Por Fernando Py
Roseiral: o mundo encarnado pela seiva das rosas escarlates, de José Inácio Vieira de Melo (São Paulo: Escrituras Editora, 2010; prefácio de Astrid Cabral e posfácio de Eliana Mara Chiossi). Roseiral é o quinto livro do poeta, alagoano radicado na Bahia. Compõe-se de 42 poemas divididos em cinco partes. Em sua poesia, o Nordeste sempre desempenhou papel fundamental, e o mesmo sucede neste livro. Porém, aqui o poeta resolve dar uma guinada em relação aos livros anteriores. O Nordeste continua a ser visto e revivido. No entanto, de maneira mais amadurecida, com todo o seu arsenal de visão telúrica e de suas vivências rurais do sertão, e ainda que mantenha a sua fidelidade às raízes primordiais da nossa terra, José Inácio mostra um erotismo desataviado, sem quaisquer disfarces. Seu erotismo está na base de sua ânsia de libertação dos padrões arcaicos da sociedade provinciana, da revolta contra preconceitos e abusos que perseguem e destroem o ser humano. Assim, em muitos poemas do livro, como “Vingança” (p. 62) e “Canibal” (p. 66) p. ex., nos defrontamos com a violência da linguagem que, de certo modo, indica uma nova atitude dentro de seu lirismo costumeiro. Por outro lado, o poeta se engrandece neste livro, com certeza o mais bem articulado em todas as suas partes e elaborado com toda a consciência da técnica do verso e da expressão da linguagem. É certo que, agora na casa dos quarenta anos, José Inácio Vieira de Melo alcança aqui o seu momento mais significativo, onde se ressaltam os poemas (sobretudos os sonetos brancos) das séries ‘A idade da pedra’ e ‘Roseiral’. Vale a pena uma leitura cuidadosa.
Verso para outro sentido, de Felipe Stefani (São Paulo: Escrituras Editora, 2010). Até agora, desconhecíamos inteiramente o poeta. Mas este livro nos chamou a atenção para o seu nome, principalmente pela inesperada floração de imagens naturalmente poéticas. É como se o poeta tratasse a sua linguagem, o seu vocabulário de modo a oferecer ao leitor um conjunto de termos de um simbolismo expressivo e vibrante (como acentua Nélson de Oliveira nas “orelhas” do volume). E esse simbolismo, se paga seu tributo a poetas como os franceses Corbière e Laforgue, ou o nosso Murilo Mendes, p. ex., nem por isso deixa de exibir notável cunho pessoal. Felipe Stefani poderá vir a ser um dos grandes poetas brasileiros dos anos 2020.
Texto publicado na Tribuna de Petrópolis, em 17 de junho de 2011