MONÓLOGO DAS VISÕES DO ACASO
Abro a boca das palavras
Sou a fala
Sou o grito
Sou um eco de silêncio do infinito
que perturba a razão deste enigma
Abro a boca das palavras
Sou a voz de um planeta aflito
– De carne
– De osso
– De espírito
– Espelhos do corpo e da alma
Sou um código que multiplica
estrelas andarilhas
Abro a boca das palavras
Sou mais treva que dia – sou o mito
Sou a multidão que delira
num palco que gira – que gira
entre a volúpia dos sonhos
o terror das máscaras
e o trânsito das coisas vazias
– Sou na paisagem veloz
um comboio de vagões
correndo atrás da fantasia
Mas
sentimentos são vísceras
– De cada paixão
– De cada amor
– De cada cicatriz
saltam milhões de travessias
E nem é preciso acordar no céu
os dragões da lua
E nem é preciso cravar na luz do peito
uma flor
Sentimentos são vísceras
– Se caio sobre um lençol de espumas
– me crucifico
– Se mais eu grito – a eternidade me confina
Enquanto a noite abrir a porteira dos dias
e pensar o coração
O verso nunca termina
– Da imaginação
nasce o ritmo e a melodia
– Poesia é a matriz dos sonhos e dos delírios
Cálice que derramei de vinho
na fronteira da página que lia
Abro a boca das palavras
– Acima ou abaixo dos anéis de Saturno
Do telescópio à periferia
Sentimentos são vísceras
– Trapézio que a mão trepida
sobre um fio de lâmina
Que equilibra – que equilibra
O impulso trágico da vida.
ADELMO OLIVEIRA
Praia da Aleluia, 19.12.06
Ipitanga
Um comentário:
Simplesmente fantástico:
"– Sou na paisagem veloz
um comboio de vagões
correndo atrás da fantasia"
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