segunda-feira, 25 de março de 2013

"REGISTRO DA FALA DO SILÊNCIO" EM LIVRO DIDÁTICO


"Registro da fala do silêncio", primeiro poema do meu primeiro livro, foi publicado no livro didático de Língua Portuguesa "Textos e Linguagens - 9º ano". Foram cinco páginas dedicadas ao poema e exercícios de interpretação. O livro foi organizado por Márcia De Benedetto Aguiar Simões e Maria Inês Candido dos Santos, publicado pela editora Escala Educacional, 4ª edição, 2012. Veja abaixo a reprodução da página que contém o poema.


quinta-feira, 21 de março de 2013

NO REINO DA PEDRA SÓ


Por Denise Almeida


Pedra Só (Escrituras Editora, 2012)

Recebi, como presente para os olhos e o entendimento, o livro poético de José Inácio Vieira de Melo, Pedra Só. Nada escreverei sobre o autor, que há no posfácio do livro um texto deslumbrante que diz muito mais e melhor que eu da vida e da história deste poeta. Tem que ler no livro. Tem que ler o livro. Texto escrito por amigo, compadre e cúmplice da vida: há que se cuidar da leitura do broto para que o livro e o poeta dêem flor.
Foi numa quinta-feira quase santa que recebi pelos correios o Pedra Só. Rasguei o envelope branco, que não sei abrir correspondência com calma e ciência, e vi pela primeira vez o livro. Vinha vestido de novo, com resíduo mesmo de engenho e gráfica, com marcas de toque e dígito sobre o brilho da capa.
Não sou de abrir livros de poesia sem ciência e calma. Guardei o exemplar sobre a mesa de trabalho e fiquei olhando de longe. Sim. Para a leitura de livros de poesia é preciso primeiro distância. Deste autor, o JIVM, em especial, eu tive uma distância quase astronômica. Já explico a razão.
Nós do sudeste somos assim, outros. Na verdade somos os mesmos. Só olhamos no espelho, só queremos ler poesia dos pares, só queremos editar os amigos, só andamos a cavalo no carrossel de nossas próprias vaidades intelectuais e poéticas. Pus bem distante dos olhos e do entendimento o tal livro. Vou ler mais tarde, quando todos dormirem.
Sim. Nós sudestinos gostamos de ler livros depois que todos dormem. Acreditamos estar acordados e estendendo nossa erudição. A solidão para cognição ampla é elemento primordial. Só ela serve de horizonte para fortalecer a vaidade e a cultura pessoal. Sempre lemos, pois, sozinhos, em estado de ritual e confissão, coisa iniciática e profética. Na verdade, só lemos livros de poesia no espelho, e o deleite que temos desta poesia é tão rico em fleuma e narcisos. Quase tudo o que lemos fala do nosso umbigo, do quanto somos notáveis, do quanto o mundo e a linguagem nos pertencem, do quanto somos eruditos e dominamos o cenário da análise e da crítica literária, da produção e da encenação, estas coisinhas grandiosas e laicas. Se não for espelho, nem lemos.
O Pedra Só não é espelho meu, nem narciso ou fleuma. É um objeto poético não-identificável sobre a mesa, à espera de leitura, significação e descoberta, com ou sem aventura pessoal e estética. O Pedra Só entrou na minha vida como um corpo estranho, querendo fruição.
É claro que ninguém chega ao desconhecido com fome e sede desregradas.  Há que se namorar primeiro a capa, a lombada, as cores, a forma, o projeto gráfico, os tipos, as imagens. Pura defesa da vaidade. Texto só mais tarde, quando na alma houver escudo protetor. Quando vier o voyeur do que não é a alma da gente. Que será de Narciso sem o próprio espelho como cenário para os céus da literatura e da alma?
Ah, o livro... Há mesmo um céu, na primeira capa. Um cenário de sertão com lua e azul invitando à leitura. Uma paisagem tão estranha aos meus entendimento e olhos. Bobagem ficar engenhando e enovelando nós de logomarca a emaranhados de vegetação no sertão, melhor proceder à leitura do livro. À leitura do livro!
Nem era um céu estrondosamente azul quando comecei a ler a obra. Senti um volume quase ao meio do livro, na Toada do Tempo. O poeta havia encartado o que parecia ser uma flor do sertão, destas sempre vivas, que duram mais que a morte. Engano meu. Era um espinho rútilo, que me atravessou o dedo, machucando fundo a carne. Ao retornar os olhos da ferida à página vi que estava grafado, como citação de outro autor e abrindo o pomo,  o verso: “ – E o poema faz-se contra o tempo e a carne.” Doida e doída verdade.Versos de outrem.
Assim entro eu no Reino da Pedra Só, onde desfruto e penso a linguagem e a poesia. Assim a gente começa a ler os poemas da Pedra Só, como outra pessoa. No discurso, nos olhos, no entendimento. Com as mãos feridas do espinho essencial e primordial do sertão, com o entendimento engolido pelos olhos, com a alma tragada pela verdade poética da escritura de um poeta tão outro, tão engendrado e engenhado de verdades e escolhas de palavra certíssimas.
Para a leitura de Pedra Só não vamos sozinhos. Um José Inácio vestido de poeta e fantasma nos dá a mão, cercado dos filhos, do rei do baião e de outros tantos fantasmas, que reconheço aos poucos, como referência textual direta ou enovelada nos versos. Eis que o poeta toma de um cavalo e depois de bebê-lo se metamorfoseia em centauro, e o Reino da Pedra Só naufraga nos mares de sangue e areia do Sertão, desenterrando um forró do sertanejo doido, um Corisco em cada metáfora-esquina, um velho Heitor na fogueira, as filhas da Memória como musas escarlates dos amores antigos e do sexo reinventado nos desejos do poeta em construção, tão moço e menino...

O Reino da Pedra Só

Em primeiro lugar, a Pedra Só. Existe mesmo uma fazenda incrustada na realidade, de nome Pedra Só, com pedras, cactáceos, algarobeiras, homens de fibra, de couro, moças de beleza indizível e sol descomunal. Para esta Pedra Só o desejo de uso de dicionários, que a gente quer conhecer, decifrar e reconhecer tudo o que do sertão nos é estranho. É possível buscar no Google Earth a localidade certeira de tal lugar, a descrição fiel da paisagem, catalogar os bois, os couros curtidos, as pedras do caminho, o céu e o homem autor da obra. Tem este último na internet e na vida nome, história, rosto, corpo, postura e registro imagético.
 Só que, desconfiamos de pronto, já que nem os Portugais de Camões e Pessoa, nem o Tejo da portuguesa literatura, foram, de fato, pátrias ou rios, por que o seriam o poeta e a Pedra Só? Portugais e Tejos nunca existiram ao migrar para a o universo da literatura. Sempre foram lugares para desejo de abstração do lugar, desejo de língua e reinvenção da língua, a pátria que virou linguagens. Portugais e Tejos sempre foram maiores e melhores que o frágil conceito geográfico de lugar, migraram para ícones de tantos graus, foram roubados pelas palavras, reescritos, rasgados, queimados, recriados, uma fleuma flama fora dos narcisos e do espelho. Assim são os cenários da literatura, espaços muito maiores, onde sempre viveram o desejo de pátria e de língua, o desejo hediondo de representação da memória, o cuidado e o amor a eles, tamanhos estes desejos. É deste esforço de transformar e transmutar tudo, como na morte e na alquimia, e depois delas, que o poeta centauro nos leva para a Pedra Só, espaço original e primordial de vivências, metáforas, poesia, amores, dores, perdas, encontros, reminiscências e alquimia de vida em verso.
Assim é a Pedra Só: um não-lugar, um anti-lugar, onde a anti-matéria é um recriadíssimo sertão mnemônico que se desvencilhou dos sertões tão certos, referenciais e cartesianos, evadindo-se de lugares geográficos do planeta para o refúgio nas metáforas-pedras do meio do caminho dos olhos e da sensibilidade deste centauro, que nos guia de mãos dadas com a poesia e por ela.
 Na Pedra Só a gente entra pelas raízes do grande sertão aéreo recriado pela linguagem, pelos céus profundos e áridos da poesia. Estamos nos embrenhando e emaranhando na escritura da palavra poética que, num labirinto de metáforas, de imagens, de recursos estéticos, de figuras, de estilo, de métrica, harmonia, ritmo e canto lavram a rede onde pisamos. Ou ainda, lavam de pó a urdidura e a trama na qual acreditamos pisar, e que é solo, sol, teto e pedra só.  Pedra Só.
Tudo nesse universo imaginário é invenção e personificação: bois mugem solidões, sabores se estendem em varas,  a fazenda real sucumbe à invenção do poeta cavaleiro da solidão, deslumbrado de si e do mundo: ele agora se desfunde ao cavalo, é homem áspero e bravio, é estudioso da língua e da cultura. Depois se refunde e retorna o centauro, a se embaralhar nas memórias, na reinvenção do sertão com a boca do tempo a engolir tudo: as mais antigas lembranças, a saudade e a dor do vivido, a perda e o reencontro da essência mesmo do que, no homem, só pode ser grafado em escritura pelo centauro ou cantado em aboio pelo poeta.
 A gente adentra esta Pedra Só atravessando junto com a boiada as Sete Portas de Tebas, refazendo o caminho da criação. No princípio não era o verbo, era o berro do poeta menino, afogado de desejos, rancores, amores, metáforas arrancadas da terra e do céu como tubérculos ou estrelas. O menino cresce em linguagem e estilo, recupera os signos do passado. A semiótica de sua história se inventa e reinventa incessante na mente, incessantemente. O poeta e a poesia sobrevivem ao tempo, à morte de si mesmos, ao esquecimento do que lhes era próprio. Emerge a paisagem e a Pedra Só se muta em poeta e poesia. A gente sente a paisagem deste menino já velho, vestido de poeta, ir se metamorfoseando em palavra poética e verso branco ou de cor. O lugar abstrato do verso é, em carne e espírito, o sertão bíblico, o maná que emana da vegetação e alimenta o pão da poesia.
Ao lado deste menino velho e gasto surgem, em visita a esta Pedra Só linguística, outros tantos meninos gastos e velhos da mitologia ou da literatura: Homero vem a cavalo e singra os mares da imaginação e a Pedra Só é a Ilíada e Odisséia de ícones poéticos, é a Ítaca onde pisamos os sonhos e a imaginação de salmos escritos em palimpsestos , que são curtidos em peles de cabras, ovelhas e bodes do sertão. A poesia é filha das memórias do Velho Testamento, faz o poeta engendrar  o Novíssimo Testamento de si, arrancando signos da memória, lugar em que brilham pastores, vacas, sanfonas, fogueiras, amores, secas, afetos e desafetos. Mas a mesma Pedra Só é também a Eneida e Heitor incendeia a fogueira que ilumina a razão do poeta centauro, e nascem dali a Tróia e seu Aquiles herói, a brilhar nos olhos da criança de ouro, outra, que o poeta reinventa na cara de Deus e batiza como face amorosa de seu filho, de seu avô, de seu pai.

O poeta José Inácio com seus filhos, Moisés e Gabriel, cavalgando na Pedra Só

Tudo agora é um baú de ossos e de versos, morre glorioso o passado que renasce sob forma de poemas que morrem de novo na escrita, que outra vez renasce na leitura dos versos e assim, nesta sucessão infinita de gêneses e mortes, gesta a escritura do livro: tecido por formigas, sussurrado pelas éguas do vento, escriturado pela tinta de bois decapitados, o sertão como o início, o enigma primordial, a pedra filosofal da origem de tudo. Nada pode ser evitado, tudo urge ser vivido: a urgência da poesia maior que a da vida. Parodiando o não tão velho Ferreira, a poesia de JIVM existe porque a vida não basta.
A gente evolui nas mãos do poeta e o centauro esconde as patas: não tem mais mãos ou patas, o que a gente segura é um mandacaru, os espinhos dos vivos e dos mortos, os amores sofridos e extáticos da adolescência, os frutos da maturidade, o pasmo essencial do cristal das palavras, o pasmo original dos olhos comedores de mundo do homem. O poeta agora é templo do tempo, revela o seu manancial humano e limítrofe, dança como o Rei Davi, salga a carne e convida para o graal da poesia. A gente se rende a esta santa ceia cósmica e universal no fundo do quintal. Para quem bebe em grande taça e furta ciente do copo dos outros, há um graal posto à mesa do poeta: para todos. Estão convidados para esta vasta refeição poética os olhos e o entendimento de todas as gentes, da mais culta à mais pueril, da mais anciã à mais rebenta. Nesta mesa sagrada de escritura poética estão os mais perfeitos arranjos e arranhos da metáfora, da comparação, da analogia quase tátil dos versos. Chegam vestidos de sertanejos os filósofos pré-socráticos, os arquétipos da civilização, os registros míticos do pensamento ocidental, os alemães e sua filosofia duríssima, os salmistas e os apóstolos com sede, o Jokerman Dylan, Luiz Gonzaga e um índio da Judéia brincando de Deus, terrível e infalível como João Cabral. A besta e os cavaleiros do apocalipse absentem a modernidade, Ulisses engole a boca da noite, Teseu  encarna o minotauro e, distraído, vence a semântica e a semiótica nos labirintos da memória do poeta. Narciso olha o espelho do graal e perde o próprio rosto, emerge um Duíno Selvagem, desembestado de dores e amores, que  reveste a couraça do poeta e encarna o próprio Héracles, comedor de virgens metáforas. Aportam os amigos, os parentes, a família, os poetas nordestinos, a literatura baiana antiga e a contemporânea, a literatura das literaturas, os clássicos, os inclassificáveis, os entes Ricardo, Vítor, Moisés, Damião, Pedros (quem pode colher todas as referências como flores?), Elizeu, Mariana, Cecília, Leonardo, as armas e os brasões assinalados da Bahia, das Alagoas, das Mauritânias. Da orla mediterrânea surge uma Ouro Preto de Drummonds, rubis, rebus, meninas de luz. As metáforas se ajeitam à mesa como pérolas da alma, as escolhas de palavras perfeitas, como diamantes barrocos e safiras persas. A gente come, bebe, dorme, acorda, traga e traça poesia, os versos a nos fazer lírios de água nos olhos e não simples narcisos... Já é Páscoa nas cigarras e crianças e Cristo chove o sertão. Grilos deglutem o tempo, meninos reinventam mitologias, Moisés e Gabriel reinauguram o Cosmos no Sertão. O homem retorna e dá uma resposta para a cara de Deus e o tempo: Gratidão. Beethoven é todo ouvidos e abre a porta dos sonhos do que é o esforço de cognição da língua, fruição da poesia, da linguagem dela. Nasce a sinfonia do que é dizível e indizível, do que só pode ser sonhado ou aboiado: o encontro do literato ao que se sonha literário. O pão da poesia está servido: cachorros ganem novas parábolas, o graal transborda. A gente dança com rapsódias, argonautas, titãs, espinhos, estrelas, réquiens e missais, arqueiros lexicais, sangue e sombra purificam a unidade do homem. O castelo do mistério do mundo nas mãos, nas mandalas, no sangue, na plumagem do Pavão Mysteriozo, nas vigílias totêmicas do espanto. A gente se rende a estas caligrafias de um renascituro José Inácio, com seu graal infinito de pasmos e gozos do que é o ser, o tempo, o real, o mundo, a Poesia. É hora de regar com o vinho e o silêncio a rendição à Poesia, à vertigem dela, à ilusão do mundo pelas (das) palavras, já que todo o caminho é irreversível. E JIVM, o  Poeta, quebra todos os espelhos, pisa os narcisos, e nos brinda com as tais metalinguagens do canto poético. A gente aporta ao final da ceia profana e sagrada como uma caixa de Pandora aberta ao entendimento, aos olhos já vazados pelos espinhos que antes feriram apenas as mãos. Quão Poesia é esta, que  nos embriaga com a areia e o sangue de todos os fantasmas e demônios, de todos os querubins e argônios, de toda a ciência da palavra que só pode ser vivida a olho nu, sob o sol do sertão e aboiada como o mais gutural e eloquente dos poemas do homem... Eis um poeta que encosta e se recosta no que, para Heidegger, era a condenação do próprio homem: ser é ser as próprias possibilidades: é fazer-se ser. Assim a gente sai da santa ceia Poesia, com o enorme graal nas mãos, para além das possibilidades do ser, transfigurados em palavra poética, metamorfoseados em linguagem, contaminados viral e letalmente de Vida e Poesia.
Deito de lado o livro, deito ao lado a vida. As minhas mãos agora são mandacarus do sertão, as gentes se foram, adormeceram quando fechei o livro, que agora vibra, pulsa, respira e aguarda outros olhares e outras leituras.  O meu neto ri e pega o volume. Livro vovó, poesia vovó, espinho vovó, e não há dicionários de símbolos ou signos, nem dicionários de mitologias ou a caixa Google de pesquisa: a viagem poética dele é o livro, o retângulo de papel, o prisma de idéia ou cor. Azul, vovó. Céu, vovó, e começo a ouvir dele, segurando o Pedra Só, seu primeiro poema sujo. Sem espelhos e narcisos, só com a boca, a carne e o tempo. Que assim seja a leitura do Pedra Só nos olhos dos outros...
Tenho quarenta e nove anos, o meu neto tem dois. Lemos agora, juntos, o Pedra Só. Juntos gostamos muito da poesia de José Inácio Vieira de Melo e com ela aprendemos um pouco mais longe.

Denise Almeida é poeta e ensaísta, graduada em Letras pela UFMG, e docente livre na rede estadual de Minas Gerais. E-mail: dedealmeida2009@hotmail.com

Ensaio publicado originalmente no Portal Cronópios (www.cronopios.com.br), em 5 de março de 2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

13ª SEMANA DE POESIA DO MORRO DE SÃO PAULO


13ª Semana de Poesia do Morro de São Paulo
(De 8 a 14 de março de 2013, na Praça do Artesanato)
Coordenação: Ângela Toledo
                             
PROGRAMAÇÃO COMPLETA:
08/03 – SEXTA-FEIRA : Dia Internacional da Mulher
14:00Hs - Oficina de  reciclagem para confecção de Máscaras
18:00Hs - Ciranda da Mulher-Menina/Entrega de certificados às Mulheres de Honra
20:00Hs - Prosa com o Poeta, convidada: Celeste Martinez (Valença)
21:00Hs – Sarau/palco  livre.         
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09/03 – SÁBADO
14:00Hs – Oficina de Cordel  com Antonio Carlos de Oliveira Barreto
18:00Hs – Apresentação dos trabalhos da biblioteca comunitária (Neli)
20:00Hs – Prosa com o Poeta, convidados: Antônio Barreto e Elizeu Moreira Paranaguá
20:40Hs – Recital: “O cordel de Barreto e a metafísica de Elizeu”
21:10Hs – Sarau/palco livre.
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 10/03 – DOMINGO
14:00Hs – Oficina de reciclagem para confecção de instrumentos musicais.
18:00Hs – Ciranda de Leitura para crianças com Rosemar
20:00Hs – Prosa com o Poeta , convidado: José Inácio Vieira de Melo
20:30Hs  - Recital “Os aboios e as parábolas da Pedra Só”, com JIVM
20: 50Hs – Lançamento do livro “Pedra Só” de José Inácio V. de Melo
21:10Hs – Sarau/palco livre
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11/03 – SEGUNDA-FEIRA
14:00Hs – Oficina de poesia com o poeta José Inácio Vieira de Melo
18:00Hs – Ciranda de leitura para crianças (Biblioteca, COM Neli e Rosemar)
20:00s – Prosa com o Poeta convidada: Amália Grimaldi
21:00Hs – Sarau/Palco livre
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12/03 – TERÇA-FEIRA
14:00Hs – Oficina de Reciclagem com o “Ateliê Mãos de Luz”
18:00Hs – Colégio Nossa Senhora da Luz, com Edson Mendes
20:00Hs – Prosa com o Poeta, convidada: Núbia Paiva.
21:00Hs – Sarau/Palco livre
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13/03 – QUARTA-FEIRA
14:00Hs – Oficina de poesia com Núbia Paiva
18:00Hs – Biblioteca Comunitária e Ciranda de leitura para crianças.
20:00Hs – Prosa com o Poeta,convidada: Ângela Toledo e Lázaro Lopez.
21:00Hs – Sarau/palco livre.
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14/03 – QUINTA-FEIRA (Aniversário do Poeta Castro Alves de Dia Nacional da Poesia)
14:00Hs – Oficina Geral Resgate da Mémoria Popular (Cirandas ,cânticos,ditos)
18:00Hs – Apresentação do Grupo Kilombolas “Os Versos da Capoeira”, Mestre Carlito Santos.
20:00Hs – Recital de poemas de Antônio Frederico de Castro Alves,com BillY Well.
21:00Hs – sarau/palco livre – Fechamento da 13ª Semana de Poesia com entrega de certificado aos Cavalheiros de Honra de M.S.P.
  
Obs.: As oficinas serão realizadas no salão da Igreja Matriz Nossa Senhora da Luz e as apresentações na praça principal. Itens sujeitos a alterações.


sábado, 2 de março de 2013

A FOLHA E O ESPINHO NA POESIA DE JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO


Por Ronaldo Correia de Brito

 Ilustração: Juraci Dórea
"O espinho e a folha como símbolos da poesia de José Inácio: lirismo e sobrevivência, beleza e alimento " 

José Inácio Vieira de Melo me deu seu livro Pedra Só com duas lembranças da fazenda onde ele se esconde: um espinho de mandacaru e uma folha de algarobeira. Servindo de marcadores entre as páginas e os poemas, interpretei o espinho e a folha como símbolos da poesia de José Inácio: lirismo e sobrevivência, beleza e alimento.
Uma vez por ano, na paisagem nordestina, o mandacaru se cobre de flores brancas, que exalam perfume embriagador e duram apenas uma noite. Abrem quando o sol se põe e mal o dia começa a clarear elas murcham. Parece a representação do fugaz. As longas pétalas e sépalas expõem a sexualidade floral do androceu e gineceu, celebram núpcias de algumas horas e depois se fecham e morrem. Uma floração passageira, diferente do mandacaru que teima em sobreviver ao estio, por anos e anos.
O cardeiro plantado na fazenda Pedra Só lembra a poesia de José Inácio. Mas os versos se espraiam bem além das antíteses entre espinho e flor, acutilada e afago, devassidão e ascese.

“Na Pedra Só,
as formigas tecem as escrituras
no abismo da noite tão enorme
e o espantalho veste a seda do orvalho
para receber de braços abertos,
o sabor das auroras, o sagrado”.

Zé Inácio não traçou meu roteiro de leitura. O livro abundante em memórias de gregos não possui um fio de Ariadne. O poeta não me revelou nada além da poesia e seus signos, de um espinho e uma folha, plantados como enigmas em meio às páginas. 
Ao acaso descubro na página 21 a folha da árvore mágica sertaneja, a algarobeira, “sempre verde ao chão vermelho, floreando mel sobre o voo das abelhas, poleiro das galinhas e das estrelas, maná de vagens amarelas, santa, santa, santa...”.  Zé Inácio compôs para a árvore santificada uma litania de ecos, sons nutrizes como os frutos da algaroba, poesia alimento, concreta, antítese do efêmero representado pela flor do cardeiro.
À sombra da árvore onde descansam cavalos, e cabras mitigam a fome, e agrônomos se queixam das raízes que chupam a água do solo e o empobrecem, e professores distribuem rações de sementes como se fossem chocolates aos alunos, e cães cochilam esquecidos, ali, resguardado à sombra, o poeta pensa em mulheres e sexo.

“Incrustadas por brasas aflitas
as fêmeas se enlaçam aos machos
e afloram gerações e gerações
           para desfolhar as pedras de Deus”.

E chegam para visitá-lo os poetas que o acompanham no exercício de sentir o mundo, a corporação de ofício de que fazem parte Ruy Espinheira Filho, Francisco Carvalho, Gerardo Mello Mourão, Florisvaldo Mattos, Mariana Ianelli, Bob Dylan e tantos outros danados, porque Zé Inácio nunca fica sozinho, o exercício da poesia é para ele o encontro com pessoas e música, para ouvi-las e pedir que escutem seus aboios. Também chegam os filhos Carlos Moisés e Gabriel Inácio, os compadres Gabriel Gomes e Ricardo Prado, o pai mandando por fogo na mata, o vento da Ribeira do Traipu e a madrugada sertaneja, vozes secas, aboio livre, outono e chuva de Páscoa. Chegam excitados e solenes e sentam enquanto esperam o banquete de poesia que será servido nas páginas de Pedra Só.

“Só tua boca pode receber este mel
e conhecer as liturgias das areias
e saborear o sangue das origens
           no cálice que transborda nesta mesa”. 

Ronaldo Correia de Brito é dramaturgo, contista, romancista, documentarista, médico e psicanalista. É autor dos livros de contos Faca, Livro dos homens e Retratos imorais, além dos romances Galileia e Estive lá fora.

Artigo publicado no Jornal A Tarde, no Caderno +2, na página 3, em Salvador-BA, em 2/3/2013