sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ANTONIO BARRETO - O ABC DE JORGE AMADO EM VERSOS DE CORDEL NO DIA DE SEU CENTENÁRIO DE NASCIMENTO



Acordei de madrugada
Com o céu todo estrelado
A lua mais que singela
Passeava no tablado
Em São Jorge me inspirei
E por fim cordelizei
O ABC de Jorge Amado

Baiano lá de Ferradas
Interior da Bahia
Município de Itabuna
10 de agosto foi o dia (1912)
Jorge Amado encarnou
E um anjo anunciou
Que famoso ele seria.

Convidado pela lua
Anjos, deuses, orixás
Jorge Amado sob o sol
Sempre atento aos sinais
Foi uma grande centelha
Nesta seara vermelha
De injustiças sociais.

Debaixo dos cacauais
De Itabuna e Ilhéus
Nosso mago das palavras
Olhando os anjos nos céus
Num arco-íris de festim
Viu as terras do sem fim
E a chegada dos troféus.

Esculpindo o seu futuro
Com destino a Salvador
Descambou pelas estradas
Como um grande buscador
É o compadre de ogum
Na capital de Oxum
Para ser um vencedor.

Farejando o seu destino
Nas águas de Yemanjá
Na capital da Bahia
Encontrou seu orixá
Daí surge o jornalismo
Onde mostra brilhantismo
Sonhando jubiabá !

Garimpador de ametista
Ouro, prata, diamante
O mais amado de todos
Num lugar dessemelhante
No Diário da Bahia
Ele então começaria
A jornada tão brilhante !

Há no seu grande currículo
A famosa Academia
Nomeada Dos Rebeldes
Com outros na parceria.
Assim surge o escritor
De grandeza e de valor
Que o mundo consagraria.

Inventivo e inquieto
Mouro, afro e lusitano
Ele cria uma revista
De nome Meridiano
No ano de vinte e oito (1928)
E prossegue sempre afoito
Além do solo baiano.

Jorge Amado - o artesão
Da palavra a contento
Abre as portas do sucesso
Na revista “O Momento”
Também “A Meridiano”
E prossegue soberano
Na grandeza e no talento.

Kilômetros nessas lonjuras
Ao redor do mundo inteiro
Anunciando a Bahia
E o povo brasileiro
Dos costumes às façanhas
Das artes às artimanhas
Do mais rico ao obreiro.

Leva um sonho adiante
De ser grande advogado
Mas o seu destino enfim
Há muito predestinado
Faz de Jorge um condor
O esperado escritor
Pelo mundo festejado.

Militante comunista
Não quis mais advogar
Somente a literatura
Podia lhe acalentar
Pois a vida literária
Era a trilha necessária
Do nosso grande avatar.

Nas andanças de menino
Percorreu nosso sertão
E não foi só a Bahia
Que lhe deu boa lição.
Em Sergipe, com o avô,
Sob as ordens de Xangô
Se banhou de inspiração.

O seu primeiro romance
O Pais do Carnaval
Publicado em 33   (1933)
Foi o brinco inaugural.
A partir daquele instante
Sua produção brilhante
Se tornou universal.

Prosseguiu no seu labor
Na defesa do oprimido
Com Suor e com Cacau
Seu sucesso é aferido
Depois Capitães de Areia
E Mar Morto – de mão cheia
Desse bardo tão querido.

Quem jamais esqueceria
O que Jorge semeou ?!
Lembro Pastores da Noite
Que a todos encantou.
Nessa dança Gabriela
(A nossa ) Cravo e Canela
Que o cinema abraçou.

Recordar Tocaia Grande
Doda Flor e seus dois Maridos
É dever dos bons leitores
Sejam novos ou crescidos
Nas escolas e nos lares
Seus encantos e falares
Não podem ser esquecidos.

Sabedoria e leveza
Do baiano grão-vizir
No belo Farda e Fardão
Camisola de Dormir
Desse nosso mensageiro
Jorge Amado alvissareiro
Sempre, sempre a reluzir.

Tem Os Velhos Marinheiros
Pelos mares do destino
A Morte e a Morte de Quincas
Berro D’Água – o genuíno
Boêmio mais que profano
O perfil do bom baiano
Entre a sorte e o desatino.

Uma Tereza Batista
Cansada de Guerra ou não...
Uma Tenda dos Milagres
Que reflete a escravidão
Da Bahia africana
E um pouco lusitana
Que segue na contra-mão.

Vem, Tieta do Agreste,
Vem rasgar todos os véus
Pastoreia em Mangue Seco
Apaga teus fogaréus
Faz da vida o que quiseres
Diz a todas as mulheres
Foi São Jorge dos Ilhéus !

Word que dizer mundo
Lá no idioma inglês
Mas Jorge foi traduzido
Do alemão ao japonês
Do mongol ao catalão
Do esloveno ao letão:
Ao total cinquenta e seis.

Xerazade em sua arte
Fez o mundo se encantar
Jorge Amado dos Ilhéus
Coloriu no além mar...
É o mistério da palavra
Daquele que esculpe e lavra
Nos ventos do verbo amar.

Yogue, padre, poeta
Marinheiro, ateu, pastor
Maluco, beato, obreiro
Aluno, sábio, doutor...
Quem não leu o romancista
Jorge Amado - alquimista
Das palavras, do amor ?!

Zelando pela cultura
De um país embrionário
Vou cordelizando a vida
E anotando em meu diário:
Jorge Amado – o escritor
Merece nosso louvor
No seu belo centenário...

               Fim
Salvador, agosto de 2012

ANTONIO BARRETO

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