quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

TRAVESSIA

José Inácio Vieira de Melo

A outra margem é um título que suscita muitas abordagens, sobretudo quando o assunto é poesia e tem-se como referência um escritor como João Guimarães Rosa, cuja linguagem é um manancial que banha a todos nós, os escritores contemporâneos de língua portuguesa.
As águas de Idmar Boaventura são as mesmas do mestre Rosa, mas são, também, outras bem diversas; digamos que umas se banham nas outras para seguirem seus cursos ainda mais límpidas. Idmar é consciente dessa confluência, e assim, solitário na pluralidade, é um “rio de infindáveis margens”, que busca a terceira margem – lugar dos libertos.
A outra margem não é, necessariamente, o outro lado do rio. Pode ser também um mergulho nas profundezas das regiões abissais do ser humano, pode ser o lugar da incessante busca dessa criatura que está de passagem e que constrói “catedrais/ de vento,/ monumentos/ de plástico”, como a querer perpetuar o seu traço efêmero ou criar condições para “O retorno”.
Neste seu segundo livro, Boaventura nos oferece um “Auto-retrato” existencialista e traz todo o Cosmo em sua íris (“Sou mesmo sozinho./ Todo o universo/ mora em meus olhos,/ e o outro universo/ não me diz respeito”). No que tange ao aspecto formal de sua lírica, é possível fazer aproximações com Antonio Brasileiro e Roberval Pereyr, poetas de sua admiração, assim como com o já citado Guimarães Rosa.
Além dos poemas inéditos, A outra margem reapresenta 19 poemas de seu belo livro de estréia O desossar das horas, vencedor do prêmio Tribuna Cultural 2001, do jornal Tribuna do Sertão, da cidade de Feira de Santana. Nesses poemas, Idmar viola os templos e “viaja até a última fronteira”, numa linguagem seca e apurada que “vaga sem destino/ nos escuros vãos/ da memória”.
Idmar Boaventura é um representante do que há de mais vigoroso na novíssima poesia da Bahia. Seus versos produzidos até agora demonstram seu potencial e já lhe conferem uma credencial. Na verdade, trata-se de um estigma mesmo – Idmar Boaventura é mais um gauche na vida, traz as asas do albatroz, é um fatalizado pela palavra poética.
Ao fazer a travessia para (e por) A outra margem, o leitor vai ter a oportunidade de se banhar nas águas da existência e, como o poeta, descobrir “que entre mim e mim mesmo/ há cem mil léguas de abismo”.

Apresentação do livro de poemas A outra margem (Selo Letras da Bahia, 2008)

3 comentários:

Idmar disse...

Olá meu caro amigo, obrigado pela lembrança!

Lidi disse...

Gosto muito e admiro Idmar. Bom amigo, grande poeta. Abraços.

Evanir disse...

Estou conhecendo seu blog hoje fiquei muito feliz.
Já estou seguindo você gostaria muito de poder fazer um link do seu blog para entrar na lista de blogs amigos.
Estou a sua espera te desejo uma linda semana.
Um santo Natal para você familia e amigos.
Beijos .
Evanir