GARRAFAS AO MAR - GEORGIO RIOS é baiano, nascido em 1981, na cidade de Riachão do Jacuípe, onde vive entre pés de algarobeiras, vendo o romper do sol e lavando os olhos nas cores das madrugadas. É graduado em Letras com espanhol pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Publicou uma coletânea de poemas em parceria com Paulo André e Thiago Lins, Só sobreviventes (Tulle, 2008). Edita o blog Modus Operandi (http://www.georgio-rios.blogspot.com/), onde publica seus poemas. Conheça mais sobre este jovem poeta que joga seus poemas ao mar, em garrafas, na esperança de que eles cheguem às mãos do leitor.
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – Por que ser poeta? Está mesmo preparado para carregar a cruz?
GEORGIO RIOS – Porque não consegui me livrar desta circunstância, algo de sina... Não consigo ficar sem escrever. Mesmo depois de ter me perguntado, nas horas mais calmas, se conseguiria ficar sem escrever, descobri que não consigo, a escrita reverbera, tira o sono, dita. É imperativo, escrevo, logo existo... E o caminho da poesia foi o que me coube abraçar, é o que me arrebata. Ainda que eu escreva prosa ela sobressai. Lições de RILKE.
Carregar a cruz? Estou aprendendo os varedos deste caminho com os calos nos lombos, arde, mais há possibilidades. É uma preparação ad infinitumm. Onde cada novo poema é uma marca deste caminho, marcas que contam história. E vou andando... Caminho longo a percorrer.
JIVM – O que pretende com sua poesia, mesmo sabendo que quase ninguém dá a mínima para o que os poetas escrevem?
GR – Penso, e trato minha poesia tendo como exemplo, um náufrago, que lança ao mar suas garrafas com bilhetes, buscando quem receba a mensagem. Assim, cada poema que escrevo é uma dessas garrafinhas que atiro, e há quem as leia, e assim o trabalho não é vão. A pretensão se é que eu a tenha, é que a minha poesia possa ser lida que alguém possa ter um momento de iluminação ao passear por meus versos, que alguém, algum leitor (a) aprecie o que escrevo. Mesmo insatisfeito com o que escrevo, (lembrando de Quintana), sempre desconfio que o poema ainda possa ser lapidado. Mesmo quase ninguém dando a mínima pra poesia, escrevo, e há alguns raros leitores que admiram e lêem o que encontram nestas garrafinhas... Isso justifica minha escrita.
JIVM – O que você lê? Quais são os autores e obras que são suas influências?
GR – Blogs. Muitos e quase diariamente, o de Kátia Borges, o de Katharine Funke o de Martha Galrão, o da Gerana também, e outros. Boa prosa, e poesia, que tem que ser boa também. Não me prendo a um gênero fixo. É um bom texto, eu quero ler. Mais já li até jornal que apanhava no lixo, por vicio de ler. Muito jovem ainda, peguei um exemplar de Os Sertões, tomado emprestado de uma tia minha pra fazer um trabalho do colégio, li a parte destacada para a excussão da tarefa e nunca mais entreguei o livro. O primeiro poeta que li foi Ferreira Gullar. Um livro que “roubei” na biblioteca da escola onde estudava, eram as obras completas, fiquei fascinado com a dança dos versos na página. Depois de devolver o livro entrei em contato com Drummond, Quintana, Cecília e Manoel Bandeira. Quando entrei na Universidade conheci boa parte dos prosadores que tenho na estante, Guimarães Rosa sempre me prendeu. João Cabral de Melo Neto, A Educação pela pedra é um livro definitivo em se tratando de poesia. Borges, Cortázar, Arlt, João Antonio, José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos, (fiz até papel de Fabiano em uma peça) Clarice Lispector. Antes já havia lido estes e outros, mais com a Universidade, a gama de escritores que li e que de algum modo me influenciam até hoje tive conhecimento por intermédio das aulas de Roberval Pereyr, e as de Mayrant Gallo, este me apresentou a Kafka. Sobre a literatura Portuguesa, sem dúvidas Chico Lima foi quem me deu as chaves para entrar no mundo de Pessoa, e seus heterônimos... Sem contar que foi na universidade que conheci a moçada que escreve boa literatura aqui na Bahia, e que faço questão de divulgar sempre que tenho oportunidade. Bons escritores e bons amigos a um só tempo: Roberval Pereyr, Mayrant, Sandro Ornellas, José Inácio Vieira de Melo, Gustavo Rios, Ayêska, Renata Belmonte, Carlos Barbosa, Vanessa Bufone. Tem o Ruy Espinheira Filho, li seu livro De Paixões e de Vampiros, recentemente, prata fina. Lupeu Lacerda, Wladimir Cazé, Lima Trindade, Eliana Mara Chiossi, Idmar Boaventura, Cleberton Santos, e outros que também são bons mais não dá pra botar todo mundo aqui... Tenho lido eles com freqüência, boa literatura também pode existir fora do cânone, e este batalhão tem feito bonito nas letras da Bahia. Há um pouco do que eles escrevem no que escrevo.
“EU CELEBRO a mim mesmo/ E o que eu assumo você vai assumir,/ Pois cada átomo que pertence a mim pertence a você”. Walt Whitman
Livros como Folhas da Relva de onde retirei o fragmento acima, Estrela da Vida Inteira, Rosa do povo, El hacedor, Grande Sertão: veredas, Jubiabá, Poema Sujo, Pau-Brasil, O deserto dos Tártaros, e outros e outros... Estarão sempre com uma vaga garantida na cátedra da influência. Há também um poeta português que descobri a pouco, o António Ramos Rosa, dono de versos fortes.
JIVM – Quando é que vai sair da gaveta do computador? O que tem pronto? Há alguma perspectiva de publicação?
GR – Bem, os livros vão se escrevendo, e quando junto à produção de uma temporada arrumo em livro, algo que me custa muito, pois não tenho temas, escrevo atentando para o que diz Octavio Paz, sobre o instante consagrado, a poesia nasce deste instante. Recentemente fui atropelado por um doido que para não apanhar o sinal vermelho, entrou na contramão, acertando em cheio eu e minha esposa, gestante de quatro meses, felizmente nada de mal aconteceu conosco, nem com o bebê. Deste incidente nasceu o poema RISCO, que postei no blog logo depois que saí da Clínica. É assim que nascem meus livros.
Prontos, tenho dois volumes de poesia. Um chamado Depois da Chuva, que está nas mãos de uma editora do Rio de Janeiro, especializada em pequenas tiragens, que, após ler alguns poemas postados em meu blog mostrou interesse em publicar. Deve sair uma publicação.
O outro livro que tenho pronto é o Modus Operandi, que está sendo revisado por um poeta amigo meu, e que aguarda uma oportunidade de publicação. Seria bom que este livro tivesse a oportunidade de ser publicado aqui na Bahia, por editora daqui. Mais vamos aguardar. Espero que em breve ele possa sair e ser lido por leitores daqui e de outros estados que faz algum tempo já acompanham meu blog. Sigo escrevendo e escrevendo, outros livros virão com certeza, e a oportunidade de publicar também... Pelo menos acredito nisso, e trabalho para que isto aconteça.
JIVM – E o que mais dizer? Solte o verbo?
GR – Queria dizer: que agradeço a oportunidade dispensada a mim. Que sempre possa haver oportunidades para se tratar de literatura e instigar aqueles que gostam de ler. Fazer com que mais pessoas adquiram este vício que eu adquiri lendo jornais catados no lixo, e que depois passei aos livros, e comecei a escrever... Que haja a viabilização de publicação aos que escrevem, e que tem algo a dizer, estes que tem esta força criadora batendo sempre a porta. Não há escrita que seja simples, como bem diz Borges: “... Não existe na Terra uma única página, uma única palavra, que o seja, já que todas postulam o universo, cujo atributo mais notório é a complexidade”. Que na nossa Bahia haja mais espaços e mais eventos onde se possa disseminar o vírus da literatura nos jovens. Que se possa formar um público leitor e um mercado editorial sólido por estas terras da Bahia. E que surjam mais e mais oportunidades pra nós, os novos, que estamos enfrentando as “dores” desta cruz que tomamos. Pois do que foi dito, mais ficou, sem ser dito, pela impossibilidade de dominar a lembrança. Mais a escrita é feita destes espaços vazios, que devem ser preenchidos por quem nos lê. Obrigado a você José Inácio, e a todos os que lerem estas palavras. Que as lacunas possam ser preenchidas!
sábado, 1 de agosto de 2009
SANGUE NOVO - GEORGIO RIOS
SANGUE NOVO é uma seção que criei com o intuito de divulgar autores inéditos. A cada mês entrevistarei um jovem poeta, fazendo perguntas básicas, e publicarei três poemas de sua autoria. O primeiro é Georgio Rios.
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22 comentários:
Parabéns, Zé, por mais essa iniciativa. Parabéns ao Georgio pela batalha diária e desarrazoada da literatura. Não suma não, rapaz, dê um toque vez em quando. Abr. (carlos)
Georgio Rios é um poeta que veio para ficar. Sempre acreditei em sua verve poeta. Acho que tem muito ainda a nos presentear.
Paulo André
Parabéns pela iniciativa. Acreditar no novo é sempre importante e renova as esperanças. Parabéns a Georgio também, pelo trabalho desenvolvido.
Ótima entrevista. Esse rapaz é poeta até ao responder a algumas perguntas...
Foi Georgio, sem dúvidas, que me empurrou para esse caminho. Não há como não se influenciar por seus versos e pelas conversas.
Parabéns, meu filho.
Grande JIVM, só um poeta maior como vc para ter essa generosidade. A maioria é formada por uma pavonice sem limites. Parabéns! E olha que o Georgio leva jeito. É bom poeta o menino!
Uma entrevista esclarecedora.Um bom Início, com belos poemas e belas respostas.Parabéns ao editor do blog e ao poeta.
Antônio Reis
Legal a conversa! Parabéns ao entrevistado e ao entrevistador!
Muuuuito bacana!
Parabéns!!
Mas acho que muita gente valoriza, sim, a poesia. Não é algo tão distante assim do mundo! Você, por exemplo, está dando a sua contribuição!
Um abração!
Pedro Antônio
Parabéns pela entrevista.Iniciativas como esta são de grande valia para o desenvolvimento da poesia no Brasil.
Ana Rita Rios Mascarenhas
Muito que bem, iniciativa comovedora e valiosa. E felicitações ao Georgio, por se pemitir ser tocado pela poesia. Aquele abraço.
Thiago Lins
Inácio, você e mais uma idéia boa para a poesia!
Fico sinceramente alegre em saber que Georgio lê o que escrevo, pois eu estou sempre apanhando as garrafas que ele lança ao mar.
beijos para os dois,
Martha
Inácio, será que te inspirei? Muito boa iniciativa, meu amigo. Parabéns pela entrevista e longa vida a esta seção!
Georgio:
"Estou aprendendo os varedos deste caminho com os calos nos lombos, arde, mais há possibilidades".
Sempre há. O que importa é a perserverança e a persitência.
"...sempre desconfio que o poema ainda possa ser lapidado".
Desconfiança ingrata, constante, que tanto atormenta. Concordo 200% contigo! Passei sete anos lapidando os meus.
"Que sempre possa haver oportunidades para se tratar de literatura e instigar aqueles que gostam de ler".
A batalha está aí, enfrentada por todos.
"Que as lacunas possam ser preenchidas".
Estamos preenchendo! Como digo por aí, 'bota pra frente' e 'jogue duro'!
Grande Georgio Rios,
Parabéns pela entrevista, meu colega virtual.
Palavras eloquentes e história fascinante.
Além de jogar as garrafas ao mar, meu amigo, também jogas uma rede fininha, e pesca... pesca os leitores que se emaranham nas suas poesias, homi...
Saudações sertanejas desse matuto, cabra.
Abração também ao mestre José Inácio. Salve poesia.
Ótima a entrevista.
Georgio faz justiça ao seu nome grego: é aedo.
Muito boa a entrevista, cara.
É como disse Rudá... Meu padrinho é poeta até pra responder umas perguntas!
Tomara que esses projetos saiam logo da gaveta do computador.
¡adiós!
Engrosso o coro dos que aprovaram a iniciativa e desejam vida longa a este blog, aos novos poetas, ao autor e à poesia!
Boa iniciativa, Inácio. E belo começo com o Georgio. Parabéns aos dois. Abraço, Sandro O.
Conheci Georgio em Feira esta semana e quero muito ler sua estréia.
Parabéns, Zé, por divulgar os nossos escritores da terrinha.
Maravilha de entrevista! E parabéns, Zé, pela iniciativa, pela primeira escolha... Vamos aguardar agora a estréia solo do Georgio... Abração!
Parabéns José Inácio por sua dedicação em divulgar a literatura, adorei o Sangue Novo, é muito bom poder entrar em contato com as novidades do mundo literário.
Parabéns Gerogio por sua perseverança,
continue lançando suas garrafas ao mar e tenha fé que sempre terá alguém para recolhe-las.
Excelente entrevista. Parabéns Inácio e Georgio. Parece que esse rapaz sofre, de fato, da doença da poesia. E, pelo que parece, não há esperança de cura.
Graças a Deus.
Esta entevista é metalinguistica...a poesia falando da poesia, nada mais poético... parabens aos dois. Biel
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