domingo, 10 de janeiro de 2010

SANGUE NOVO - VÂNIA MELO



CANTIGAS DE AMOR E DE CABARÉ – A primeira vez em que vi VÂNIA MELO, não me contive e perguntei, usando um verso do poeta paraíbano Hildeberto Barbosa Filho: “Tu és mulher ou és o fogo do inferno?”, Ela não hesitou e respondeu: “O fogo do inferno”. E é mesmo! Mas é um fogo no qual todos querem se aquecer, pois trata-se do fogo da poesia, trata-se dos calores do amor. Vânia Melo nasceu em Salvador, em 1980. Possui graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia e é especialista em História e Cultura Afro-brasileira pela Faculdade São Salvador. Participou de eventos de poesia como o Porto da Poesia, na VII Bienal do Livro Bahia (2005), o projeto Poesia na Boca da Noite (2005), a Praça do Cordel e da Poesia, na IX Bienal do Livro Bahia (2009) e Caruru dos Sete Poetas, em Cachoeira, Bahia(2009). Atualmente leciona Literatura e Língua Portuguesa. Pois bem, vamos sentir um pouco a força dessa poeta que é autora de suas cantigas de amor e de cabaré e que deixa transbordar em seus versos sensualidade e beleza.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – Vânia, João Carlos Teixeira Gomes, o famoso Joca, tem um poema que diz “A poesia não é um campo de flores./ A poesia é um campo de dores/ temores/ sobressaltos”. Para você, a poesia é um campo de flores ou de dores? E por quê?

VÂNIA MELO – Penso que a poesia é um campo de flores que cultivamos a partir de nossas dores. É a tradução do indizível, a escrita representativa de nossos sentimentos, vivências, aprendizados. A poesia é a palavra encantada que dá conta do que não damos, do intangível.

JIVM – Hoje, fala-se muito em literatura homoerótica, poesia negra, literatura feminina? O que você acha dessas classificações? Há realmente necessidade dessas divisões?

VM – Acredito que há a necessidade das escritas afirmativas enquanto legitimação da fala de um grupo que algumas forças contrárias ocultam. A partir do momento em que se atribuem nomes para formar grupos, há também interesses de grupos hegemônicos em rotulá-los para julgá-los e, por vezes, depreciá-los. Penso que a poesia é eficaz em alcance pela emoção e conscientização. Ela nos faz refletir e também apaixonar, logo cumpre diversos papéis frente à sociedade. A visibilidade positiva de grupos até hoje marginalizados vê na poesia a chuva de flores dissolvendo os males.

JIVM – Em seus escritos há um forte apelo sensual. O que lhe leva a escrever dessa maneira? E quais são as suas principais influências?

VM – Vejo meus escritos como uma liberação das forças que por vezes ocultamos por timidez ou medo. Sim, ocultamos no plural, pois acredito sermos senhores de energias poderosíssimas, entre elas, talvez as mais fortes sejam a do amor, do sexo e sedução. Tudo isso transformado em poesia e escrito por uma mulher ganha uma representatividade forte, visto que é sabido o papel atribuído à mulher em uma sociedade patriarcal e machista como a que vivemos. As coisas vêm melhorando e as mulheres têm um espaço maior pra falar, já somos autoras das nossas cantigas de amor e já não precisamos chamar nossos desejos de “amigo”; Hilda Hilst me diz isso, Florbela Espanca e Clarice Lispector também.

JIVM – Qual o sentido de escrever poesia num país que ignora seus poetas?

VM – O país precisa nos enxergar, ouvir o que temos pra dizer e, principalmente, compreender a importância de nossos escritos. Somos milhões entre cordelistas, repentistas, contistas... Porém é necessário apresentar cultura de modo mais efetivo para a população, desconstruindo ideias já impregnadas sobre Literatura em segundo plano ou em lugar algum e reavivar a importância da leitura, do teatro, da canção. Quando escrevemos, chamamos atenção para a conscientização, a magia, o encantamento, o deleite.

JIVM – Algum livro em vias de publicação? O que a poeta Vânia Melo anda fazendo?

VM – Na verdade, tenho uma gaveta cheia deles... Santas de Cabaré e Eu e barulho do nada são livros de poesia; além deles tenho dezenas de contos que renderiam, pelo menos, dois livros. Outros poemas com temáticas sensuais, algumas memórias e poemas sobre negritude também são produzidos com alguma frequência e já são um começo para outras obras.

9 comentários:

Unknown disse...

Grande potencial!
A forma como ela escreve é simplesmente MARCANTE!

Marcelo Nascimento disse...

Adorei a entrevista, Inácio e Vânia, enquanto o país ignorar a poesia ainda haverá pessoas escrevendo, divulgando seus poemas e outros poetas e gritando poesia por aí a fora, alguem há de nos ouvir e de ler também. parabéns para voces.

Ailana disse...

Inácio, eu nunca havia feito um comentário em se blog, mas fico feliz por escolher esse momento ,pois pude encontrar uma poesia de qualidade Vânia Melo é espetacular! Parabéns

Georgio Rios disse...

Inacio e Vânia

Poetica e sintonia dentro dos versos das perguntas e respostas.Uma bela composição.E ainda melhor acompanhado de belos e telúricos poemas!!

Unknown disse...

Parabéns, a Inácio por descobrir a Caramelo e a Vânia por resplandecer lindamente! E parabens a todos nos que fomos agraciados com a leitura da entrevista e das poesias! O dom não te põe à boca ou à pena menos do que transbordas. Você é tão grandiosa quanto você, Vânia! E a ti todas as minhas exclamações!!!!!!

Unknown disse...

O dom não te põe à boca ou à pena menos do que transbordas, Caramelo, porque és tão grandiosa quanto tu! Parabéns, a Inácio por repercuti-la mais e a Vânia, por assim sê-lo! Parabéns!!!

Vitor Nascimento Sá disse...

Parabéns, Vânia.
Também acho que os rótulos servem muito mais a quem não tem rótulos. Desde sempre a literatura de alguns foi assim jogada ao escanteio, com rótulos: reginalismo, poesia feminina, poesia negra, poesia gay... enquanto isso, os que se dizem universais são sempre universais.

Parabéns pelos poemas também... gostei muito.

Aleandro Senna disse...

Parabéns a Vânia pelos Belos Poemas
gostei muito...
e parabéns a Inácio, Quem dera nosso país tivesse mais Gente igual a você disposto a descobrir e Divulgar novos e Talentosos Poetas...
Abraços.

Caio Rudá de Oliveira disse...

Ótima entrevista. Vânia revela um fazer poético lúcido, embora, como ela mesma afirma, trate do indizível e mexe com as poderosas forças da sexualidade.

Parabéns!