quinta-feira, 26 de março de 2009

FLORISVALDO MATTOS - NÃO AOS CAVALOS TRIUNFANTES

Ilustração: Ângelo Roberto


NÃO AOS CAVALOS TRIUNFANTES
Aos meninos de My-Lai


Não me tragam esses cavalos.
Não, não me dêem nenhum deles.

Nem o de Alexandre Magno
que comeu os mitos do oriente.
Nem o cavalo de César
que riscou o chão da Gália
foi à Espanha e voltou
para acabar com Pompeu.

Nem o intrépido corcel de Aníbal
na derrota de Cartago.
Nem o fero potro de Átila
de patas excomungadas.
Não, nem mesmo Babieca,
o louco cavalo do Cid.

Nenhum daqueles valentes
fortes cavalos cruzados
cobertos de ferrarias:
grandes cavalos blindados
heróis da Idade Média
salvação da cristandade.
Nem o branco de Napoleão
empinado sobre os Alpes
suando revolução.

E outros cascos triunfantes
outras crinas memoráveis
cavalos como bandeiras
sejam árabes ou romanos
espanhóis ou americanos
não me dêem esses cavalos!

Para mim de nada servem
as ferraduras de sangue
que chagaram geografias.
Esse peitoral de bronze
dizimador de cidades
arrasador de sementes.

O fogo de suas narinas
pulou séculos e mapas
transformou povos em cinzas
e ainda queima os espaços.
Os relinchos são navalhas.

Não, já vos disse, não quero.
para mim de nada servem,
são cavalos militares
ensinados para a guerra.

Desde criança que amo
cavalos pelas campinas
sentindo o cheiro do pêlo
saltando pedras e cercas
(a disputa era com os ventos
Ao espelho de águas claras).

Quero esses, e somente esses,
cavalos da natureza,
livres de arreios e pulsos –
ruços, alazães, castanhos,
negros, melados ou pampos.


FLORISVALDO MATTOS

2 comentários:

Héber Sales disse...

Belo poema. Está em algum livro do poeta, José Inácio?
Abraços

karina rabinovitz disse...

oi Zé Inácio,
hoje percorri um pouco de sua casa. de janelas abertas, cortinas que voam ao vento e tantos amigos pro café, especialmente o café de Moisés...
bonito aqui.
lembranças da boca da noite.
um abraço, Karina