terça-feira, 12 de outubro de 2010

SANGUE NOVO - FABRÍCIO DE QUEIROZ VENÂNCIO



DESAGUAR EM VERSOS – FABRÍCIO DE QUEIROZ VENÂNCIO, 23 anos, nasceu em Salvador e é estudante da Universidade Federal da Bahia. Tem poemas publicados na antologia Diversidade e Convivência (EDUFBA 2009). Participou da Praça do Cordel e da Poesia, na Bienal do Livro da Bahia (2009), e editou e participou da primeira edição da revista Na Borda da Xícara. Mantém o blog http://www.fabriciodequeiroz.blogspot.com/ Para ele a escritura é um desaguar em versos. Vamos conhecer um pouco do manancial de Fabrício, poeta que inventou a borda da xícara e que borda versos no tecido do universo.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – Por que você escreve?

FABRÍCIO DE QUEIROZ VENÂNCIO – Escrever para mim é como um desaguar. E algumas coisas só consigo desaguar em forma de verso. Comecei dessa forma e com as leituras e o tempo fui aperfeiçoando o modo de escrever, quanto a rima, forma, etc. Contudo, não mudei essa minha peculiaridade de "desaguar em versos".

JIVM – Você e dois amigos, Max e Darlan, publicaram o primeiro e único número da revista Na borda da xícara. De quem foi a idéia? E por que a revista homenageia o poeta Luís Antonio Cajazeira Ramos? E por que não publicaram outras edições?

FQVNa Borda da Xícara surgiu de uma reunião semanal fracassada que eu e mais três amigos, Max, Lucas (este compõe a primeira edição da revista) e Vítor, tínhamos para discutir nossas leituras, uma espécie de café literário/filosófico. Em mais uma falta semanal dos dois últimos, Max propôs a construção de uma revista e eu simplesmente topei. No mesmo dia esquematizamos o formato, dividimos atividades, resgatei um nome que Max sugeriu para um blog a alguém e posteriormente convidamos Darlan para ajudar.
O livro Como Se (do Cajazeira) foi encontrado num sebo pelo Vítor, que nos levou e imediatamente nos apaixonamos. Depois de um tempo, já com a revista em editoração, conseguimos o número dele e ele foi muito atencioso em nos encontrar (na época ele só conheceu o Max) e dar conselhos... Depois se afastou e justificou que não queria que a revista ficasse com a "cara dele", mas com a nossa. Cajazeira foi nossa grande descoberta na Bahia, nos abriu as portas para que conhecêssemos o que de bom se faz de poesia por aqui, é um excelente poeta e sua atenção e ações foram fundamentais na elaboração da revista. Eu e o Max somos fãs dele.
Não continuou, por enquanto, por questão financeira. Nós não queríamos, na época, encher a revista com propaganda de patrocinadores, o que nos afastou da idéia da busca de patrocínio privado. Resolvemos bancar e contar com os escritores para isso. Pagamos boa parte do custo da primeira edição indo a eventos vender a revista, o que dá um trabalho enorme. Nenhum de nós três vive pela literatura e decidimos não ter esse trabalho novamente e tentar custear a revista via edital de cultura. Passamos da primeira fase em um destes, mas não deu. Vamos continuar tentando via edital.

JIVM – Você lê muito? Qual foi o primeiro livro que leu? O que está lendo agora? Quais são os seus escritores referenciais?

FQV – Leio muito sim e não lembro o primeiro livro que li, acho que foi algum fininho que encontrei pela biblioteca da escola onde fiz meu ensino fundamental, em Cajazeiras.
Lembro do primeiro que me marcou, que foi As Brumas de Avalon, de Marion Z. Bradley. Atualmente estou lendo um livro técnico e, enfim, Dom Quixote.
Acredito que vou apreendendo um pouco do que vou lendo. Inicialmente lia poetas de língua inglesa como T.S. Eliot e Willian Blake. Eliot influenciou muito na forma em que escrevo. Depois fui descobrindo os clássicos e agora estou no Brasil e na Bahia, com Ruy Espinheira, Ivan Junqueira, Cajazeira Ramos, etc.

JIVM – Como você analisa a cena poética de Salvador? Os eventos e projetos são muitos e há espaço para todos? Ou a coisa é escassa? Os poetas são unidos ou se degladeiam? E você nesse meio, como age?

FQV – Pra mim é difícil dar uma resposta confiável a essa pergunta, já que aos espaços, quando frequento-os, chego, assisto, digo alguns "ois" e vou embora. Não por falta de crédito, ou qualquer coisa assim, mas por timidez mesmo. Não me lembro de 'degladeamento' em meio impresso ou digital. Sei de algumas rixas vindas de rumores, mas nada escancarado.
Eventos existem. Agora, quando vou, comumente me deparo com as mesmas pessoas (não que não goste delas) e, quando há novas, são normalmente da Academia. Carecemos de um Projeto para de fato tentar começar a universalizar a poesia... Tem tanta gente "jogando versos" por aí. Deve-se ter precaução para que não se forme um meio caduco que fica escrevendo para si mesmo. Poesia é arte e portanto uma das formas de procurar entender a si e ao mundo.

JIVM – E agora? Uma nova revista? A publicação do primeiro livro? E o que mais?

FQV – Aguardando editais para Na Borda da Xícara, acho que a revista merece. Quanto a livro não me sinto a vontade com os meus poemas para colocá-los em um livro, não ainda. Existe uma proposta de uma editora para eu e o Max escrevermos um livro juntos, já que temos alguns poemas "a quatro braços", mas estamos vendo isso ainda. É algo, no mínimo, ousado de se fazer.
Mas, pelo lado de cá, ousadia não falta.

3 comentários:

Paula: pesponteando disse...

Vc sempre descortinando talentos.

Parabéns!

Georgio Rios disse...

O grande Fabricio é um poeta de fibra, e escreve como quem compõe música. Boa música.Parabéns Fabricio, e a Inácio por nos brindar com boa poesia!

Daniel Farias disse...

encontrei fabrício também por intermédio de cajazeira. em poucas palavras trocamos blogs, aproximamos o contato e, de minha parte posso dizer de uma admiração tremenda por seus versos. ele tem um estilo já construído e que acompanho esperando ansioso pelos poemas que, obviamente, levam seu tempo para amadurecer e enfim aparecem em seu blog. que bom!