José Inácio Vieira de Melo

Octavio
Paz nos ensina que “a força criadora da palavra reside no homem que a
pronuncia”. Casa de espelhos apresenta um poeta que não pretende reinventar a
roda ou retornar ao ruído das cavernas, como esses versejadores que brotam aos
borbotões por aí e atulham a poesia brasileira com invencionices carentes do
sentido da força criadora. Guerra descortina horizontes e “inventa mundos até
dizer chega” e diz mais: “Invento a mim nessas coisas
que invento”, verso este que está em sintonia com Paz: “O poema nos revela o
que somos e nos convida a ser o que somos”.
Seguindo
ainda a afinação da lira do poeta mexicano, André Guerra usa o arco do verso e,
com a flecha do delírio, acerta em cheio o sentimento, expandindo as dobras,
esticando-as mesmo, criando momentos de tensão e de pura beleza. André palmilha
o caminho do verso, como um narciso que foge da beira do lago e mergulha num
templo de espectros, onde sua face se estilhaça, fragmentando-se ao máximo para
compor a poeira cósmica, a poesia primeva.
Casa de espelhos está dividido em quatro
partes – “Poemas crônicos”, “Casa de espelhos”, “Das coisas que vejo” e
“Mergulho” – que se multiplicam em labirintos líricos, caminhos de uma só
verdade: a poesia inventada por André Guerra, jovem poeta que “sussurra ameixas frescas / no ouvido inverno dos
tempos”.
Apresentação do livro de poemas Casa de espelhos (Edições UESB, 2013)