Fernando Maroja Silveira nasceu em outubro de 1981, em Belém do Pará,
Brasil e, em 2015, estreou nas letras com o livro de poemas Cinzas. Em 2016,
participou da XX Feira Pan-Amazônica do Livro, bem como da antologia Impossível
não te ofertar, com poemas de diversos autores em homenagem ao falecido poeta
brasileiro Max Martins.
Em 2017, publicou o livro O escravo do vazio, pela
editora Penalux, no qual perquire “dois desertos, dois extremos”, que têm como
núcleos a areia e a estrela, que ao final são complementares de uma unidade
cósmica. Sua poética eleva-se no canto da areia e seu objetivo é tornar-se a
própria areia e ser “o escravo do vazio”, “a estrela no ventre da mãe, que o
vento ainda não levantou da terra”. Neste poemário, os versos de Maroja são
cavalos que galopam sobre ampulhetas e jogam areia no vazio.
TRÊS
POEMAS DO LIVRO O ESCRAVO DO VAZIO,
DE FERNANDO MAROJA SILVEIRA
O
CANTO DA AREIA
Elevar-se,
mas
não pela teia que prende as estrelas
na
masmorra do céu.
Não
pela escadaria do trovão,
desmantelada
no galopar da chuva,
quando
as gotas saltam como os cavalos,
para
derrubar o homem
no
tabuleiro de xadrez.
Elevar-se,
pelo
canto da areia
e
chegar ao topo da pirâmide,
onde
apenas o extremo do vazio se equilibra:
ventania,
bailarina.
Elevar-se
pelo
canto da areia
e
chegar ao deserto,
o
único lugar fora do tabuleiro de xadrez.
O
LIVRO FECHADO
Ao
contrário do homem, o vento nada ignora. Para ele, o mais solitário grão de
areia, na fronteira entre o visível e o invisível, é a estrela mais brilhante
no céu.
Se o
vento é invisível, ele é a prova invisível da limitação que nos aflige.
Sentimos
a pele do vento e o amor nos seus dedos femininos, mas fechamos a janela para
tudo que é invisível. Não sabemos amar sem ver o rosto da pessoa amada.
Ouvimos
o barulho da sua voz, mas jamais compreenderemos a palavra. Ela se desfaz assim
que é falada, esfarela-se no instante em que buscamos captá-la.
O
vento parece um livro aberto, tocando-nos a pele com a ponta das páginas. Mas
para o homem, ele é, e sempre será, o livro fechado.
A
BAILARINA DA ESPERANÇA
Cafeína
para estrelas é a noite, estrada para estrelas
é a noite,
a
flor se deitará em meus braços
na
hora da morte,
quando
a sepultura me suturar para sempre,
na
teia da areia, no reino da areia.
A
flor se deitará sobre o leito, abrindo as pétalas
para
o beijo,
onde
os laços unirão os lábios separados nos lados
opostos
da folha de papel: vida
e
morte.
Ímã
de estrela é a noite, coquetel de estrelas
é a
noite,
a
sepultura enterrará o homem, mas a beleza florescerá,
na
ponta dos pés contra o revés da morte,
equilibrando-se
na teia da areia à esperança.
A
flor é a bailarina da esperança
sobre
a ruína humana,
como
se a dança libertasse das pétalas as flechas,
na
direção do céu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário