P I E D A D E
Se eu amasse Hitler, seria uma santa. Ofereceria, para meu pobre ditador, todo o perdão. Em noites de frio, aguardaria sua chegada, com a sopa quente. Ofertaria o abrigo do meu colo. Se eu amasse Hitler, arranjaria um jeito de ser surda. E falaria com ele apenas de assuntos banais como a textura do morango e a beleza dos cristais. Para evitar pesadelos e higienizar minha memória, dos relatos do horror por ele praticado, eu iria me transformar, pouco a pouco. No estado de pedra dura e condensada, desejaria a morte, cada dia. Mas antes, a face de santa seria coberta pelas lágrimas de sangue. Se eu amasse Hitler, teria a vida de uma estátua. Chegaria o momento do extremo alívio, morte desejada. Na expressão do meu rosto, prévio monumento, haveria a gravação terrível da certeza: aquele homenzinho odioso era meu filho. E era humano.
ELIANA MARA CHIOSSI
*
Eliana Mara Chiossi vai se apresentar, no próximo dia 12 de setembro, no projeto Uma Prosa Sobre Versos, na cidade de Maracás, Bahia, coordenado por Edmar Vieira. Na ocasião, Eliana Mara vai lançar Fábulas delicadas, que é o seu primeiro livro, mas que surge com uma maturidade que é possível apenas para quem tem ouvido absoluto e compreende os ritmos inumeráveis das polifonias dos delirantes. O evento conta sempre com a participação especial do Grupo Concriz, que faz um belo recital com poemas do convidado (a). O Grupo Concriz é composto por 25 jovens da comunidade maracaense e coordenado pelos irmãos Marcelo Nascimento e Vitor Nascimento Sá.
Eliana, minha amiga, viva intensamente esse momento de glória da sua palavra poética. Leve suas fábulas delicadas para a Cidade das Flores e semeie as pétalas do seu sentimento mágico no coração da calorosa platéia que vai apreciar seu trabalho. Gostaria muito de estar com você, mas minha poesia também vai estar se espraiando por outras paragens – estarei na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Mas, de alguma maneira, estaremos juntos, você, eu e os concrizes de Maracás. Beijos.
JIVM
3 comentários:
Tenho certeza que vai ser uma noite espetacular, esperamos por Elina Mara com muita ansiedade
abraços José Inácio é mesmo uma pena não podermos contar com sua presença
espero que dê tudo certo pra vc na Bienal.
Inácio,
Esse conto (poema?) de Eliana é um achado. É de uma sensibilidade e de uma força que dificilmente se acham por aí. Parabéns, Eliana. Estamos ansiosos (eu e todo o Grupo Concriz) pelo encontro.
Que Eliana brilhe cada vez mais, por ela e por nós.
Postar um comentário