Por
Waldemar José Solha
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José Inácio Vieira de Melo, Walt Whitman e Bob Dylan, andarilhos da poesia. |
Uma
inesquecível e deslumbrada leitura do poema BRASIL – de RONALD de CARVALHO –
marcou-me os anos de adolescência, enquanto devorava os 18 volumes do Tesouro
da Juventude, pois o poeta já começava com a empolgação herdada do americano:
"Nesta
hora de sol puro
palmas
paradas
pedras
polidas
claridades
faíscas
cintilações"
"Eu
ouço o canto enorme do Brasil!"
Recentemente
resenhei o excelente BABELICAL, do paraibano radicado em Brasília – mestre em
literatura pela UnB, LEONARDO ALMEIDA FILHO – também com muito de Walt Whitman,
sem qualquer angústia de influência. De repente recebo mensagem com a
maravilhosa tradução, do IVO BARROSO, do EU CANTO O CORPO ELÉTRICO, depois de
uma conversa nossa sobre o grande cantor da América. E FERNANDO PESSOA é ótimo,
porém fica ainda melhor quando , assinando "Álvaro de Campos",
escreve como o grande autor de LEAVES OF GRASS e suas três traduções ao gosto
do freguês - Folhas de Erva, de Relva, de Grama.
E
acabo de ler ENTRE A ESTRADA E A ESTRELA, que me comprova a felicidade enorme
de Whitman de grassar fecundas rebentações em tantos poetas notáveis. O autor –
alagoano radicado na Bahia – disse numa entrevista, que escreve “deitado em
folhas de relva” e, nessa nova obra, apesar de afirmar que “agora, só quero
ouvir Bob Dylan” – o poeta e compositor declaradamente na trilha whitmaniana –
é bem mais Whitman do que ele.
Whitman,
em toda biografia aparece como poeta, orador e andarilho. E talvez José Inácio
seja o mais andarilho / de seus filhos, pois logo nos primeiros versos aborda
pela vez primeira o refrão:
"O
mundo foi feito pra gente andar.
(...)
E
por mais que se percorra mundos,
por
mais longe que se chegue,
mão
haverá chegada, não haverá,
porque
o mundo foi feito pra gente andar."
E
isto é Whitman puro:
"No
meu movimento, gentes, geografias,
diamantes,
espinhos, auroras, crepúsculos."
E
diamantes o leitor encontrará em cada bateia. “Sei que estou mais próximo de
uma formiga / do que de uma estrela, mas só quero brilhar”. “A vida é leve
quando as garças voam / sobre Sete Coqueiros / e abandonam a solidão no mar”.
“Caminhar / até a padaria mais próxima / e comer um sonho que me leve à tua
rua”. “Sou um país que vem correndo solto, / como um b arco a favor do vento”.
“Tudo em mim reclama por outros mundos. / Tudo em mim clama fundo pelo
desconhecido!”
Fascinam-me
todos esses não-eus - whitmanianos poetas, soltos na buraqueira, vendo muita
gente e muitos lugares - em versos tão livres quanto eles.

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