sábado, 31 de outubro de 2009

TRÊS POEMAS DE EMMANUEL MIRDAD


Ilustrações: Txhelo Castilho
















EVOLUÇÃO



primeiro foi a rebeldia
depois o cansaço
por último a fuga
e agora os cacos



GADO BOM É NO MEU PRATO


para essa poesia
dos homens de barro
ordeno que chova
derreta e desfigure
todos os encatamentos baratos
de uma atmosfera farsante

o urbano impera
e há tempos digeriu a inércia
de quem saúda o passado transposto

já era, já foi, acabou
e que as mãos cerrem as páginas inúteis
que emporcalham as prateleiras quase ausentes

eu escrevo pra mim
e enterro você, que nunca me lerá



MARIA CEGUETA


É difícil explicar a alguém
Como chegar a um determinado lugar
Se a pessoa estiver pilotando
Um animal assombroso
Aspirador de pó
Cão que rói tudo

Mesmo assim
Não faça confidências aos filhos
Nem lhes peça um apoio
Que nunca serão capazes de dar

Estão na mesma barca aportada
Entupidos do ópio comum
Às frustrações acumuladas
De todas as fracassadas gerações

3 comentários:

Georgio Rios disse...

Fogo, e mais fogo dentro dos versos.Manda Brasa !

Marcelo Nascimento disse...

Realmente são versos fortes, o fogo de seus versos endossam o sangue de seus olhos.

Vitor Nascimento Sá disse...

para essa poesia
dos homens de barro
ordeno que chova
derreta e desfigure
todos os encatamentos baratos
de uma atmosfera farsante

Não adianta nem tentar evitar. Esse cara vai colocar fogo em tudo mesmo.
Parabéns pela entrevista, Inácio. Um valioso achado.