sexta-feira, 3 de junho de 2022

ENTREVISTA | JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO: UM POETA QUE BUSCA AS ORIGENS NAS LONJURAS

Fotos: Ricardo Prado
Garatujas Selvagens: os rabiscos primordiais de José Inácio Vieira de Melo

José Inácio Vieira de Melo lançou, recentemente, Garatujas Selvagens, seu novo livro de poemas, publicado pela Arribaçã Editora, casa editorial paraibana. Saudado pelas escritoras Ana Miranda e Denise Emmer e pela poeta mexicana María Vázquez Valdez, nos textos da contracapa, orelha e posfácio, JIVM ergue seu monumento poético com a seiva telúrica, que lhe é peculiar, mas só que agora irrigado pelo sangue latino. Garatujas Selvagens é uma galeria que tem como ponto inicial os “Rabiscos rupestres”, estendendo-se pelas “Lonjuras” e pela “Cartografia do medo”. Faz também uma “Panorâmica das mães” até desembocar nos “Autorretratos” e na “Rota do ser”. Imagético e musical, cheio de “Retratos”, “Afrescos” e de “Instantâneos” seu novo poemário tem mesmo “Rota infinita”. Nesta conversa boa, ele nos fala da origem de sua poesia, da presença da musicalidade neste novo trabalho, do medo e da coragem, da sua busca e do poder curativo e redentor da poesia. Vamos percorrer os caminhos do poeta. 

Sandra Santos – Tua poesia tem o aroma das algarobeiras e o encantamento do aboio. Onde aprendeste o canto primeiro? Quais foram teus mestres? Quem te acompanha nas leituras ao pé do fogo e vela teu sono na mesinha de cabeceira? 

José Inácio Vieira de Melo – Até os 14 anos fui criado no campo e em cidades do interior das Alagoas, o que considero um grande privilégio. Entre os 14 e os 19, vivi em Maceió, onde estão as praias mais bonitas do Brasil. Aos 20 anos, fui morar na caatinga baiana, entre o Vale do Jiquiriçá e a Chapada Diamantina. Nesses lugares do Brasil profundo, as algarobeiras são uma presença constante. Elas fazem parte do cenário da minha poética, porque estão bem enraizadas no meu imaginário. E toda minha vida, até os dias de hoje, sempre estive em contato com os vaqueiros, cantando e ouvindo toadas, tangendo gado e aboiando com esses guerreiros encourados. Mas o canto primeiro foi lá nas Alagoas, na fazenda Boa Sorte, na Ribeira do Traipu. Os meus mestres foram os vaqueiros do meu convívio, que tinham um grande zelo por mim. Desde meu avô Moisés, passando por Pedro Vaqueiro, Sérvulo Duarte e Linduarte, até chegar à figura emblemática de Damião Alagoano, mas isso já foi a partir de 1988, aqui na Bahia. Sinto sempre que uma legião de vaqueiros me acompanha, abrindo caminhos e me protegendo. Digo isso no poema Pedra Só, um canto épico, que é o núcleo do livro homônimo, publicado em 2012. Porém esse canto primeiro está entrelaçado aos primeiros cantos oferecidos pelas leituras iniciais e fundamentais para o desenvolvimento da minha escritura, que são a Bíblia, a poesia de Castro Alves e de Patativa do Assaré, o livro Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa e a trilogia Os Peãs de Gerardo Mello Mourão, as obras de Hermann Hesse, Gabriel García Márquez e João Cabral de Melo Neto. E, um pouquinho mais adiante, a poesia de Herberto Helder e de Jorge de Lima. Atualmente tenho lido pouco ao pé da fogueira. Mas faço sempre dois momentos de leituras, bem distintos. A leitura silenciosa e solitária, quase sempre deitado em uma rede ou sentado diante de uma mesa, na minha singela biblioteca (um quarto repleto de livros). O outro momento é o da leitura compartilhada, sempre em voz alta. Meus companheiros mais frequentes são meus filhos, Moisés e Gabriel, e minha mulher, Linda Soglia. Cada um com um exemplar da obra da vez em mãos, seja o livro físico, seja o e-book, nos kindles da vida. No meu caso, é obrigatório o uso do livro convencional como suporte. Durmo pouco e o meu sono é um mistério velado pela leveza. 

Ana Luiza – Seu livro Entre a Estrada e a Estrela, publicado em 2017, é formado por dois poemas longos. Já em seu mais recente lançamento, Garatujas Selvagens, de 2021, encontramos uma estrutura em dez partes, com poemas que em sua maioria não passam de uma página e que chegam a uma forma ainda mais concisa na seção intitulada "Instantâneos". Claro que se pode supor que os poemas simplesmente ‘escolhem’ consolidar-se assim ou assado, mas lhe faço a seguinte pergunta: em sua opinião, a que mais se pode atribuir uma organização tão diversa da anterior? 

JIVM – De fato, o Garatujas Selvagens apresenta uma organização bem distinta dos meus dois livros anteriores, tanto do Entre a estrada e a estrela (2017) quanto do Sete (2015), que são livros que têm um tom épico e uma espinha dorsal bem definida, conduzindo todos os poemas. O que acontece é que, além de ter demorado mais tempo do que o habitual para publicar o Garatujas Selvagens, vários poemas, que havia feito no período em que publiquei os dois livros anteriores, ficaram de fora deles porque não se encaixavam naquelas propostas. Esses poemas foram guardados e depois foram se aproximando tematicamente de outros que eu ia escrevendo e, de imediato, publicava nas redes sociais. De repente eu já tinha um amontoado de poemas, dividido em pequenos grupos, pequenas seções. Alguns amigos falavam da necessidade de reunir esses poemas em um livro, sobretudo o poeta Salgado Maranhão, que afirmava que meu público estava precisando de um livro assim, com poemas mais soltos. Então, fui reunindo os poemas, comecei a observá-los mais, dividi-los em grupos bem definidos, até chegar a uma estrutura que me deixou muito animado. Aí foi que comecei a pensar em um artista para fazer capa e ilustrações internas. Depois que escolhi o Ramiro Bernabó, muita coisa mudou no livro: poemas foram excluídos, outros modificados e outros foram criados. Como pode ver, dialogo bem com as ilustrações, que, para mim, não são meros ornamentos plásticos, mas poemas visuais que devem se comunicar com os versos do livro. Finalmente, o livro chegou a uma conformação estética, seja no que se refere ao suporte ou aos poemas em si. Os caminhos trilhados foram, em boa parte, intuitivos, mas com o sentimento antenado, na busca de uma seara estética na qual fosse possível vislumbrar o desconhecido. Por isso, o que marca o Garatujas Selvagens é a busca, como bem resume o poema “Procura”, que está presente na seção “Lonjuras”: “No claro ou no escuro/ procuro porque procuro/ sempre novos rumos.// Sem pensar futuros/ procuro porque me curo/ ao ultrapassar muros.” Como pode perceber, a atribuição para a mudança é a própria necessidade de mudança. É procurar nas lonjuras. 

JIVM: Não faço distinção entre poesia e vida,
porque sem poesia minha vida não teria nenhum sentido
.

Sony Ferseck – Seu Garatujas Selvagens, nas dez seções que o compõem, faz um percurso que sai da pedra (“Rabiscos rupestres”), ganha “Lonjuras” até chegar na “Rota do Ser”, que permite, inclusive, que vejamos as fotografias feitas durante o trajeto. Uma verdadeira trilha poética. Duas dessas paradas, dessas seções, são dedicadas às mães, inclusive a sua, Dona Inácia. A mãe é mesmo poesia e vice-versa? 

 JIVM – A Mãe é o Uni-verso e é o Meta-verso. A mãe é a nossa casa – resguarda nossa inocência enquanto crescem nossas asas. A Mãe é a Divindade. Por outro lado, a Mãe é filha, é cria e é também fundida em estreitezas disfarçadas de glórias. A partir das limitações que sofrem muitas mulheres, muitas mães, suas crias podem ser vítimas de fúrias, de ódios, de traumas – e aí a Poesia Universal da Divindade Mãe pode se transformar numa energia obscura. Mas ainda assim, a Mãe é o templo aconchegante da existência. Nas duas seções que você destaca, “Panorâmica das mães” e “Afresco para Inácia”, dentre outros vislumbres, estão incutidas tanto a dimensão metafísica da Mãe, como geradora do Universo e/ou de Universos, assim como a dimensão social da pessoa que também foi gerada no ventre de uma outra pessoa, dentro de uma estrutura que minimiza seus potenciais. E para disfarçar o reducionismo e a sobrecarga, atribui-lhe um dom divino, uma missão sagrada. Os poemas das duas seções expressam e extravasam as dores físicas e as mutilações espirituais. Em “Afresco para Inácia”, na qualidade de filho assustado e diferente dos outros, busquei compreender o que se passou com a filha que foi minha mãe. Na verdade, o que busquei foi a redenção pessoal. E consegui. Para mim, a poesia tem também uma dimensão de cura, a poesia é o “Unguento”: “Muitas vezes abre feridas,/ mas é só para extirpar/ de vez o veneno”. 

Marta Eugênia de Oliveira – Em seus poemas, a luz dada sobre a caatinga, as algarobeiras, os galopes, as pedras, oferece ao leitor uma experiência de plurissignificados, polifonia e metafísica. A presença do canto muitas vezes assume um lugar de coragem, valentia perante o escuro que é o porvir. Em Garatujas Selvagens o medo é considerado na parte intitulada de "Cartografia do Medo". Sua relação com o medo sofreu alterações de outras obras até aqui? 

JIVM – O medo tem uma importância imensa na minha poesia, que é o mesmo que dizer na minha vida, porque é o medo que desperta a coragem. Não faço distinção entre poesia e vida, porque sem poesia minha vida não teria nenhum sentido. E sei mesmo que tudo não tem sentido, mas através da arte consigo atribuir os mais diversificados sentidos a minha passagem existencial. O medo me acompanha desde a aurora da minha vida, desde quando me entendo por gente, ou antes mesmo dessa compreensão. Ao invés de me paralisar, o medo me impulsiona para o desconhecido. De peito aberto, corpo e alma só arrepios, sigo em frente, com os olhos esbugalhados, soltando aboios para a imensidão, em busca do novo, em busca do inusitado verso que as estradas que invento, com meus passos errantes, possam me oferecer. O medo é um grande e precioso companheiro, pois me deixa bem acordado, sempre perplexo, sempre arrepiado, em estado de delírio, com muita febre. Sim, Marta, com o passar do tempo, a minha relação com o medo foi e vai se alterando, assim como as garatujas que vou fazendo, porque estou sempre me modificando. É aquela história lá do nosso roqueiro mor Raul Seixas, de preferir ser uma “Metamorfose ambulante”. Sim, o medo é a corneta que mantém sempre alerta a coragem. 

José Inácio Vieira de Melo: O caráter transgressor e a
força revolucionária da poesia espantam muito as pessoas

Sandra Santos – Como poeta e ativista cultural, tens tido papel fundamental na construção do cenário poético brasileiro. Muitos poetas foram publicados por antologias ou revistas literárias por ti organizadas. Nomes de sul a norte do país foram divulgados e apresentados ao público em eventos literários sob tua curadoria. Dono dessa experiência e conhecimento da poesia desses tantos brasis, te pergunto: nestes tempos de redes sociais, eventos virtuais e meta-verso... A poesia está mais viva do que antes? 

JIVM – Da maneira como concebo a poesia, meu impulso é dizer que a poesia é a própria vida, ou mesmo que é a poesia que confere existência às coisas. A poesia está em tudo, inclusive no nada. A dimensão virtual da poesia sempre existiu, o que ocorre é que somente agora é que passamos a observá-la por essa esfera, daí a impressão de novidade. Por outro lado, apesar de todas as possibilidades que fomos desenvolvendo a partir dos avanços tecnológicos, como suportes e plataformas, para exibirmos e disponibilizarmos nossa diversidade poética e artística, a poesia continua sendo para poucos. Está posta para todos, mas poucos são os que se banham nas suas águas. O caráter transgressor e a força revolucionária da poesia espantam muito as pessoas, que de tão perdidas, tão preocupadas com o conforto material para o futuro, esquecem que estão de passagem e não vivem o que cada uma tem de fato, que é o momento presente, tão carregado de poesia, chegando por todos os lados e por todos os sentidos. Quanto ao cenário poético brasileiro, nunca vi tanta gente publicando, formando tantos grupos, turmas, guetos. Na maioria, os próprios integrantes lendo uns aos outros. Mas, ainda assim, é um momento muito bom. Novas e assustadoras poéticas aparecendo, questionando convicções e propondo rupturas. Como não sei ficar quieto, vivo a promover recitais e pelejas, a provocar discussões e encontros, tentando sempre levar a palavra poética para adiante, desejando mesmo que ela chegue ao sentimento de cada pessoa. 

Sony Ferseck – Creio que em "Rabiscos rupestres", você consegue tirar a poesia da pedra, sem permanecer nela. Da pedra você vai à música, tanto que chega a poetizar "Os livros cantam o caminho de casa". Que referências musicais Garatujas Selvagens canta no caminho desta sua morada poética? 

JIVM – A pedra emana música. Quando batemos na pedra ela nos responde com som, e se batemos compassado, o som será ritmado e aí o voo é certo. Lembremos a poeta Cecília Meireles: “Tem sangue eterno a asa ritmada”. E se batermos pedra na pedra, além de som teremos fogo, surgindo novas dimensões: som e luz, “Rabiscos rupestres”, livros inaugurais cantando o caminho de casa. Este poemário, Garatujas Selvagens, está repleto de musicalidade. Não sei nem se dou conta de lembrar toda música que nele há, por ser tanta. Porque há a música das palavras de uma plêiade de poetas, assim como há a música instrumental de inúmeros compositores, assim como as vozes de outros tantos cantores. Mas bem na superfície, nos lajedos da Pedra Só que sou, são nítidos as presenças de Amelinha, Belchior, Ednardo e Fagner, esse Pessoal do Ceará que tanto marcou a minha juventude e que me acompanha até hoje com tanto vigor. Estão comigo, a rapaziada do Clube de Esquina, com Milton Nascimento ofertando a voz da Divindade para todos nós. Da Paraíba vem o Chico César, a Cátia de França, a Elba e o Zé Ramalho. De Pernambuco, vem o Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Dominguinhos. É bem presente a força do rock inglês do Pink Floyd e do Led Zeppelin, assim como da poesia do Bob Dylan e Leonard Cohen. Estão presentes Villa-Lobos, Luiz Gonzaga e Elomar, o “Sangue Latino” de Ney Matogrosso, Secos & Molhados, Paco de Lucía e Joaquín Rodrigo. Do país das Alagoas, o Djavan, o Carlos Moura, Jacinto Silva e Nelson da Rabeca. Beethoven, sempre. O “Vento Nordeste” de Terezinha de Jesus. Os bárbaros baianos Gil, Gal, Bethânia e Caetano. Os bruxos Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos. Todos esses cantares ecoam em cada verso das minhas Garatujas Selvagens. E mais, vários poemas ganham melodia logo depois que são feitos. Abro a boca para lê-los e já sai uma melodia que toma conta do texto. Há também alguns poemas que já foram musicados por compositores desses Brasis, parceiros meus que tanta alegria me proporcionam ao musicarem meus versos, antes mesmo do livro ser publicado, como aconteceu com os poemas “Nonada”, que virou uma linda canção no violão e na voz do meu amigo paraense Enrico Di Miceli; “A vida é sonho”, maravilhosamente musicado por Petrucio Baêtto, meu conterrâneo, lá das Alagoas; e “Década”, que ganhou uma sofisticada roupagem musical do meu malungo amapaense Paulo Bastos. Outros poemas já estão na mira de alguns parceiros. Outro dia, Thiago Amud, genial cantor e compositor carioca, mandou um ‘zap’ pedindo que separasse o poema “Caboclo de lança” para ele, assim como o Marcel Torres, cantor e compositor baiano, de Feira de Santana, mandou uma melodia bonita, um ijexá, para os dois haicais espelhados que iniciam a seção “Instantâneos”. Aproveito para dizer que me sinto privilegiado ao ouvir alguns poemas meus interpretados, em forma de canções, por Ana Luiza, Carla Visi e Patricia Bastos, musas e divas da Música e Poesia do Brasil. Como pode ver, a música se apossa dos versos que faço. Na verdade, sinto que minha poesia transborda musicalidade. 

JIVM: já estou começando a botar o pé na estrada,
novamente, levando minhas 
garatujas selvagens aos
quatro ventos, espalhando a poesia por todos recantos. 

Marta Eugênia de Oliveira – Na segunda parte do livro – “Lonjuras” – a distância é companheira bem de perto, entre o invisível e o ancestral. Sente-se os encalços do caminho de volta, invocado em alguns poemas, pelas “Trilhas” apresentadas e pelo “Suco” que alimenta a esperança, “porque mesmo voltando,/ sem onde nem quando,/ se continua seguindo”. A amplitude dessa busca está aliada à dimensão inefável da linguagem poética? Por isso Garatujas Selvagens

JIVM – Gosto quando uma pergunta dá nó no pensamento, porque já vem carregada de poesia. Esse enunciado leva a gente pra um monte de lugar. Sou um peregrino da linguagem, as palavras desfilam nos meus sonhos, formando tapetes de versos, os mais diversos, os mais esquisitos. As “Lonjuras” são o que busco alcançar. Então, quando vislumbro a distância, lá bem longe, onde a vista se perde, onde o pensamento não alcança – sigo resoluto até lá. Mas ao chegar lá, no que era longe, tudo se torna perto. O que me move mesmo é a vontade do encontro, mas que seja – tudo o que está por vir – um renovar de sensações, de alegrias, de olho brilhando ao se concretizar o abraço, o encontro. É, sim, a dimensão inefável da linguagem poética, mas pode ser também a presença que realiza, de fato, o momento. Pode ser, como quer Wittgenstein, a linguagem inaugurando o ser. Garatujas Selvagens por isso, porque o rabisco primordial é o que há de mais simples, é o que há de mais natural e de mais espontâneo. 

Ana Luiza – Quando me deparo com a sua obra, vejo que ela sobrevoa e mergulha nos muitos mistérios e espantos da vida, do cosmo, da mulher, da sua própria biografia, que sua força poética tange, como gado, para mais adiante, para o que ainda não se desenhou. Na sua figura vejo ao mesmo tempo o aboiador e o aedo, o apaixonado pelos livros e pelas pessoas, o sertanejo e o jornalista, o artesão sensível em busca do risco e do traço, o menino estupefato diante do porvir e o homem maduro que tem o tempo bufando diante de si. Um poeta, mais que tudo, antenado com o movimento do mundo desde o seu mundo, que ele amplifica ao promover todos os encontros possíveis entre todas essas partes. Minha pergunta é: o que mais se pode esperar de José Inácio Vieira de Melo? 

JIVM – O que você apresentou na sua generosa descrição, Ana Luiza, diz muito do meu movimento. Perpassado que sou por todas essas características enunciadas, estou bem marcado pela figura do poeta andarilho, do produtor cultural, por conta da minha prontidão em realizar as coisas mais aparentemente ‘sem futuro’, porque fadadas a “desmanchar no ar”. Mas que sempre acabam acontecendo e deixando um rastro de beleza na imensidão, na memória, no sentimento. Essa pandemia, que abalou a humanidade e que ainda está tendo desdobramentos, trouxe também muitas reflexões e intensificou a busca de várias formas de se aproximar do outro, que não são aquelas que mais ansiamos e queremos – os encontros presenciais –, mas as que são cabíveis: as conversas virtuais. Estou, sim, a me movimentar, só que muito mais através das redes sociais, porque ainda há muitas restrições de deslocamento e, sobretudo, de aglomeração. Na medida do possível, já estou começando a botar o pé na estrada, novamente, levando minhas garatujas selvagens aos quatro ventos, espalhando a poesia por todos recantos. Há muito o que se semear por aí. 


ANA LUIZA é cantora, poeta e compositora. É nascida em Santos e radicada em São Paulo. Em 2020 a editora Laranja Original publica seu primeiro livro,
Rubra, com o qual participou de festivais internacionais de poesia. Sua trajetória musical de mais de trinta anos a serviço da canção contempla uma variada discografia, parcerias com diversos artistas e turnês pelo Brasil e Exterior. 



MARTA EUGÊNIA DE OLIVEIRA, baiana radicada nas Alagoas, é poeta e professora. Graduada em Letras e Especialista em Linguística. Curadora da Fliara – Feira Literária de Arapiraca-AL, lugar onde mora e atua na Secretaria de Cultura do município. Autora do livro de poemas
Quanto Tanto (Multifoco, 2014). Um novo livro está a caminho: E o risco das floriculturas nas datas capitais, a ser publicado ainda este ano pela editora Trajes Lunares. 

SANDRA SANTOS, gaúcha nascida em São Luiz Gonzaga. Vive em Porto Alegre, onde é coordenadora e curadora do Castelinho do Alto da Bronze Espaço Cultural. Escreve contos, crônicas e poesia. Seus versos já foram traduzidos e publicados em diversos países como Romênia, Itália, Chile, Argentina. Seu último livro Flor de Udumbara (Hanan Harawi, 2016) foi publicado no Peru em língua originária quechua, além de português e espanhol. 

SONY FERSECK (na poesia) e WEI PAASI (em Makuxi Maimu). Pertence ao povo Macuxi, do estado de Roraima. É poeta, escritora, palestrante, pesquisadora. Publicou os livros
Pouco verbo (Máfia do Verso, 2013), Movejo (Wei Editora, 2020) e Weiyamî: mulheres que fazem sol (Wei Editora, 2022). Cofundadora, junto com Devair Fiorotti (1971 - 2020), da primeira editora independente de Roraima, Wei Editora.


Entrevista publicada originalmente na revista Correio das Artes, em João Pessoa-PB, na edição de maio de 2022.

Nenhum comentário: