recentemente acabei a leitura de Roseiral, gostei do que li. Quanto ao poeta Alberto da Cunha Melo só conheci sua obra esse ano quando entrei no Mestrado, tenho uma colega que estuda a poesia dele, a partir de então tenho buscado conhecer a poesia de Cunha Melo. Uma poesia forte, marcada pela mística da pedra sertaneja, dentre outros aspectos.

JIVM – Você mantém o blog Curtindo linguagens. Qual o papel que as mídias virtuais exercem na literatura contemporânea? O que acha dessa profusão de blogs? E voltando para o seu blog, mais especificamente, um trocadilho com o título: Qual a linguagem que você mais curte? E dentro da sua preferência, com quais outras linguagens mantém um diálogo profícuo?

GSO – As mídias contemporâneas são muito positivas, têm oferecido o espaço para muitas pessoas se expressarem e transmitirem suas produções. Ao mesmo tempo em que o espaço fica mais aberto muitas coisas sem substância acabam circulando também. A multiplicação dos blogs no geral é positiva, mas, é sempre bom lembrar, na internet encontramos coisas boas e coisas ruins, cabe ao leitor fazer a sua seleção de acordo com o que mais gosta. Para a literatura as mídias fazem um papel importante de levar a muitos jovens, a muitas pessoas, o acesso a textos que nunca chegaram através da escola. É um tanto irônico, mas moro numa localidade da zona rural de uma cidade que tem mais de 40 anos de emancipação política, mas ainda tenta abrir uma biblioteca pública que seja acessível a todos, a internet chegou primeiro do que a biblioteca. Sempre tive muitas dificuldades para ter acesso ao livro, mas com a ajuda de professores consegui despertar o gosto pela leitura e pela escrita. Foi com o acesso à internet e percebendo o potencial dela que veio a ideia do blog para divulgar meus textos, devo admitir que, às vezes, tenho até receio de publicar textos no blog.
Além da literatura, a música, a pintura, as artes plásticas como um todo me atraem muito. Apesar de o acesso a essas linguagens ficar dificultado pela pouca atenção que elas ganham aqui no sertão da região sisaleira. Mas, ainda tenho muitos sonhos de poder me expressar através dessas outras linguagens, como a música, por exemplo.

JIVM – E agora? O que pretende fazer? Sair pelos quatro cantos, berrando a sua louca verdade de poeta? Quando sai o primeiro livro? E esse mestrado?

GSO – Bom, agora estou seguindo meu caminho de cavaleiro andante que monta em seu Rocim, cansado da lida no sisal, mas revigorado pelas descobertas, e prossegue pelas veredas ásperas do sertão pedregoso, seguindo os passos apontados pela poesiamundo. Espero poder berrar um pouco a minha poesia, não sei se ela terá serventia para alguém, tomara que pelo menos incomode algum vizinho que me acha um louco devorador de livros. Estou firme no mestrado, amadurecendo como estudioso e como degustador da literatura e dos sertões. Além de buscar condições necessárias para encarar o mercado de trabalho (a poesia no Brasil não alimenta ninguém né!?). Quanto ao livro, tenho um projeto para publicar em 2011, com certeza dará tudo certo.

11 comentários:

Anônimo disse...

Beleza de entrevista, Gil. Bem ponderada e digna de um veterano. No mais, aquele abraço.

Lidi disse...

Beleza de entrevista, amigo Gil. Continue cavalgando pelos caminhos da poesia. E nada de ter receio de publicar os teus textos no blogue. Um grande abraço.

Lidi disse...

Até parece que eu tinha visto o comentário do amigo Anônimo. Mas foi mesmo uma "beleza de entrevista". (risos) Ah, e parabéns, Inácio, pela tua generosidade de sempre. Abraço.

Unknown disse...

Este poeta, com certeza, é mais uma pérola no meio de uma sociedade tão capitalista e excludente.
Abraços e continue brilhando.

Marcelo Nascimento disse...

Parabéns Gil por sua entrevista, seja bem vindo ao grupo "Sangue Novo" espero que em breve possa me deleitar com seu livro.

Unknown disse...

Beleza de entrevista, amigo Gil. Continue cavalgando pelos caminhos da poesia. E nada de ter receio de publicar os teus textos no blogue. Um grande abraço.

elcione disse...

parabéns amigo
amei a entrevista.
sucessos.

Larissa disse...

Parabéns primo muito sucesso para você beijos e abraços.

Unknown disse...

Companheiro Gil, amei a entrevista, como sempre um garoto muito inteligente e merecedor de suas conquistas e de novas bençãos. Estou esperando as publicações de seus textos, já conheço alguns de seus textos e são extraordinários.. continue sempre crescendo, torço muito por você.. e vamos ai, seguindo as veredas do grande sertão..pois "viver é muito perigoso" como disse Guimarães Rosa. Abraços.. Daise..

Jaqueline Cardoso disse...

Gil querido que entrevista fantástica, adorei o modo simples como você consegue traduzir em palavras sentimentos tão puros. Sua poesia é sem dúvida tocante e seu ar poético permanece mesmo nos textos.
Parabéns como sempre me surpreendeu.

Leila disse...

Bela entrevista, Gil. Texto suave e repleto de poesia.

Sucesso!!