sábado, 25 de janeiro de 2014

INVENTOR DE MUNDOS

José Inácio Vieira de Melo

“Em algum momento / É preciso dar o passo”, diz o poeta André Guerra nesta Casa de espelhos, livro que inaugura sua caminhada pelo assombroso universo da poesia. André está ciente de que somente “Al andar se hace el camino”, e este verso do poeta espanhol Antonio Machado, que aparece como epígrafe, vem corroborar seu “Itinerário”. E que belo percurso poético, traça André Guerra em Casa de espelhos!

Octavio Paz nos ensina que “a força criadora da palavra reside no homem que a pronuncia”.  Casa de espelhos apresenta um poeta que não pretende reinventar a roda ou retornar ao ruído das cavernas, como esses versejadores que brotam aos borbotões por aí e atulham a poesia brasileira com invencionices carentes do sentido da força criadora. Guerra descortina horizontes e “inventa mundos até dizer chega” e diz mais: “Invento a mim nessas coisas que invento”, verso este que está em sintonia com Paz: “O poema nos revela o que somos e nos convida a ser o que somos”.

Seguindo ainda a afinação da lira do poeta mexicano, André Guerra usa o arco do verso e, com a flecha do delírio, acerta em cheio o sentimento, expandindo as dobras, esticando-as mesmo, criando momentos de tensão e de pura beleza. André palmilha o caminho do verso, como um narciso que foge da beira do lago e mergulha num templo de espectros, onde sua face se estilhaça, fragmentando-se ao máximo para compor a poeira cósmica, a poesia primeva.

Casa de espelhos está dividido em quatro partes – “Poemas crônicos”, “Casa de espelhos”, “Das coisas que vejo” e “Mergulho” – que se multiplicam em labirintos líricos, caminhos de uma só verdade: a poesia inventada por André Guerra, jovem poeta que “sussurra ameixas frescas / no ouvido inverno dos tempos”.

Apresentação do livro de poemas Casa de espelhos (Edições UESB, 2013)

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