quarta-feira, 29 de setembro de 2010
JIVM - SOLUÇO
sábado, 25 de setembro de 2010
JIVM NO PROJETO TERÇAS POÉTICAS
terça-feira, 21 de setembro de 2010
POESIA SEM “MÁSCARA DE FERRO”

Depois de ler o admirável posfácio de Eliana Mara Chiossi, não sei o que mais poderia dizer a respeito do livro de poemas de José Inácio Vieira de Melo: Roseiral de palavras que nos transmitem os conteúdos da modernidade literária do tempo presente. O poeta rebelde à linguagem transcendente dos versejadores que celebram o mundo, como se fosse uma casa de portas e janelas abertas para os líricos de meia tigela. Eliana Chiossi mergulha nos labirintos de sua dicção poética para decifrar os enigmas de sua personalidade literária. Ela nos fala, com extraordinária densidade crítica, do “abalo mais visível do seu universo interior, presente nas combinações semânticas” que conferem “a seus versos uma tonalidade rubra, passional e incendiária”, num processo de associações que incendeiam as ideias, à maneira de coivaras que ardem nas fazendas sertanejas para a plantação das primeiras chuvas.
Destaca a composição dos sonetos brancos, impressos na segunda parte do livro. Afirma que o poeta tem profunda admiração “pelos poemas de forma fixa. Estudioso assíduo da metrificação, escolhe os versos decassílabos” para exprimir sensações e desenvolver temas sobre acontecimentos telúricos que homenageiam o “feminino”. O poeta exibe comportamento viril na sua poesia, e o faz de maneira explícita, com palavras e ideias precisas.
Os sonetos brancos me parecem ótimos, além de serem uma forma de sair da “máscara de ferro” do velho soneto petrarquiano, tão vilipendiado pelas gerações modernas. Os sonetos brancos me agradam pela flexibilidade formal, principalmente os rimados sem o rigor dos sonetistas à moda antiga. Acredito que a boa poesia pode estar presente nos versos rimados e metrificados. Inúmeros poetas poderiam servir de exemplo a essa afirmação, desde que não se leve demasiado a sério o vício de rimar dos parnasianos.
JIVM é um poeta admirado pelos amantes da poesia, medida ou sem medida. Não se apresenta como poeta radical. Pelo contrário, é bastante flexível para compreender que os tempos mudaram, e que os poetas têm de estar atentos para o rumo da onda. Na página 75, ele confessa abertamente: “Em seus largos cômodos,/ habitam uma enorme solidão/ e muitas vontades de vida.” na página 70 ele nos diz que sua “noite é imensa dentro da sua largura/ e de um canto a outro é cheia de grilos”... Na página 69, faz o elogio das nádegas femininas, sem levar em conta o falso moralismo dos que tentam esconder os privilégios da sexualidade.
Lendo JIVM, ficou-me a impressão de que ele tem grande afinidade com a obra poética de Gregório de Matos, conhecido pela alcunha de O Boca do Inferno. Segundo Augusto de Campos, “Gregório de Matos continua a esperar que as gerações mais novas arranquem a “máscara de ferro” dos sonetos de piedade e arrependimento que, em nome do ‘humano’ e do decoro, lhe afivelam à genial boca do inferno”.
Estou convencido de que JIVM é um poeta de expressão nacional, na medida em que usa a linguagem do povo na realização de seus poemas. Ele recorre à sensibilidade dos humildes para exprimir os sonhos de cada um de nós.
Francisco Carvalho é poeta e ensaísta. Publicou, entre outros, Quadrante Solar (1982) – Prêmio Nestlé de Literatura, Girassóis de Barro (1997) – Prêmio Fundação Biblioteca Nacional, Memórias do Espantalho (2005) e O Sonho é Nossa Chama (2010).
Resenha publicada na revista virtual Verbo21 número 133, agosto 2010 (http://www.verbo21.com.br/v3/)
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
SANGUE NOVO - ÉRICA AZEVEDO

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – A poesia atende a quais demandas suas? Ou é você que atende a um chamamento premente, “mais urgente do que a vida”, como diria o poeta Alberto da Cunha Melo? Ser poeta é uma missão ou um projeto?
ÉRICA AZEVEDO – Eu não escolhi ser poeta, quando percebi já estava escrevendo, ou melhor, já sentia a necessidade de escrever. Este é o meu modo de aquietar as angústias que alimentam meu ser, minha forma de tornar suportáveis as dores humanas. Poder transformar um momento ou um novo olhar num poema é, para mim, algo tão necessário quanto o próprio respirar. Florbela Espanca afirmou que ser poeta é “ter cá dentro um astro que flameja”. E esse astro às vezes me queima, outras me extasia... E assim continuo escrevendo e vivendo. Posso dizer, apenas, que não criei o projeto de me tornar poeta, mas a busca pelo aperfeiçoamento enquanto poeta tornou-se um projeto.
JIVM – Um poeta ao publicar um livro e colocá-lo à venda, nas livrarias, pretende o que, já que tem consciência de que não vai vender quase nada? E você, sente-se animada com essa realidade? Por que abraçar esse ofício?
EA – Sabe quando lemos um poema e sentimos que ele expressa algo que não conseguiríamos organizar em pensamentos e ficamos emocionados durante a leitura? Enquanto poeta me sinto realizada duplamente quando percebo que um poema escrito por mim tocou alguém. É isso que me move. Por isso, mesmo sabendo que um livro não alcançaria uma grande quantidade de venda o desejo de publicar permanece.
JIVM – Em que momento de sua vida você foi tocada pela poesia? Qual o primeiro livro de poemas que você leu? O que está lendo agora? Quais os poetas que lhe conduzem às esferas do delírio?
EA – Não conseguiria precisar quando comecei a me encantar pela leitura e produção poética, mas devo ter rabiscado meus primeiros versos aos 13 anos, ou um pouco antes. O primeiro livro de poesias que li foi uma seleção de melhores poemas de Bandeira. São muitos os poetas que me conduzem ao êxtase literário: Bandeira, Quintana, Pessoa, Florbela Espanca, Drummond, Paulo Leminski, Ruy Espinheira Filho, entre tantos outros. Permaneço lendo esses poetas que me encantam profundamente e buscado conhecer as produções do momento seja através dos livros ou dos blogs.
JIVM – O que pode ser feito para que o povo brasileiro, sobretudo os jovens, leia mais? E em que medida a leitura pode contribuir para a evolução do ser e, consequentemente, da sociedade?
EA – A leitura é essencial para ampliar nossos conhecimentos, para nos aprimorar enquanto ser humano, uma vez que através dela entramos em contato com experiências que nos mostram distintas “realidades” e com isso podemos nos aprimorar enquanto pessoas. Penso que quando os jovens perceberem o prazer que a leitura pode proporcionar a resistência que se tem a ela se tornará ínfima. Creio que somente por meio da descoberta do prazer da leitura pode se conseguir que as pessoas leiam mais.
JIVM – O que você anda fazendo? Já tem algum projeto de publicação de livro? E o que mais?
EA – Estou trabalhando como professora de língua portuguesa e de literatura. Estou selecionando alguns poemas para publicar muito em breve. Também tenho escrito alguns contos e enveredar pela poesia e prosa simultaneamente é um desafio que estou disposta a abraçar.
TRÊS POEMAS DE ÉRICA AZEVEDO

CHUVA
Ouço a chuva que passa
intensamente
e molha tudo em sua volta
seus sinais de presença
desperta-me numa noite fria
que eu queria apenas dormir.
Insisto em fechar os olhos,
ela insiste em cair
e pelos meus ouvidos atravessa o telhado
e molha os sonhos
que adormecem em mim.
RETRATO
Minha alma carrega um peso
que não permite
ajuste.
Todo Lugar é
lugar nenhum.
Meu corpo é uma vasilha sem forma
que me torna livre
como um pássaro
que não sabe voar.
DESTINOS
Num espaço
fechado
andando entre vozes
e dedos
persigo uma multidão
ao encontro de mim.
Até que a multidão
chegue ao fim.

domingo, 12 de setembro de 2010
JIVM - JARRO INDÍGENA

Flechas guaranis vieram falar
da superfície e desses arvoredos,
da luz, ventre da noite e mãe do dia,
e do rio que dessedenta os homens.
A fim de desdobrar certos estados
na palavra, a mulher anela o barro
da tarde: jarro tecido em imagens,
alucinados arcos-cintilantes.
O real é um todo obscuro e triste.
Nele ouvimos as demandas dos homens,
ventos que guardam grandes mãos vazias.
Assim bradam as flechas guaranis,
entre o duplo do espelho acendem tempo
e espaço, sendo sempre o estradar.
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
VERÔNICA DE VATE - ASTRID CABRAL

Obras publicadas:
Alameda (ficção) 1ª edição: GRD, Rio, 1963; 2ª edição: Editora Valer, Manaus, 1998
Ponto de cruz (poesia) Cátedra, Rio, 1979
Torna-viagem (poesia) Pirata, Recife, 1981
Zé Pirulito (história infantil) Agir, Rio, 1982
Lição de Alice (poesia) Philobiblion, Rio, 1986
Visgo da terra (poesia) Edição Puxirum, Manaus, 1986
Rês desgarrada (poesia) Thesaurus, Brasília, 1994
De déu em déu (poesia reunida) Sette Letras/Biblioteca Nacional, Rio, 1998
Intramuros (poesia) Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, 1998
Rasos d’água (poesia) Co-edição Governo do Amazonas, Editora Valer, Manaus, 2003
Jaula (poesia) Editora da Palavra, Rio de Janeiro, 2006
Ante-sala (poesia) Editora Bem-te-vi, Rio de Janeiro, 2007
Antologia pessoal, Thesaurus, Brasília, 2008
Antologia/50 poemas escolhidos pelo autor, Edições Galo Branco, Rio de Janeiro, 2008
Sobre escritos/ Rastro de leituras (crítica literária) Editora da Universidade do Amazonas, Manaus. No prelo.
*
Ontem, Astrid Cabral participou do Projeto Com a Palavra o Escritor, na Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho, às 17 horas. Foi apresentada pelo poeta Luís Antonio Cajazeira Ramos. Amanhã, dia 10, será a vez da cidade de Maracás receber a poeta amazonense, em um grande evento, como soe acontecer na Cidade das Flores, com a participação sempre especial do Grupo Concriz. E no dia seguinte, sábado, 11 de setembro, encerrando a jornada poética de Astrid, ela irá participar do projeto Travessia das Palavras, em Jequié, a Cidade Sol, que também contará com a presença da turma boa do Grupo Concriz. E viva a Poesia!!!
PERFIL
Dona de casa
dona de nada
escrava de lavras
à terra amarrada.
Mãe de família
mãe de alegrias
entre lutos e sustos.
Jaqueira imensa
cheia de frutos.
Poeta nas horas vagas?
Poeta nas horas plenas
embora raras...
O mais, não vale a pena.
DAS COISAS
Algumas são perecíveis.
As comestíveis, por exemplo,
tão assimiláveis e semelhantes
nas urgências e desgastes do corpo
tão irmãs no destino decadente
mergulham conosco na voragem.
Outras são descartáveis
e se afastam de nós cada vez mais
rejeitadas por nossos gestos
rebaixadas a lixo e ainda assim
recicláveis com direito pleno
à metamorfose e reencarnação.
Grande parte das coisas
é de assombrosa resistência
matéria incólume pelas eras
muralhas e pirâmides de pedra,
pontes, arcos, e torres de ferro,
coroas de ouro e diamante.
Efêmeros seres em trânsito,
devemos conviver com presenças
tão duradouras que até diríamos
participantes da eternidade.
Destas mantemos distância
devido às incompatíveis esferas.
Abro o guarda-roupa e encontro
os casacos com que meu filho
enfrentou a neve de Chicago
e caminhou ao sol da Califórnia
a camisa de um ido Carnaval.
Restos de seu rastro no mundo.
Não fosse a vida humana
assim breve, impermanente
poderia vesti-los a qualquer instante
perfeitos, embora pendurados
bem mais de uma dezena de anos
nos ombros fantasmas dos cabides.
Como disse um amigo às vésperas
de seu embarque definitivo:
o mundo só se acaba pra quem morre.
Daí a sobrevivência das coisas.
Apesar da aparência precária
de mudez e paralisia, resistem.
Longo é o circuito de tantas coisas
Pequenas enquanto o tempo nos destrona
Derrubando-nos ao rés-do-chão.
ASTRID CABRAL
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
O QUE HÁ DE NOVO
Cheguei de Recife, de onde trago boas notícias. E antes fui à Bahia, de onde também trago boas notícias. Não sei o que há em todo o Brasil, mas posso testemunhar que a literatura nunca esteve tão viva, pelo menos nos lugares por onde andei.
O que tenho a contar é que fui a Maracás, interior da Bahia, para participar do projeto "Uma prosa sobre versos", que mensalmente convida um autor de poesia. O poeta convidado envia a sua obra antecipadamente e essa obra é selecionada para ser recitada pelo grupo Concriz, dirigido por Vitor Nascimento Sá. À frente do projeto, Edmar Vieira de Almeida, diretor de cultura da Secretaria Municipal de Educação que conta também com a colaboração sobre todas as coisas do poeta José Inácio Vieira de Melo.
O evento acontece no Auditório Municipal, que dá para a praça. O autor chega e pensa que está sonhando, vendo tanta gente querendo ouvir poesia. E quando começa o espetáculo, e aquelas crianças e adolescentes começam a oferecer, como se fosse algo totalmente novo, a nossa própria poesia, isso é emoção que dificilmente se esquece, e que dificilmente é contida. Grandes poetas estiveram lá, e todos eles ficaram marcados pela maravilha que é não só o trabalho, mas o fato de que existe uma cidade onde a poesia é lida constantemente, acariciada, transformada pelas vozes e a força de cada um dos membros do conjunto. Dessa maneira a poesia passa a ser algo natural, familiar, e todos se encontram aptos a conversar depois sobre ela, a fazer perguntas, dissipar dúvidas, matar curiosidades sobre o autor. E com que carinho, com que sinceridade fomos tratadas, eu e Luiza Viana, que estava comigo. Por isso digo que vim cheia de esperança. Porque a coisa mais bonita que eu conheço é ver que a gestão pública se movimenta no objetivo de oferecer ao povo não o que a televisão impinge, não o que o modismo aponta, mas a oportunidade do conhecimento da obra dos autores brasileiros que estão aí, vivos e acessíveis, além de proporcionar a expressão da sensibilidade dos jovens em formação.
No dia 10 de setembro estará lá Astrid Cabral. Tenho certeza de que também irá se emocionar. Tenho certeza de que irá emocionar o povo de Maracás. Existe coisa melhor para o poeta?
Acima, uma foto do grupo em cena. E a idéia deu tão certo que foi criado também um outro grupo, o Renascer, da cidade de Planaltino, que trilha o mesmo caminho: intimidade com a poesia, intimidade com cada pessoa que está ligada à realização de um projeto tão bonito, bom para o Brasil, para a literatura, para a cidadania, que é o que alcançam crianças bem nutridas e bem formadas. É sonho? Não é não, gente, é grandeza.
JIVM, Helena Ortiz e Iolanda Costa
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
1ª FLIMAR - FESTA LITERÁRIA DE MARECHAL DEODORO
A 1ª Festa Literária de Marechal Deodoro, FLIMAR, é um projeto ousado e revolucionário, que tem como objetivos a política de incentivo à leitura e a preservação de nossa cultura. Haverá uma série de palestras e mesas de debates com escritores de expressão nacional, cuidadosamente selecionados, como Marina Colasanti, Ignácio Loyola Brandão, Maurício Melo Júnior, Arriete Vilela, Antonio Torres, José Inácio Vieira de Melo, Nina Reis e Homero Fonseca, proporcionando ao público a oportunidade de ver de perto os escritores da sua admiração. O ator Chico de Assis fará uma grande homenagem ao poeta Jorge de Lima. A FLIMAR dará amplo destaque também para os segmentos da cultura popular – a nordestinidade será devidamente contemplada.
Espaço Cultural Santa Maria Magdalena da Alagoa do Sul (Centro Histórico)
18 :00 hs – MESA REDONDA:
“Distribuição e comercialização de livros – A profissão do escritor”
MEDIADOR: Homero Fonseca (PE)
PARTICIPANTES:
Adriana Ruiz (ARGENTINA)
Arnaldo Ferreira (PE)
José Inácio Vieira de Melo (BA)
Lindemberg Medeiros de Araújo (AL)
Nina Reis (DF)
Roberto Bianchi (URUGUAI)
Simone Cavalcante (AL)
Sábado, 4 de setembro de 2010
Programa Proler (Casa de Câmara e Cadeia)
14:30 hs – PALESTRA: “Painel da Poesia Baiana Contemporânea” – José Inácio Vieira de Melo
16:00 hs – LANÇAMENTO: ROSEIRAL, livro de poemas de José Inácio Vieira de Melo