domingo, 11 de setembro de 2011

OS POEMAS E AS LEITURAS DE JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

Por Cláudio Portella
Foto: Ricardo Prado

Na resenha anterior, publicada aqui no 2+, sobre a coletânea dos novos poetas baianos, Sangue Novo, organizada por José Inácio Vieira de Melo, falei de poetas que nasciam. Nessa resenha falo de um poeta pronto: José Inácio Vieira de Melo. Seu novo livro comprova o percurso de sua caminhada poética após cinco livros de poesia publicados. O poeta mostra agora seus 50 melhores poemas.
Sendo um poeta pronto, é interessante irmos atrás de sua formação de poeta. Digo: quais suas leituras quanto leitor de poesia? O poema que o poeta escolheu para abrir seu novo livro é dedicado ao poeta cearense Gerardo Mello Mourão. O poema se chama “Invenção da Poesia”, e versa, em estilo clássico característico ao poeta para quem o poema é dedicado, no nascer da poesia. Quando se faz um poema sobre a metalinguagem da poesia: está se falando da poesia ou do poeta? Poesia e poeta é a mesma coisa? Reflexões à parte.
O primeiro poema do livro nos revela duas coisas: a primeira que o poeta cearense é uma de suas leituras e a segunda a influência demarcada da poesia clássica em sua formação de poeta. Vemos isso com mais clareza no poema “Sonata das musas escarlates”, selecionado no livro.

INFLUÊNCIAS

Gerardo Mello Mourão, Francisco Carvalho, Patativa do Assaré e Raimundo Fagner

Coincidência ou não, alguns poetas cearenses tenham muita culpa na formação do poeta José Inácio Vieira de Melo. São eles: o já citado Gerardo Mello Mourão, Francisco Carvalho e Patativa do Assaré. Muitos poemas do livro trazem uma ressonância do poeta Francisco Carvalho. Poeta que, por sua vez, traz uma ressonância do poeta Carlos Drummond de Andrade. Um poeta influencia o outro. José Inácio recita de cor poemas de Patativa do Assaré.
O poeta Patativa do Assaré, apesar de ter o mesmo sentido épico do seu conterrâneo Gerardo Mello Mourão, talvez seja a antinomia, no que se refere a cantar o mundo, do poeta Gerardo Mourão. Patativa transita na escola regionalista, enquanto Mourão no classicismo. José Inácio Vieira de Melo nos dois mundos. Selecionou também para o livro o poema “Romaria”, onde as ressonâncias nos lembram Patativa.
Claro que há muitas outras leituras de poetas que formaram o poeta José Inácio Vieira de Melo. Muitas só perguntando para ele. E certamente nem caberiam nesse espaço. O poema “Pedras amoladas, facas atiradas”, dedicado ao poeta pernambucano João Cabral de Melo neto (muitos “Melo”: Gerardo Mello Mourão, João Cabral de Melo Neto e José Inácio Vieira de Melo), onde dialoga com o poeta pernambucano, talvez seja mais uma indicação de suas leituras.
A característica mais forte de sua poesia é a de cantar o sertão nordestino. Apesar de todas as suas leituras e descaminhos, não abre mão da sua própria dicção poética e do seu caminho. Um caminho próximo do canto, do canto do poeta, mais um cearense, Cego Aderaldo, do canto do compositor cearense Raimundo Fagner.
Acredito que haja uma singularidade entre o canto de José Inácio e o do cantor Fagner. Ambos, apesar de todas as reentrâncias, retomam o caminho do aboio. Não de uma poesia feita para recrutar gado, mas para celebrar a vida.

Este artigo foi publicado originalmente no caderno +2 do jornal A Tarde, na página 4, em 7 de setembro de 2011

2 comentários:

Mazé Anunciação disse...

Belo texto, José Inácio. Diz muito das origens da sua poesia. E é realmente impressionante como os artistas cearenses influenciaram sua obra poética. Parabéns ao Cláudio Portella pela argúcia. Beijinhos ao crítico e ao poeta.

André Guerra disse...

Parabéns pelo reconhecimento, poeta!