quinta-feira, 3 de junho de 2010

SANGUE NOVO - ALEXANDRE COUTINHO



POESIA SEMPRE FOI FOME – Para ALEXANDRE COUTINHO “poesia sempre foi fome” e “só responde àquilo que é do desejo”. E foi com essa fome que alimentou seu desejo, quiçá insaciável, e escreveu seu primeiro livro, Estudos do corpo, no qual pôde “experimentar simetrias, compor e decompor o corpo masculino do poema”, e que tem publicação prevista para o mês de agosto. Alexandre tem 27 anos, nasceu em Iraquara, interior da Bahia, é mestrando pela UFBA e formou-se em Letras pela mesma universidade. Além de poeta, desenvolve trabalhos com música e performance. Edita o blog Infinitas Cortinas (http://infinitascortinas.blogspot.com/). Vamos, então, conhecer um pouco mais das texturas desse jovem poeta.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – como descobriu a poesia? E por que ser poeta?

ALEXANDRE COUTINHO – Quando vi já estava escrevendo. Desde meu 12 anos, trago comigo cadernos desorganizados e cheios de orelhas. Daí a publicação como conseqüência. Acho que acabei me tornando poeta (se assim posso me chamar) pelo desejo de minimizar minha estupidez enquanto homem da ordem prática, a poesia acabou sendo arma contra a ignorância, minha e do mundo.

JIVM – A poesia exerce algum papel na sociedade? A poesia tem alguma utilidade? Pessoa é tão necessário quanto um pedaço de pão? Nem só de pão vive o homem, mas é possível viver de poesia?

AC – A poesia é por si só um posicionamento político ante a ordem da linguagem, dos homens e das coisas.
A partir do momento em que começo a pensar utilidade em poesia, tiro dela todo acontecimento; a poesia só responde àquilo que é do desejo.
Pessoa é um farto pedaço de pão, o resto é farelo. Poesia sempre foi fome, e temo que seja insaciável. Se não é possível viver de poesia, é possível viver com poesia?

JIVM – Quais os livros de poesia que mais lhe fascinaram e quais seus poetas preferidos?

AC – Sempre fui um leitor de poesia, muitos livros me fascinaram, entre eles : Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão, da Hilda Hilst; Ou o Poema Contínuo, do Herberto Helder e Barulhos, do Ferreira Gullar. Poetas são muitos, Álvaro de Campos, Ana Cristina César, Borges, Quintana, Manoel de Barros, Baudelaire... por aí vai.

JIVM – Você acaba de ter um livro de poemas, Estudos do corpo, selecionado para publicação pela Fundação Pedro Calmon / Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Fale desse livro, de como foi gerado e o que representa essa seleção/premiação? Qual a previsão para a publicação?

AC – Passei quatro anos com Estudos do Corpo, ele já foi tanta coisa... ali pude experimentar simetrias, compor e decompor o corpo masculino do poema. Meu caderno mais maduro, minha doença mais sadia. Ele ter sido selecionado me mostrou que a coisa mais importante é realmente navegar, pois que a publicação é mero resultado do experimento. Se não fosse por uma amiga, que insistiu em escrever o projeto, o livro estaria até hoje na gaveta. Fiz algumas ilustrações pra ele também. Estou muito feliz com a seleção, ver os Estudos do Corpo ganhar autonomia só me excita mais e me liberta pra outras tentativas. O livro sairá pela 7letras, uma editora carioca, e tem previsão de lançamento para o mês de agosto.

JIVM – Algum novo livro em processo? Algum projeto em vias de realização? E o que mais?

AC – Sim, sim. As coisas estão se criando, acontecendo junto comigo. Além dos poemas, das músicas, que são regulares, porque são respirações de minha natureza sensível, venho experimentando a prosa numa tentativa de vencer uma inabilidade que tenho com histórias. Mas nem sei o que são ou quando se completarão, se é que isso é possível. Além de escrever, também me meto na música e ando desenvolvendo um projeto com minhas composições. Vamos ver no que dá.

5 comentários:

Pablo Sá disse...

Ótima entervista caro amigo,
inteligentes respostas, smples ao mesmo tempo que espetacular.
parabéns cavaleiro de fogo e ao novo SANGUE NOVO, Alexandre Coutinho.

abraços

Georgio Rios disse...

Uma boa exposição das tuas ideias, companheiro!!E duplo parabéns.Respostas e poemas.Ao Inácio, a inicitiva continua anos render boas leituras e novidades constantes.Um abraço!

Vitor Nascimento Sá disse...

"Pessoa é um grande pedaço de pão e o resto é migalha"... gostei de Alexandre Coutinho. Ótima entrevista. Compartilho com ele a opinião acerca da (in)utilidade da poesia.

Pareta disse...

Gostei da entrevista, seu blog tem sido um ótimo ponto referencial à poesia.

Caio Rudá de Oliveira disse...

Gostei da entrevista.