sábado, 14 de fevereiro de 2009

JOSÉ GERALDO NERES - ENCONTRO NINHOS DE CENTAUROS

Ilustração: Ramiro Bernabó

ENCONTRO NINHOS DE CENTAUROS

a poesia transborda no dorso do enigma
estou longe de mim no fundo dos olhos do centauro
o mundo me habita e uma aquarela espera o seu galope
dentro da infância busco atravessar a ponte
sua voz me guia e inventa fantasmas de barro
trago em mim outras feras e um peixe a escrever flores
procuro um milagre e resta apenas este poema
centauro de língua escarlate
a galopar o espelho
estou aqui na poeira dos seus passos
de mãos dadas com seu filho a cravar palavras a afogar dias
não importa o labirinto brinco de deus e beijo suas raízes
no balanço da rede resta o silêncio e o cheiro do sol na carne
[da moça na encruzilhada a construir a arca da salvação
longe de mim a olhar a sombra dos vaqueiros
estou aqui tragédia a morder poeira
trago em mim um epitáfio e uma romaria
não sei ser quase sou pedra barro lama sêmen
semente de relógio em um deserto de cicatrizes
minha cruz a marcar o silêncio
não me ofereça o paraíso preciso de uma sombra
o poema se aproxima a caminhar além das preces
espero o movimento de suas lâminas
em mim os cavalos e os pássaros invocam o sacrifício da vida

JOSÉ GERALDO NERES
Lendo “A infância do Centauro” de José Inácio Vieira de Melo, Escrituras Editora, 2007

José Geraldo Neres é poeta, ficcionista, roteirista, arte-educador. Assessor literário da Secretaria de Cultura, Prefeitura de Diadema. Bolsista da Fundação Biblioteca Nacional. Co-fundador do grupo Palavreiros.

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