segunda-feira, 22 de agosto de 2011

JIVM - GÊNESE

Ilustração: Juraci Dórea


GÊNESE


Sabe, moça da encruzilhada,
quando te encontrei foi um assombro.
Tu trazias estampada no semblante
a indagação que me acompanha.
O mais espantoso é que também
eras a resposta que sempre busquei.

Não aquela resposta exata, matemática.
A verdade que tua chegada me trouxe
foi a das abelhas zunindo no romper da aurora
em busca do mel das flores das algarobeiras,
foi a dos cavalos galopando na boca da noite
sonhando com touceiras de capim e éguas luzidias.

Ah, moça, tu estás no centro da Rosa dos Ventos,
pra onde deres o passo é caminho o que há.
A gente olha pra cima e não vê limite:
é tudo um azulão que não acaba mais.
Mas basta dar meio-dia, o limite aparece,
e não é longe não: bem na boca do estômago.

Sabe, vou te dar um chapéu do tamanho do céu,
que é pra te proteger dos devaneios solares
e pra que todos te percebam e apontem para ti:
“olha lá a moça que sombreia o mundo”.
E todos vão te olhar e todos vão te aplaudir
e o arco-íris vai ficar preto-e-branco de inveja.

Aí, um passarinho, desses bem miudinhos
que trazem uma sanfona de cento e vinte no peito,
vai aparecer e assobiar uma cantiga doce:
e a gente, espiando bem dentro dos olhos,
começa a sentir um monte de estrelas pipocar.
É isso, quando te encontrei, nasci.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO



GÉNESIS


Sabes, muchacha de la encrucijada,
cuando te encontré fue un asombro.
Tu traías estampada en el semblante
la indagación que me acompaña.
Lo más espantoso es que tambien
eras la respuesta que siempre busqué.

No aquella respuesta exata, matemática.
La verdad que tu llegada me trajo
fue la de las abejas zumbando alromper de la aurora
en busca de la miel de las flores del algarrobo,
fue la de los caballos galopando en boca de la noche
soñando com matas de hierba y yeguas resplandecientes.

Ah, muchacha, tu estás en el centro de la Rosa de los Vientos,
hacia donde dieres el paso es camino lo que hay.
Miramos hacia arriba y no vemos limite:
es todo un azular que no acaba nunca.
Mas basta que llegue el medio día, el límite aparece,
y no es lejos, no: bien en la boca del estómago.

Sabes, te voy a dar un sombrero del tamaño del cielo,
que es para protegerte de los devaneos solares
y para que todos te perciban y apunten hacia ti:
“miren allá la muchacha que sombrea el mundo”.
Y todos te van a mirar y todos te van a aplaudir
y el arcoíris va a quedar en blanco y negro de envidia.

Entonces un pajarito, de esos bien menuditos
que traen un acordeón de ciento veinte en el pecho,
aparecerá silbando una dulce canción:
y espiando bien adentro de los ojos,
comenzaremos a sentir una explosión de estrellas.
Eso es, cuando te encontré, nací.


TRADUÇÃO PARA O ESPANHOL: VERÓNICA NIETO


O poema “Gênese”, da antologia 50 poemas escolhidos pelo autor, foi publicado na revista literária argentina Magda, em agosto de 2011. A tradução é da escritora Verónica Nieto. A editora da revista é Adriana Ruiz.

5 comentários:

Martha disse...

Este poema é tudo de bom. Um "arco-íris que fica preto e braco de inveja" e "um passarinho que traz uma sanfona de cento e vinte no peito", não existe coisa mais linda! É de uma singeleza que deixa a gente enternecida. A tradução também ficou uma beleza. Seus poemas merecem ser traduzidos para todos os idiomas, para que todas as pessoas tenham a possibilidade de sentir o encanto da sua palavra. Parabéns, meu querido poeta. Parabéns também à tradutora. Beijos.

CLEBERTON SANTOS disse...

valeu poeta. nossa poesia invadindo outros ouvidos-idiomas. merecemos. abraços.

ANTONIO NAHUD disse...

CAJUEIROS E PASSARINHOS

de Antonio Nahud Júnior
para os amigos poetas
Genny Xavier,
José Inácio Vieira de Melo
e Ritinha Santana


Na paisagem nordestina
subindo ao céu
frondosos cajueiros plantados
no chão de areia fina
saltam para todos os lados
fugindo do chicote do tempo
na pele de folhas verdes
do vento veloz alazão
que desce das cumeeiras
dos morros cor de lírio
assim que a noite abre
suas portas de negridão.

Esses cajueiros sinuosos
são casa de passarinhos:
de pintassilgo, pardal,
de lavandeira, vem-vem,
de canário e bem-te-vi,
de galo-de-campina
e martim-pescador,
de anum-preto e sabiá,
de pica-pau-amarelo,
de concriz e juriti,
de soldadinho, rolinha,
graúna e beija-flor,
corrupião e tiziu,
de curió, andorinha,
coleiro e papa-capim,
rouxinol e canção,
asa-branca, tico-tico,
xexéu-de-bananeira,
engole-vento, nambu,
pinta-roxo e verdelim,
de golina e azulão,
bicudo, sanhaçu,
bico-calado e patativa,
quero-quero e cotovia.

Tais formosuras voadoras
bicam o mel do outono
na polpa dos avermelhados cajus
anunciando encantamentos
com paixão e melodia.
Ah cajueiros! ah passarinhos!
vou na quimera da maturidade
que dura tão pouco e ilude
plantado de valentia e de contemplação
com a sensação de auroras e meio-dias
metade homem aventuroso
metade miragem da poesia.

simone gallego disse...

que deleite seus poemas!

alguns já desfilam em meu blog.

grande abraço

simone
www.embuscadepoesia.blogspot.com

simone gallego disse...

Prontamente atendido!

Grata pela correção!

abraços

simone gallego