terça-feira, 12 de julho de 2011

VERÔNICA DE VATE - ALEXANDRE BONAFIM




ALEXANDRE BONAFIM nasceu em Belo Horizonte em 1976. Viveu na capital mineira até os 8 anos de idade. Em seguida, passou a residir em Franca, interior de São Paulo. Morou também em Assis, Alemanha e, agora, reside em Goiânia. É poeta, ficcionista e crítico literário. Publicou os seguintes livros de poesia: Biografia do deserto (2006), A outra margem do tempo (2008), Sagração das despedidas (2009), Sob o silêncio do anjo (2009), Arqueologia dos acasos (2010) e Arquipélago do silêncio (2011). Teve seu conto "O cavalo azul" publicado na antologia portuguesa "Um rio de contos", livro no qual autores de Portugal e Brasil foram reunidos, em importante antologia. Participa da antologia Roteiro da poesia brasileira, da editora Global, organizada por Marco Lucchesi. É mestre em Estudos literários pela UNESP, defendendo a seguinte dissertação: A graça poética do instante: poesia e Memória em Rubem Braga. Tal trabalho foi publicado em livro com o mesmo título. Atualmente é doutorando em Literatura Portuguesa pela USP, desenvolvendo pesquisa sobre a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen.


Eu sempre fui o pastor do teu riso,
a infância de tua morte,
a eternidade de tua voz.
Eu sempre fui o grito de tua nudez,
as vestes de teu pensamento,
a música de tua carne.
Em ti dissolvi o mar,
as constelações,
as mais ásperas paisagens.
Em ti respirei os abismos,
as interditas palavras,
as horas mais efêmeras.

Fomos dois punhais surdos
a cortarem o silêncio das pedras.



XVII

Para enfrentar a tua beleza,
era necessário amparar-me
na luz dos relâmpagos,
no frêmito dos rios profundos,
na queda dos pássaros;
era preciso agarrar-me
a tudo o que era frágil,
a tudo o que se findava
num leve palpitar de asas.
Não poderia estar só
ante a tua beleza...
Para fitá-la necessitaria
estar de mãos dadas
com todos os desastres,
com todas as febres.
Se livremente olhasse
o teu semblante,
sem me iniciar no rito
de tua delicadeza,
a carne dos meus olhos secaria,
meus ossos como vidro quebrariam,
toda sede e toda fome
devastariam meus dias.
Porque tua beleza
é toda simplicidade,
toda leveza, toda dádiva;
é a sombra de um vôo
que passou pela minha vida
e fez ninho onde nunca existirei.

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