domingo, 10 de janeiro de 2010

TRÊS POEMAS DE VÂNIA MELO

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NEM FLORBELA, NEM CECÍLIA


Não tenho alma
Ela não sonha, nem fica perdida
Tenho olhos de lira
Que tocam quando te vêem
E desafinam quando me miras

Não tenho barcos, nem mãos, nem sonhos
Tenho um pezinho torto
Que corre quando tu olhas
E para quando não voltas.

Queria ser Florbela em meus comas
Queria ser Cecília em meus dias
Mas perdi os versos que te fiz
E acordei dos sonhos de menina por um triz.



CANTIGAS DE CABARÉ


Beijava a cara com um jeito de louco
Envolvia nas pernas, assim meio torto
Falava ao ouvido um segredo rouco
Suado, calado, caia meio morto

Fazia juras ocultas, assim meio bobo
Apertava malvado, batia um pouco
Como quem nada quer olhava seu braço
E com um gesto grosseiro jogava o laço

Pouco a pouco se ia no mesmo passo
Deixava um trocado e se ria palhaço
Saía contente, bêbado, em descompasso

Ficava sozinha, ligava a vitrola
Ouvia cantigas e cantarolas
Que falavam de mar e iam embora.



COISA DE IR EMBORA


Não traga males
Não faça drama
Traga seus olhos
Porque dos meus já não gosto
Traga sua boca, porque na minha, sabor já não há
Me dispa, se dispa

Não traga males
Não faça drama
Enlouqueça, entonteça
Fique em meu corpo
Volte à minha cama
Me vista de gozo, se vista de nu

Não faça malas
Não traga dramas
Obedeça, ceda
Fique em meus olhos
Volte em minha boca
Me vista de ouro, se vista depressa

Não traga malas
Não faça a cama
Entenda, atenda
Fique em meus pensamentos
Volte em meus sonhos
Me vista e não chore, se vista e não volte.

7 comentários:

Paulo André disse...

Gostei dos versos. Revelam uma grande carga poética. Só consigo ouvir neles as vozes afirmativas da própria poesia.

Marcelo Nascimento disse...

Belos versos, essa menina está sem dúvidas contaminada com essa praga que é a poesia, CANTIGAS DE CABARÉ
é belo, Parabéns Vânia.

Lana Damasceno disse...

Adoreiii... poesia de qualidade...eita mulher arretada!!!

Fabrício de Queiroz disse...

Gostei de como conta uma história em versos e como escolhe as palavras... marcam.

abs;
Fabrício

Caio Rudá de Oliveira disse...

Cantiga de cabaré é uma delícia de poema: nos empresta uma nostalgia tão inocente.

Priscila de Freitas disse...

Adorei COISA DE IR EMBORA, "se vista de nu" é uma imagem belíssima. Parabéns Vânia!

Eliseu Couto disse...

Parabéns poeta! Vejo que tens nas veias o sangue poético. Mostra teus versos para o mundo, pois o teu poetar se mostra bastante fecundo!