terça-feira, 23 de junho de 2009

VERÔNICA DE VATE - ADELMO OLIVEIRA


ADELMO José de OLIVEIRA nasceu em 13 de maio de 1934, na cidade de Itabuna, na Bahia. Em 1962, sob um júri formado por nomes de expressão da literatura brasileira, como Manuel Bandeira, Austregésilo de Athayde, José Carlos Lisboa e Pio de Los Casares, recebeu o Prêmio Nacional Luis de Góngora com ensaio “Góngora e o Sofrimento da Linguagem”. Formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia, 1966, participou do Movimento Cultural baiano escrevendo estudos, ensaios e poesias para os principais jornais e revistas de Salvador.
Publicou entre outros títulos: Canto da Hora Indefinida, 1960; Três Poemas, 1966; O Som dos Cavalos Selvagens, 1971; Cântico Para o Deus dos Ventos e das Águas, 1987; Espelho das Horas, 1991; O Canto Mínimo, 2000, Poemas da Vertigem (Antologia Poética), 2005. Participou de várias Antologias Poéticas editadas na Bahia, no Sul do País e no Exterior. Exerceu atividade política contra a Ditadura Militar, sendo preso por duas vezes e torturado. Foi eleito Deputado Estadual à Assembléia Legislativa do Estado da Bahia pelo antigo MDB em 1978.


BALADA DOS ERROS DE UM PROFETA


Joys laugh not! Sorrows weep not!
William Blake

Man, an explosion
walking through the night
in rich and intolerable loneliness
Walt Whitman


Trago para dentro do mundo
Longos dias sem manhã
Longas noites sem aurora
– Estrelas caídas de bruços
No vazio

Trago para dentro do mundo
A Voz – signo obscuro do medo
Grito de silêncio devorado pela esfinge
– Pedra-enígma da mente
Na vertigem

Trago para dentro do mundo
O Sol – zodíaco das trevas
– Touro selvagem empalhado
Cuja língua vomita da boca
Sangue coagulado

Trago para dentro do mundo
A Terra – bólide errante das esferas
– Assobio de náufragos e transeuntes cegos
Que trauteia um eco surdo nos ouvidos
E nos passos que se perdem

Trago para dentro do mundo
A Lua – corvo branco da noite
Que ludibria o terror das sombras
Que dissimula a morbidez da loucura
E afia seus punhais contra o desespero dos dragões

Trago para dentro do mundo
Este navio sem origem
– Este porto sem mar
Cuja âncora atraca na raiz das ruínas
Arquivos de ilusão

Trago para dentro do mundo
Aquilo que é o meu corpo
Aquilo que é a minha alma
– Sopro veloz de um único suspiro
Entre o início do princípio e o ocaso do fim


ADELMO OLIVEIRA
Ipitanga 14.02.2004

ADELMO OLIVEIRA - MONÓLOGO DAS VISÕES DO ACASO

Ilustração: Nacif Ganem















MONÓLOGO DAS VISÕES DO ACASO


Abro a boca das palavras
Sou a fala
Sou o grito
Sou um eco de silêncio do infinito
que perturba a razão deste enigma

Abro a boca das palavras
Sou a voz de um planeta aflito
– De carne
– De osso
– De espírito

– Espelhos do corpo e da alma
Sou um código que multiplica
estrelas andarilhas

Abro a boca das palavras
Sou mais treva que dia – sou o mito
Sou a multidão que delira
num palco que gira – que gira
entre a volúpia dos sonhos
o terror das máscaras
e o trânsito das coisas vazias
– Sou na paisagem veloz
um comboio de vagões
correndo atrás da fantasia

Mas
sentimentos são vísceras
– De cada paixão
– De cada amor
– De cada cicatriz
saltam milhões de travessias
E nem é preciso acordar no céu
os dragões da lua
E nem é preciso cravar na luz do peito
uma flor

Sentimentos são vísceras
– Se caio sobre um lençol de espumas
– me crucifico
– Se mais eu grito – a eternidade me confina

Enquanto a noite abrir a porteira dos dias
e pensar o coração
O verso nunca termina
– Da imaginação
nasce o ritmo e a melodia
– Poesia é a matriz dos sonhos e dos delírios
Cálice que derramei de vinho
na fronteira da página que lia

Abro a boca das palavras
– Acima ou abaixo dos anéis de Saturno
Do telescópio à periferia
Sentimentos são vísceras
– Trapézio que a mão trepida
sobre um fio de lâmina
Que equilibra – que equilibra
O impulso trágico da vida.


ADELMO OLIVEIRA

Praia da Aleluia, 19.12.06
Ipitanga

LINGUAGEM E VERTIGEM EM ADELMO OLIVEIRA

Por Izacyl Guimarães Ferreira

Num de seus mais belos poemas, “Traduzir-se”, Ferreira Gullar nos diz “uma parte de mim é só vertigem/ outra parte linguagem”.
Em seu belo livro Poemas da vertigem (Edições Arpoador, 2005) o poeta Adelmo Oliveira junta as duas partes, expressando sua vertigem – amorosa, mística, metafísica – numa linguagem a um tempo direta e clara e com algo de misteriosa, sobretudo na primeira seção, “Baladas”. Na segunda, a dos sonetos, a imposição da forma fixa o obriga a uma expressão menos difusa ou cifrada, pois sua estética é a de quem busca ser entendido.
Na terceira seção, “Outros poemas”, as formas são livres. Ao longo de todo o livro, perpassa um sentimento de insatisfação, apenas aqui e ali inexistente.
Que vertigens expressa? Nos últimos versos do livro, no poema “Elegia do largo dos quinze mistérios” o poeta confessa: “Do outro lado do tempo / A canção é vazia /A paixão é morta / A estrela é fria// A palavra / A palavra é só a solidão escrita.
Para chegar a esta conclusão cheia de angústia, seus versos vertiginosos no que dizem, mas controlados no dizer, constroem uma atmosfera pesarosa que só nos sonetos parece mais aliviada.
Mas o leitor atento pode, sem mesmo começar a ler o livro, antecipar o que o espera, pois a contra-capa reproduz um soneto que não deixa dúvida quanto ao teor geral do livro:

Eu sou um velho ator sem palco e sem platéia
Que traz no cais do peito antigas ilusões
E do pouco que sabe interpreta lições
De palhaço que alegra os meninos da aldeia

Basta o dia raiar pelas bandas da aurora
- Levanta - bate a porta - e vai ganhar a rua
- Tropeça no silêncio em que flutua a lua
- Restos de solidão caminhando lá fora

Esqueço a dor - o espelho - as marcas do meu rosto
- Produtos do salário em que se paga o imposto
Cobrado pelo tempo e pelas fantasias

Andarilho do vento atravessando o acaso
Deixo a tarde no céu - o meu relógio atraso
E assim faço de mim a profissão dos dias


Até mesmo as epígrafes do livro emolduram o desconsolo enorme desta bem realizada poesia de um autor ciente de sua arte, pois vai escolher do otimista Walt Whitman estes versos:

"Man, an explosion
Walking through the night
In rich and intolerable loneliness"

Maria da Conceição Paranhos assina um douto posfácio que bem de perto acompanha a poética de Adelmo, que imerso nestas vertigens consegue um rigor expressivo que só a experiência de um veterano sabe manter, juntando insólitas imagens e dores autênticas e profundas, não só suas, mas de uma visão de mundo que pode ser tida como queixa universal.
E as dualidades dos poemas são muito bem caracterizadas pelo título feliz do posfácio: “Poeta da sábia e profética inocência”. Elucidativa também da poética de Adelmo é a epígrafe do posfácio, de um texto de G: Bataille, “L’Impossinle”, de 1962:

La poésie n’est pas la connaissance de soi-même,encore moín l’experience d’un lontain possible ( de ce qui auparavant n’était pas) mais la simple évocation par des mots de possibiltés inaccesibles.”

Chega a ser deplorável que um poeta deste porte, já passado dos setenta, não tenha o reconhecimento de sua arte, ainda que conhecido em sua Bahia e com obra extensa e diversificada. Mas o tempo saberá corrigir suas falhas.


Izacyl Guimarães Ferreira escreve, traduz e comenta poesia. Edita a revista “O Escritor” e o portal www.ube.org.br, da União Brasileira de Escritores, em São Paulo, entidade da qual é Presidente do Conselho. Tem 15 livros publicados, entre eles "Discurso urbano" (2007), vencedor do Prêmio de Literatura 2008 da Academia Brasileira de Letras , categoria poesia.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

UM GRANDE ENCONTRO

Este encontro aconteceu no dia 21 de abril de 2009, durante a 9ª Bienal do Livro da Bahia. Mais uma vez meu amigo Ricardo Prado, grande fotógrafo, estava presente e fez não apenas um registro de um encontro de escritores, mas revelou atravez de suas lentes a mágca da amizade de pessoas que amam a literatura. O encontro aconteceu no Largo Dois de Julho, em Salvador. Começou no restaurante Líder, onde almoçamos. Guiomar de Grammont, talentosa escritora mineira e musa do nosso encontro, teve que partir antes mesmo da refeição terminar, por ter um compromisso na Bienal. Então ficamos em seis, contando com a presença de Ricardo, que apesar de não aparecer nas fotos, por ser o artista das lentes, foi uma presença marcante. Para mim, foi um momento singular, dentre tantos que ultimamente a literatura tem me proporcionado.

Mayrant Gallo (BA), Márcio Souza (AM), Guiomar de Grammont (MG), José Inácio Vieira de Melo (AL - BA), Ronaldo Correia de Brito (CE - PE) e Lima Trindade (DF - BA). Fotógrafo: Ricardo Prado (MG - BA)

José Inácio Vieira de Melo, Guiomar de Grammont e Mayrant Gallo

Márcio Souza, autor dos romances “Galvez – imperador do Acre” e “Mad Maria”; Lima Trindade, autor dos livros de contos “Todo sol mais o espírito santo” e “Corações blues e serpentinas”; José Inácio Vieira de Melo, autor dos livros de poemas “A terceira romaria” e “A infância do centauro”; Ronaldo Correia de Brito, autor do livro de contos “Faca” e do romance “Galiléia”; e Mayrant Gallo, autor do livro de contos “O inédito de Kafka” e do livro de poemas “Recordações de andar exausto”.

Em pé: Mayrant Gallo e Ronaldo Correia de Brito. Sentados: José Inácio Vieira de Melo, Lima Trindade e Márcio Souza. Fotógrafo: Ricardo Prado.

Mayrant Gallo, José Inácio Vieira de Melo e Ronaldo Correia de Brito

José Inácio Vieira de Melo, Ronaldo Correia de Brito e Márcio Souza

segunda-feira, 8 de junho de 2009

HAI-KAIS AOS MESTRES II

José Inácio Vieira de Melo


O ANDARILHO

Adelmo Oliveira:
vertigens de um andarilho
na sua algibeira.


O ESPANTALHO

Francisco Carvalho,
centauro dos epitáfios,
rei dos espantalhos.


O INVENTOR

É Gerardo Mello
Mourão da nossa nação
o inventor o Homero.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

VERÔNICA DE VATE - DAMÁRIO DACRUZ

DAMÁRIO DACRUZ é Soterocachoeirano, nascido em Salvador e Cidadão da Cidade de Cachoeira, no recôncavo baiano. Poeta, fotógrafo, jornalista, publicitário e produtor cultural. Graduado pela UFBA e pós-graduado pela UNIFACS em comunicação. Faz poesia há 40 anos, começou em 1968, quando recebeu o prêmio de revelação da Seliba. Liderou movimentos de cultura e arte na universidade. Lutou pela Anistia política e contra a ditadura, foi editor de vários jornais de cultura, diretor de literatura da Fundação Cultural, sindicalista, gerente, coordenador de comunicação publicitária de empresas nacionais e multinacionais. Fotógrafo com várias exposições no Brasil e no exterior Sua poesia se espalha por centenas de jornais, revistas, sites, blogs e paredes da América Latina. Muitas. Prêmios, conferências e viagens a muitos lugares distantes e por diversas vezes. Três livros e mais de 30 posters-poemas publicados. Criador e coordenador- geral do Pouso da Palavra, espaço de arte, cultura e comunicação, em Cachoeira. Pertence a geração de poetas da Bahia dos anos 70/80. Atualmente exerce o cargo de coordenador de propaganda do Governo da Bahia.
*
Damário Dacruz vai apresentar-se, no próximo dia 5 de junho, no projeto Uma Prosa Sobre Versos, na cidade de Maracás, Bahia, coordenado por Edmar Vieira. Participação especial do Grupo Concriz, que apresentará um recital com poemas de Damário. O Grupo Concriz é composto por 22 jovens da comunidade maracaense e coordenado pelos irmãos Marcelo Nascimento e Vitor Nascimento Sá.


TODO RISCO


A possibilidade
de arriscar
é que nos faz homens.

Vôo perfeito
no espaço que criamos.

Ninguém decide
sobre os passos
que evitamos.

Certeza
de que não somos pássaros
e que voamos.

Tristeza
de que não vamos
por medo dos caminhos.


DAMÁRIO DACRUZ

DAMÁRIO DACRUZ - CERTO VÔO



CERTO VÔO

Cada
pássaro
sabe
a rota
do retorno.

Cada
pássaro
sabe
a rota
de si.

Cada
pássaro,
na rota,
sabe-se
pássaro.

DAMÁRIO DACRUZ

segunda-feira, 1 de junho de 2009

9ª BIENAL DO LIVRO DA BAHIA - PRAÇA DE CORDEL E POESIA

O GRANDE ENCONTRO DOS POETAS BAIANOS

Para a Praça de Cordel e Poesia, na 9ª Bienal do Livro da Bahia, que aconteceu do dia 17 a 26 de abril, da qual fui curador e coordenador, convidei 101 poetas, um número bastante significativo. Artistas da palavra, de vários territórios do Estado, desfilaram seus versos durante os dez dias de celebração do livro, da palavra literária, da poesia e da leitura. Confira, abaixo, alguns momentos da Praça de Cordel e Poesia.

17/04 - JIVM e Carlos Moisés

17/04 - José Inácio Vieira de Melo

17/04 - Barná Cardoso, Raiça Bomfim e Gibran Sousa

17/04 - Antônio Barreto e Franklin Maxado

¹7/04 - Edgar Velame e Ivan Maia

18/04 - Leandro Tranquilino e Paraíba da Viola

19/04 - Marcus Vinicius Rodrigues, Martha Galrão e Nívia Maria Vasconcellos

20/04 - Wesley Correia, Sérgio Silva e Emmanuel Mirdad

21/04 - JIVM recitando entre a platéia

21/04 - Gina Alves, Ivana Karoline, Caroline Brito e Matheus Machado (Grupo Concriz - poetas, recitadores e afins, da cidade de Maracás)

21/04 - JIVM e Grupo Concriz (Gina, Ivana, Marcelo Nascimento, Vitor Nascimento Sá, Hermann Henrique, Matheus, Carol e Edmar Vieira)

21/04 - Antônio Barreto e Maria da Conceição Paranhos

23/04 - Thiago Lins, Georgio Rios, JIVM e Paulo André

23/04 - Jotacê Freitas

23/04 - Elizeu Moreira Paranaguá, Vânia Melo e Herculano Neto

24/04 - Kátia Borges e Mayrant Gallo

25/04 - Xangai, Cardan Dantas, Washington Queiroz e Paulo Pedro Pepeu

26/04 - Sapiranga

26/04 - Carla Visi

26/04 - Carla Visi lendo o poema "Jardim das Algarobeiras", do livro "A infância do Centauro", de José Inácio Vieira de Melo